Quando o silêncio não é bom

Temos visto uma discussão muito positiva principalmente em redes sociais (sim, existe ouro no Facebook, Instagram e Twitter) sobre o comportamento de jovens  a relação constante com a autodestruição. Relação essa, fortalecida por um quadro clínico que mina as respostas orgânicas e escurece as perspectivas de futuro, chamada: DEPRESSÃO.

Mas como? Jovens entre 12 e 15 anos com depressão? “Isso só pode ser uma falha na educação dos pais”, “isso é falta de couro”, “se estudasse não teria tempo de pensar em bobagens” e blá, blá, blá… ainda vemos esse tipo de afirmação espalhadas ao vento, mas é um quadro muito mais comum do que imaginamos. E infinitamente mais sério que esses atavismos que o julgam.

Me desculpem a ousadia, não tenho a competência de um psicólogo/psiquiatra, trabalho como massoterapeuta (muitas famílias procuram esse tipo de terapia para complementar o tratamento convencional). Fui também, durante um tempo, voluntário do Centro de Valorização da Vida (CVV), e diante de tantas histórias que se uniram à minha, afirmo com todas as letras: a Baleia Azul, asfixia, a roleta russa (volta e meia reaparece repaginada) e outras iniciativas do tipo NÃO TÊM NADA DE BRINCADEIRA!!! São indícios muitas vezes sérios de que o jovem não consegue verbalizar momentos de grande conflito e pior: pode estar num processo depressivo já adiantado.

E diante desse turbilhão confuso de sentimentos, a insegurança para FALAR SOBRE é quase sempre recorrente. Daí o silêncio. Por isso precisamos ser um canal que dê a segurança que lhes falta. Ouvindo com atenção e carinho, sem julgamentos. OUVINDO. Acho que já contei essa história aqui, na coluna, há um certo tempo, mas vale contar de novo: em Londres, no começo do século passado, o precursor do CVV começou suas atividades por conta do suicídio de uma jovenzinha que teve a primeira menstruação. Com sérias dificuldades para falar do assunto e diante de informações condenatórias que eram lugar-comum, ela se julgou portadora de uma doença venérea. Foi atormentada pela angústia da repercussão daquilo, e se matou. Da menarca ao suicídio pelos caminhos do tabu, da desinformação e da solidão. E quase 100 anos depois, essa mesma solidão continua perturbando e enviando seus sinais: um pedido de socorro mascarado nos atos de uma “brincadeira”.

Na condição de pai, faço um apelo: não é porque nossos filhos estão felizes e longes de qualquer sintoma ou sinal de alerta que devemos descuidar da atenção. Pode ser um amigo da escola. Pode ser um coleguinha do prédio. Um primo. Ou pode ser que nossos olhos não enxerguem direito…  Que nossos corações se unam e permaneçam em paz sempre. Abraço.

Jean Massumi é massoterapeuta

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