Pelos Caminhos Celtas

Numa viagem que fiz recentemente à Europa, tive oportunidade de visitar o Norte da França, tão pouco conhecido dos turistas brasileiros. A província da Bretanha, bem no Noroeste do país, fica entre o Canal da Mancha e o Oceano Atlântico. Sua origem perde-se na bruma dos tempos, mas tudo leva a crer que as suas raízes estão fincadas bem longe, no povo celta, que se acredita terem constituído uma civilização bastante adiantada.

A época mais antiga de que se tem conhecimento dos celtas na história data de três mil anos antes de Cristo, quando um filósofo grego se referiu a esse povo como habitante do centro da Europa, na região onde hoje se situa a Áustria. Dali se expandiram para a Península Ibérica formando os celtiberos. Outras tribos foram para o espaço onde hoje fica o Reino Unido e ali se fixaram. Mas uma parte atravessou o canal e ali permaneceu, numa área hoje francesa e à qual chamaram de pequena Bretanha. Com o tempo, ficou apenas Bretanha, que até o século XV foi independente. Mas foi do século IX ao XII que a sua cultura se radicou na região, trazendo até o presente o seu estilo de construção, com traços medievais, pedra rústica e telhados negros de ardósia, com as tradições e a música nitidamente de origem celta.

Suas cidades principais, como Nantes, Rennes, Saint-Malo e Loire, têm quintais floridos, ruelas estreitas e sinuosas, casas de tabique centenárias equilibrando-se pelas colinas. Em alguns lugares ainda se fala o celta, e o seu povo tem orgulho da sua origem, da civilização megalítica de dólmens, da dança de sapateado e dos violinos que gemem pela noite afora, num lamento, como que recordando os gloriosos e heroicos tempos idos.

Em algumas localidades, as construções de tabiques são centenárias e desafiam o alinhamento do

prumo, com suas madeiras cruzadas e arremate de barro, tudo isso numa harmonia que impressiona.

Seguindo um pouco mais para o Norte, entre Saint-Malo e Rouen, surge a região da Normandia, cujas praias foram palco do desembarque dos aliados durante a II Guerra Mundial e que deu início a uma operação militar que levou à libertação da França e ao início da queda do nazismo. O memorial está lá como monumento vivo a recordar os horrores daquela guerra. Os canhões apodrecem enterrados na areia e os bunkers são monumentos vivos de uma época trágica que o mundo não esqueceu e se deterioram, devendo assim permanecer, intocáveis, até ao fim dos tempos.

No caminho, antes da volta a Paris, está o Monte de Saint-Michel. Uma abadia construída sobre um penedo de granito, com oitenta metros de altura, de encostas duras e abruptas que resistiram à erosão durante milênios. A construção da abadia foi inspirada pela visão de São Miguel pelo bispo de Avranches. Iniciada no ano 708, foi sendo construída lentamente, pelos séculos, até ao traçado atual. No século IX serviu de fortaleza durante a Guerra dos Cem Anos. Suas muralhas e fortificações resistiram a todos os ataques e desde essa época medieval tem servido tanto como fortificação militar quanto clausura de religiosos, aberta a peregrinações.

Em 1874 foi objeto de grandes reestruturações e desde 1979 o Monte de Saint Michel está incluído na lista do patrimônio mundial da UNESCO.

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