Da Colônia à República da Vila
Depois de 1 ano e 3 meses, o documentário que conta a história do bairro da Vila Mariana foi finalizado. Um trabalho que contou com muitas entrevistas, pesquisas, parcerias e que só foi possível graças a colaboração da vizinhança!
A história da Vila Mariana contada desde os tempos dos bandeirantes até a formação do bairro que conhecemos atualmente é o mote do documentário “Vila Mariana – De Colônia à Republica da Vila”, finalizado em março último. Contemplado na 2a edição de um concurso realizado pela Secretária Municipal de Cultura, que visa revelar materiais que contêm a história, geografia humana e física de várias regiões da cidade, o documentário prima pela riqueza de fotos e informações inéditas.
A ideia surgiu quando nossa editora Denise Delfim foi apresentada por um amigo em comum ao produtor e diretor Daniel Solá Santiago, que já havia participado da primeira edição do concurso, em 2006, com o documentário Distrito de Brasilândia e Suas Histórias. Durante a conversa, Denise falou sobre o trabalho de memória oral que realizava com os moradores da Vila Mariana e sobre o rico acervo que adquiriu nos mais de 7 anos de Pedaço da Vila.
Como o bairro da Vila Mariana não havia sido documentado na primeira edição, o projeto foi realizado a quatro mãos com a ajuda da historiadora Sênia Bastos e já dava sinal de que seria vitorioso: “O edital pedia um arquiteto urbanista e falei para o Daniel que poderíamos convidar Paulo Bastos, o responsável pelo projeto de restauro do Instituto Biológico”. E qual não foi a nossa surpresa quando o produtor contou que Paulo Bastos era um grande amigo seu e que o escritório do arquiteto era no mesmo prédio em que ele morava: “Achei uma enorme coincidência e um presságio favorável de que seríamos contemplados”, ressalta Denise. “Enviamos nosso projeto para secretaria no final de 2007 e no começo do ano passado foi liberada a verba para a produção”, conta Daniel.
Ao longo de um ano e três meses de trabalho foram realizadas dez entrevistas e diversas imagens de vários pontos do bairro: “Fizemos uma pré-escolha das pessoas que falariam e o tema que cada uma poderia abordar. Foram indicações precisas, de personagens que tinham muita coisa boa para nos contar”, revela.
Entre os principais nomes que contribuíram para o documentário estão a neta de Manequinho Lopes, que disponibilizou diversos materiais com os quais foi possível refazer a história do Viveiro, e a neta do senador Freitas Valle, grande mecenas, proprietário da Villa Kyrial, que ficava na rua Domingos de Moraes, 300, que contribuiu para a arte paulista no século XX.
Todas as matérias de memória publicadas pelo jornal Pedaço da Vila e algumas outras que estavam guardadas para futuras edições foram repassadas para a equipe de produção. A reportagem da família Kullmann, por exemplo, estava programada para sair em 2009, e foi disponibilizada e explorada no documentário, que contou inclusive com a participação de Adozinda Kullmann, neta do engenheiro Alberto Kullmann, responsável pela construção das linhas férreas que ligavam a Vila a Santo Amaro: “A procura por informações históricas nos órgãos públicos não trouxe muitos resultados. Posso dizer que o material oferecido pelo jornal foi fundamental para conhecer detalhes de vários aspectos e de figuras importantes do bairro”.
As parcerias com diversas instituições da Vila Mariana, como o Instituto Biológico e o Belas Artes, foram marcantes na elaboração do material: “Esse documentário é a soma de diversas contribuições. Se as instituições não fossem tão generosas e receptivas seria impossível seguir adiante”, confessa Daniel.
Durante os 26 minutos de documentário é possível entender a ligação que existe entre o crescimento da Vila Mariana e a sobreposição dos caminhos: “Essa relação foi uma das diretrizes do projeto. Existe um traçado na Vila Mariana que é utilizado desde os tempos do Brasil Colônia até hoje. Começou a ser usado pelos carros de boi, depois pelas linhas férreas, pelos bondes e, com o asfaltamento de vias públicas, pelos automóveis. O metrô também se aproveitou desse traçado original. Detalhes sobre a história da construção do Matadouro e de sua importância para a chegada dos imigrantes italianos, colonizadores do bairro, foi contada pelo Ministro da República de Vila Mariana, Carlino Nastari.
Retrata-se ainda a Vila Kyrial, o surgimento do Instituto Biológico como possível solução para acabar com a praga da broca e a criação do Parque Ibirapuera: “A ideia é mostrar dois séculos de existência da Vila Mariana, explorando seu nascimento, desenvolvimento, suas instituições, estrutura arquitetônica e paisagística, seus movimentos artísticos e, principalmente, os esforços de preservação do bairro por parte de seus moradores. A alma da obra”, diz o produtor.
Carlino Nastari, que já teve suas memórias publicadas nas primeiras edições do Pedaço da Vila, foi quem contou sobre a chegada dos italianos a São Paulo e deu detalhes sobre a modernização que o bairro sofreu com a chegada dos chamados bondes-camarão, responsáveis pelo trajeto do Largo Ana Rosa até Santo Amaro.
Márcia Camargos, autora do livro Villa Kyrial e grande pesquisadora do mecenas Freitas Valle, disponibilizou todo seu material de arquivo. O professor de Arquitetura do Unicentro Belas Artes de São Paulo, Ademir Pereira, falou sobre a arquitetura Modernista, que ganhou destaque especial com as lembranças de Gregori Warchavchick.
O Belas Artes foi responsável pela parceria na edição , computação gráfica e finalização do documentário. Tetsuo Segui, amigo e grande colaborador do Pedaço da Vila com suas fotos maravilhosas da região, abriu seu acervo e sua contribuição pode ser vista já na capa do DVD.
Além dos nomes já citados, também colaboraram de forma especial para a concretização da obra, a pesquisadora científica Márcia Rebouças, moradora do bairro e responsável pelas memórias do Instituto Biológico, o maestro Samuel Kerr, que ano passado pesquisou as sonoridades da Vila Mariana para realizar no Sesc VM a palestra “O canto coral e a memória das comunidades” e Vicente Miceli, neto do editor de um antigo jornal do bairro, entre outros.
O envolvimento intenso com a Vila Mariana e as experiências e conhecimentos adquiridos ao longo de todo o processo, marcaram de forma positiva o cineasta: “Eu conheço essa região desde a década de 70, época que vinha visitar um amigo morador do pedaço. Sempre achei a Vila Mariana uma cidade do interior dentro da própria capital. É um lugar arborizado, onde as pessoas andam pelas ruas e se conhecem. Enfim, um lugar agradável com ótima qualidade de vida e com moradores que amam seu bairro e lutam para preservá-lo. Adorei fazer esse documentário”.
O jornal Pedaço da Vila aguarda uma autorização da Secretaria Municipal de Cultura para promover, no Instituto Biológico, uma sessão do documentário para a comunidade: Aguardem a próxima edição!