As despedidas

O que mais sinto falta da Vila Mariana dos meus tempos de menino são o respeito e a solidariedade que existiam na vizinhança. Lembro-me que quando um italiano da comunidade falecia, o comércio fechava. A família desligava o fogão e durante uma semana a vizinhança se encarregava de suas refeições. O velório era em casa com a presença de todos os amigos que “rezavam” o corpo. A casa ficava toda enfeitada com coroas de flores e na hora do enterro eram necessários dois carros para carregá-las ao cemitério.

Uma banda de música acompanhava o enterro, todos fechavam suas portas em sinal de luto. O féretro era puxado a cavalo. Depois do enterro, toda a comunidade ia “beber o morto”. Tomavam vinho em sua homenagem. Neste dia, todos chegavam bêbados. A viúva fechava-se em luto por toda a vida.

Tenho em mente uma passagem engraçada: uma família tradicional do bairro tinha um irmão meio abobado. No dia em que o pai morreu, ele disse para os parentes, animado: essa semana vamos comer bem!