Parte da História

A novela Ciranda de Pedra, que estreiou no início de maio, mostrou o glamour e a ascensão da Vila Mariana em 1958. Uma cidade cenográfica foi construída para, com fidelidade, retratar as ruas e casarões do bairro. Nossas memórias poderão ser conhecidas e o jornal Pedaço da Vila teve uma pequena participação nesta história!

Inspirada na obra homônima de Lygia Fagundes Telles, ambientada originalmente em 1947, a novela ganha um remake da adaptação feita em 1981: “É completamente diferente da que o Teixeira Filho fez, tanto que mudei a história para 1958”, adianta o autor Alcides Nogueira, que desde pequeno convive com o bairro. “Minha avó morou durante muitos anos perto do Pasteur e eu costumava passar férias prolongadas aqui em São Paulo, na casa dela. Depois, quando vim fazer a Faculdade São Francisco, morei na rua Coronel Lisboa durante um bom tempo, até ir para a Maria Antônia”, informa com exclusividade o autor ao Pedaço da Vila.

Ciranda de Pedra conta a história de duas mulheres, a matriarca Laura (Ana Paula Arósio), e a filha caçula Virgina (Tammy Di Calafiori). Laura vive um triângulo amoroso com Natércio (Daniel Dantas) e Daniel (Marcello Antony). O casamento com Natércio começa a falir por conta da ambição do advogado, que dedica mais tempo ao trabalho que à família. A mulher reage mal ao desprezo, passa a dar sinais de depressão e é tratada como louca em casa e na vizinhança.

É então que se envolve com o médico Daniel. O romance resulta na gravidez de Virginia. Para evitar um escândalo, o patriarca assume a criança e a obriga a romper com o amante. Dezoito anos se passam. Virgina se torna uma bela moça e tem uma intimidade incomum com a mãe, o que incomoda Natércio e as irmãs.

“A novela tem dois núcleos de sustentação”, adianta Alcides: o Jardim Europa, onde vive a família Prado e a Vila Mariana, onde vive Daniel (Marcello Antony), e onde se passará grande parte da ação”.

Já foram feitas muitas gravações na Vila: rua Berta, Instituto Biológico, partes da Domingos de Moraes… “Tudo isso receberá um tratamento visual para que ‘fique’ como em 1958, com as fachadas originais”, ressalta Alcides. Outro local importante na obra é o Largo Ana Rosa. “Cine Cruzeiro, Fênix, Sabará… Belas saudades!”, recorda com nostalgia.

As gravações começaram há cerca de 1 mês. Ana Paula, Tammy, Antony e Cléo Pires estiveram no Parque Ibirapuera para rodar seqüências dos primeiros capítulos. Durante toda a trama, uma parte das cenas será feita na cidade e a outra, na cidade cenográfica do Projac.

Para se ter uma idéia da importância da Vila Mariana na história, foi construída na cidade cenográfica um trecho que reproduz, segundo o autor “com bastante fidelidade”, parte do bairro. “No livro da Lygia, ela apenas cita a Vila Mariana como o lugar onde Daniel mora. Mas eu criei núcleos de moradores. Teremos um grêmio, como aquele antigo clube, na esquina da Domingos com a Sena Madureira. O grêmio é um clube animado, onde, já no início da novela, acontecerá o concurso de miss suéter, tão em voga na época”, conta o autor.

Ao contrário do Jardim Europa, que mostrará a cidade de São Paulo quase que estagnada no tempo, a Vila Mariana representará o crescimento da cidade que, naquele ano, já contava com dois milhões de habitantes e era a décima do mundo. “O que é bonito para a história, é que a Vila Mariana já era um bairro de classe média em ascensão, embora guardando resquícios de sua formação”, explica.

No começo de outubro de 2007, a redação do Pedaço da Vila recebeu um e-mail de Giovana Manfredi, que trabalha na área de pesquisa e conteúdo da DRA – Diretoria de Recursos Artísticos, que dá apoio à criação em teledramaturgia da TV Globo: “Nossas pesquisas partem das necessidades dos autores. Neste caso, a sinopse de Alcides Nogueira indicava a Vila Mariana, que era central na trama e o jornal foi uma das principais referências”, conta Giovana, que ao pesquisar a Vila Mariana encontrou nosso site. Mais tarde, veio do Rio de Janeiro para conhecer o bairro e pesquisar toda coleção do jornal – levada para Alcides Nogueira.

Giovana gravou depoimentos, filmou os casarios, conheceu o Instituto Biológico, a Cinemateca Brasileira (antigo Matadouro Municipal), as vilas e ficou encantada com o bairro. “O jornal apresenta um ótimo perfil do bairro e nos deu excelentes referências, além, é claro, de todo o conteúdo histórico, a parte que mais me encantou. O acesso aos exemplares foi essencial neste início do processo de pesquisa!”.

Mais tarde, um novo contato. Desta vez uma pesquisadora ligada ao departamento de produção, Lyara Oliveira. Ela solicitou uma visita à redação para um bate-papo e pesquisou todo acervo do Pedaço da Vila. Percorreu os mesmos caminhos mostrados anteriormente à Giovana, fez muitas fotos, gravou os arquivos do jornal relacionados a memórias do bairro e voltou guarnecida para o Rio de Janeiro.

De acordo com Alcides Nogueira – que conta com a ajuda do co-autor, Mario Teixeira, e de dois colaboradores, Lúcio Manfredi e Rodrigo Amaral -, a novela precisa estar respaldada em uma pesquisa séria. “Mesmo sendo ficção, a trama está inserida em um determinado momento histórico, que deve ser mostrado com fidelidade”, explica.

Embora a novela só comece em 5 de maio, a partir deste mês, grande parte da programação da Globo estará voltada à Vila Mariana. O Vídeo Show, por exemplo, levou a jovem atriz carioca, Tammy Di Calafiori para conhecer o bairro. Ela passeou pela vizinhança e ficou encantada com o Instituto Biológico. Foi entrevistada em seu cafezal e duvidou quando a apresentadora Sara disse que eles estavam há apenas 5 minutos da av. Paulista. O programa está previsto para ir ao ar dias antes do lançamento da trama.

O autor está muito feliz com o resultado até agora: “Estou impressionado com a criatividade e a força de trabalho de toda equipe. A novela está sendo implantada com muito cuidado, com carinho, com inteligência”, diz. Com direção-geral de Carlos Araújo e sob responsabilidade da diretora de núcleo Denise Saraceni e com direção de produção de Alexandre Ishikawa, Ciranda de Pedra promete mostrar o glamour de uma Vila Mariana dos velhos tempos: “Com muito charme e movimento. A Vila Mariana tem um lugar muito especial nas minhas memórias paulistanas”, confessa Alcides Nogueira.

Edição 71 – Abr/2008

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