Viagem sob Tensão
Acabei de chegar de uma viagem a Israel e o que mais me impressionou foi a cultura de hostilidade entre israelenses e palestinos. Até então conhecia a história, lia noticiários, mas só estando lá dá para perceber a pressão de viver ao lado de inimigos milenares.
Antes mesmo de embarcar em Tel Aviv, no aeroporto de Milão, você já sente o clima de tensão. Quem viaja para Israel, obrigatoriamente pela estatal El Al, tem tratamento totalmente diferenciado e o controle de imigração é feito em solo estrangeiro: o check-in é realizado em local exclusivo e antes mesmo de chegar ao balcão, você já passa por uma triagem. São várias as perguntas – se você é árabe, qual motivo da viagem etc. etc. etc. – e daí em diante você passa a conviver com guardas e armas por todos os lados.
Tel Aviv é verde e bonita. A cidade é igual às mais modernas da Europa, as pessoas são lindas, bem vestidas, viajadas e multiculturais – é normal falarem várias línguas. Mesmo assim não há disfarces para o clima de tensão.
Pegamos a estrada para Jerusalém, na Cijordânia, toda margeada por um imenso muro, que separa os israelenses dos palestinos. O lado israelense mais parece a Bélgica, o outro, palestino, o Vale do Jequitinhonha. De repente, um assentamento israelense: verde, próspero, abrigando grandes e belas moradias. São oásis entre miseráveis e desérticas vilas palestinas. Em toda estrada, policiais prontos a fazer uma blitz – é comum você ser parado, revistado sob à mira uma de metralhadora na cara.
Jerusalém é maravilhosa, com sua fachada uniforme, toda construída com as mesmas pedras. Mas é só andar nas ruas e ver que por detrás da arquitetura antiga, existem bares, pubs, lojas…. Lugares onde rolam bebida, música e muita diversão – em todos, seguranças que revistam as pessoas ao entrar. Notei a quantidade de armas usadas pela população – que é obrigada a prestar serviço militar. Ao lado de nossa mesa, quatro jovens se divertiam com uma metralhadora nas costas! Você acha estranho, entretanto para os israelenses tudo é muito normal.
Em Jerusalém Velha, protegida pela muralha construída e destruída tantas vezes através da história, você se sente no epicentro da Terra. Eu que não sou muito ligado nessas coisas de energia, pude sentir uma coisa estranha ao visitar o Santo Sepulcro, uma igreja simples, pequena e sombria, com uma simbologia inversa à proporção de seu significado.
Em Jerusalém Velha se concentra toda a história da humanidade ocidental. No quase um quilometro quadrado está o berço do Cristianismo, onde Jesus foi sepultado; do Judaísmo, onde era o templo de Salomão – e onde hoje está uma mesquita; e também é onde está a terceira cidade mais importante do Islamismo – local onde Maomé ascendeu ao céu. Três santuários das três religiões monoteístas: o Muro das Lamentações, a Igreja do Santo Sepulcro e a Cúpula da Rocha.
Próximo passeio: Belém – a 10 minutos do centro de Jerusalém. Uma cidade palestina, onde é proibida a entrada de carros e israelenses. Entre as cidades, há um “Muro de Berlim” e para atravessá-lo você passa por um severo controle de fronteira, cheia de arame farpado e vidro à prova de balas. A cidade é uma pobreza só, repleta de mendigos. Passeamos pela Igreja da Natividade e pelo Mosteiro de Marçala – mas isto são histórias para as próximas edições.
Desta vez quero apenas passar a experiência de viajar para uma região dividida, onde seres humanos alimentam um ódio simbiótico e vivem permanentemente em estado de alerta. Por ser um ambiente hostil, não recomendo o destino para um turista de primeira viagem. Conhecer Israel, requer uma certa experiência …