Caminhos Alemães
Quando fui a Berlim, no finalzinho de 2000, a cidade era um “canteiro de obras”. O que é perfeitamente explicável: o lugar estava, quase dez anos após a queda do seu muro, procurando ainda unidade e identidade uniforme em todos os seus cantos. Hoje ainda há obras na cidade. Mas Berlim é, por si só, uma obra de arte, singular e cosmopolita.
A Alemanha no inverno é linda, como nas fotos mesmo. As igrejas grandes, super antigas, com os telhados pintados de branco, muito chocolate quente, muita gente tomando chá com berliner, o doce oficial da cidade: um donut com recheio de frutas vermelhas, amarguinho. Mesmo no frio, o pessoal também não dispensava outra tradição: o bratwürzst, aquele salsichão de vitela com um pãozinho que mal dá para segurar na mão.
Naquela época, ainda dava para distinguir por alguns traços Berlim Oriental e Ocidental. Na parte da antiga URSS, a arquitetura é mais rígida, os traços mais uniformes, grandes conjuntos de prédios iguais ilustrando perfeitamente a idéia de organização totalitária. Por oposição, em Berlim Ocidental, é possível perceber que o “ocidente” realmente está lá há algum tempo. Lojas como a Kadewe [Kauhoff des Welt] são do tamanho de um shopping e lá a promessa é cumprida: você acha de tudo numa grande magazine européia. Essa loja é como a Harold´s de Londres ou a Galerie Lafayete
O alemão não é um povo amável como são italianos, portugueses ou espanhóis. Fechados, não são de muita conversa. Gostam de tudo muito organizado. Uma vez, levei uma sacolada de uma senhora dentro da Kadewe, pois estava do lado esquerdo da escada rolante – espaço lá reservado e respeitado em todas as escadas, para quem está correndo e com pressa. Se aqui se dá um jeitinho para as coisas ficarem como a gente quer, lá o jeito é respeitar as regras. Se não, corre-se o perigo de ser atacado por uma velhinha mal humorada!
Há coisas mais inusitadas ainda: não há catracas nos trens, estações de metrô e não há cobradores nos ônibus. Há máquinas em todas as estações que explicam em alemão, inglês e em outras línguas como comprar seu bilhete corretamente. Mas cuidado! Os fiscais ficam circulando e pedindo o bilhete. Se a passagem não estiver paga, é delegacia na certa!
Nas escolas públicas de Berlim (frequentei uma por um espaço curto de tempo) é tudo muito limpo e organizado. Mas não há papel higiênico no banheiro! Quem faz questão, traz de casa. Eu, bem avisada, sempre levava!
Os alemães que eu conheci abominavam café, que era considerado quase uma droga. Em compensação, davam meio litro de cerveja para uma menina de 16 anos que declarou que bebia em casa – sim, eu mesma!
Se você não fala uma palavra de alemão, não se preocupe. Nas grandes cidades alemãs, todo mundo fala inglês. Não tenha medo de perguntar “how much does it cost?” para uma velhinha em qualquer padaria. Ela, com certeza, ficará mais nervosa com você e seu livro de fonética para tentar se comunicar claramente.
Falando em língua alemã, aqui vão as dicas básicas para não ficar totalmente a parte da língua: bitte [lê-se bíte], serve tanto para por favor como para de nada. Danke [dánc] é obrigada.
Eu recomendo a Alemanha como destino na Europa para qualquer pessoa: para os apaixonados, há a rota romântica, para os amantes da velocidade existem as famosas autobahns, estradas sem limites de velocidade. Os admiradores de museus, parques e arquitetura vão se esbaldar em qualquer canto do país. Os enófilos não podem deixar de visitar a rota do vinho. Quem gosta de tecnologia e design, então, nem se fala! Enfim, vale muito a pena descobrir os caminhos alemães. Qualquer um que você pegar, vai se surpreender. Pode apostar.
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