TRABALHO – EMPREGO

O grande educador Dom Lourenço de Almeida Prado, saudoso Reitor do Colégio de São Bento do Rio de Janeiro e uma das maiores reservas morais e intelectuais da nossa Educação, destacou em um dos seus preciosos artigos, que não devemos confundir trabalho com emprego. “O objetivo do ensino é ajudar a criatura humana a atingir a sua plenitude através da cultura geral”.

Desde os tempos imperiais, um dos vícios de nosso ensino é ter em mira a busca de empregos, esvaziando-se em sua função educativa que consiste, como já dizia Francisco Campos, “precisamente, no desenvolvimento das faculdades, de apreciação, juízo e critérios essenciais a todos os ramos da atividade humana”.

Foi oportunamente lembrado que “trabalho é muito mais que emprego. Preparar para o trabalho é muito mais que preparar uma profissão”. É certo que “ninguém pode viver sem um trabalho … o verdadeiro emprego é inseparável de uma certa jubilação lúdica”. Mas o trabalho é mais do que isso. O homem está ligado ao trabalho vital e radicalmente, uma vez que, como ser livre e criativo, realiza-se pelo agir e pelo cansar. Trabalhar não é apenas meio de subsistir, mas é viver e expandir-se como pessoa.

Se as entidades de ensino superior ficarem presas exclusivamente à pesquisa sobre dificuldade para arranjar emprego, com certeza reduzirão o homem a uma peça mecânica e automática, como Carlitos nos “Tempos Modernos”, e privarão o educando do direito à expansão integral dos seus dons e faculdades.

O que nos falta para reduzir a dificuldade para arranjar emprego é, sobretudo, seriedade e simplicidade. Simplicidade principalmente, pois o pedantismo metodológico e o encantamento novidadeiro são grandes doenças que necessitam ser eliminadas junto com alguns aventureiros que também acham que resolverão a dificuldade para arranjar emprego pela simples troca do nome usual de algum curso superior por um nome que esteja na moda, supostamente nunca visto ou desconhecido, o que lhes permitirá que fiquem a vontade para voar pelo espaço do oportunismo, com propaganda enganosa na mídia.

Obter a formação no ensino superior, visando exclusivamente a garantia de emprego, colabora também de forma indireta para banalização do conhecimento através da massificação do ensino, com a desculpa que se costuma dar que estão praticando inclusão social quando, na realidade, todos sabemos que em qualquer área e/ou atividade a qualidade tem seu custo e em educação não é diferente.

Para se comprovar essa afirmação basta verificar os valores de horas-aula ridículos que vêm sendo pagos aos professores para possibilitar a cobrança de mensalidades escolares baixíssimas que a nossa mídia anuncia diariamente.

O simples fato de aumentarmos o número de alunos matriculados no ensino fundamental, no médio e no superior, sem qualidade no ensino a ser ministrado, resolve exclusivamente o problema das vagas ociosas de instituições de ensino de pseudoeducadores e jamais do Brasil, no qual lamentavelmente já há o “pacto da mediocridade”, onde o aluno finge que estuda e o professor finge que ensina, e com esta banalização do ensino corremos o risco de passarmos a ter agora também o “pacto da necessidade”, isto é, estudar ou ensinar visando apenas a necessidade de emprego.

Concluindo, reduzir o ensino superior a uma sucessão de mudanças e adestramentos exclusivos para tentar resolver a dificuldade de arranjar emprego é tirar-lhe a alma.

São Paulo, 13 de janeiro de 2010

Prof. Paulo A. Gomes Cardim

Reitor do Centro Universitário Belas Artes de São Paulo

Presidente da ANACEU – Associação Nacional dos Centros Universitários

Vice-Presidente da CONFENEN–Confederação Nacional dos Estabelecimentos de Ensino