Roseli Gomes Arrifano Venturi

Supervisora Regional da Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social (SMADS), Roseli Gomes Arrifano Venturi comanda no bairro as ações voltadas às pessoas em situação de rua. Formada em Pedagogia e Pós-Graduada em Gestão de Políticas Públicas, a vizinha explica como começa e termina a atuação dos assistentes sociais, o caminho que leva essas pessoas a se abrigarem nas ruas, destaca as principais dificuldades nas abordagens, como o consumo de álcool e drogas, e revela a melhor maneira para que todos possam contribuir para melhorar esse quadro

Pedaço da Vila: Hoje a Vila Mariana conta com quantas pessoas em situação de rua e de que forma elas foram parar nessa situação?

Roseli Gomes Arrifano Venturi: Atualmente, na região de Vila Mariana, temos em média 450 pessoas em situação de rua (dados de fevereiro). A maioria das pessoas em situação de rua veio sozinha para a região, sendo as principais causas: o rompimento dos vínculos familiares, alcoolismo e drogas e desemprego. Nos últimos 3 anos, o número de população em situação de rua cresceu em torno de 15% segundo os registros de atendimento.  Aumentou em toda a cidade de São Paulo.

Pedaço da Vila: Quais são os maiores pontos de concentração de pessoas em situação de rua em nossa região?

Roseli Gomes Arrifano Venturi: Em viadutos, praças, marquises, imóveis abandonados, terminais de ônibus e nas estações de Metrô. A proximidade com a região central da cidade atrai a circulação de coletores de materiais recicláveis e pessoas em situação de rua.

Pedaço da Vila: Qual é a faixa etária dessas pessoas e quais as suas ocupações? Como elas sobrevivem?  

Roseli Gomes Arrifano Venturi: De 18 a 65 anos, a maioria composta por homens. São pessoas que sobrevivem da mendicância, doações, benefícios e que, eventualmente, realizam pequenos “bicos”, tais como catação de papel e papelão dentre outros materiais recicláveis. Em alguns pontos de concentração há pessoas com transtorno mental e mendicantes que possuem residência em áreas periféricas, trazendo muitas vezes as crianças e adolescentes para trabalho infantil. 

Pedaço da Vila: De que maneira a assistência social está estruturada para atender essa demanda?

Roseli Gomes Arrifano Venturi: A Secretaria da Assistência e Desenvolvimento Social possui uma rede de atendimento socioassistencial para a população em situação de rua através dos serviços de Abordagem Social- SEAS, Núcleos de Convivência para População em Situação de Rua, Centros  de População de Rua, Centros de Acolhidas e  Centros de Acolhidas Especiais ( idosos, mulheres, gestantes , famílias..)

Pedaço da Vila: Quantos funcionários atuam na região e de que maneira?

Roseli Gomes Arrifano Venturi: Na região da Vila Mariana possuímos dois serviços de Abordagem Social e um Núcleo de Convivência para pessoas em situação de rua conveniados com Organizações Sociais: SEAS Misto Vila Mariana com capacidade de atendimento a 300 pessoas adultas em situação de rua e 40 crianças/adolescentes. O serviço conta com 24 profis-sionais. SEAS IV – Serviço Espe-cializado de Abordagem social para pessoas em situação de rua que fazem uso das ruas para o consumo abusivo de substâncias psicoativas, para atendimento a 100 pessoas adultas. Nessa abordagem são 12 profissionais. E o Núcleo de Convivência para Adultos em Situação de Rua — capacidade de atendimento 50 pessoas adultas, com 11 profissionais.

Pedaço da Vila: Como ocorre e quem faz a primeira abordagem aos moradores nessa situação e o que se busca?

Roseli Gomes Arrifano Venturi: As abordagens são realizadas pelos orientadores sociais do SEAS Misto e do SEAS IV, de segunda a segunda-feira, das 8h às 22h. A partir das 22 horas as abordagens são realizadas pela Central de Atendimento Permanente – CAPE, que é responsável também pelas solicitações de atendimento a pessoas em situação de rua e pela Central de Vagas de Acolhimento para adultos, crianças e adolescente. Funciona 24 horas por dia, mantendo equipes de planto-nistas durante todo esse período de atendimento. 

Pedaço da Vila: Quais são os maiores desafios da assistência social nesse trabalho?

Roseli Gomes Arrifano Venturi: A dependência e o uso abusivo de álcool e drogas dificultam bas-tante não só as nossas abordagens, como também o acesso aos nossos serviços. Muitos casos requerem intervenção de profissionais de Saúde.

Pedaço da Vila: Quando a equipe consegue retirar essas pessoas da rua, elas são encaminhadas para onde? Como é esse processo?

Roseli Gomes Arrifano Venturi: Na Vila Mariana, as pessoas em situação de rua são abordadas pelo Serviço de Abordagem Social e enca-minhadas para a nossa rede de saúde, e de garantia de direitos. Durante o dia, no Núcleo de Convivência, onde podem tomar banho, lavar suas roupas, alimentar-se e participar de oficinas. Para Acolhimento são encaminhadas para os Centros de Acolhida do município.

Pedaço da Vila: Há abrigos na região? 

Roseli Gomes Arrifano Venturi: A nomenclatura atual para esse tipo de serviço (de abrigo) é Centro de Acolhida. Infelizmente, em nossa região não dispomos de Centro de Acolhida para população em situação de rua, mas esse tem sido nosso objetivo. Na Vila Mariana, conseguir um espaço adequado para esse fim tem sido um desafio. Os aluguéis são muito altos ou os imóveis necessitam de muitos reparos para adequar o espaço ou os proprietários recusam a locação para esse fim. A não existência de um serviço de Acolhimento na região torna o acolhimento difícil, pois a maioria das vagas disponíveis são lugares distantes, que muitas vezes a pessoa não quer ir ou, quando vai, no dia seguinte retorna por estar vinculada à região. A Secretaria possui em torno de 80 Centros de Acolhidas, que representam 10 mil vagas de acolhimento para adultos em situação de rua, idosos, mulheres, mulheres vítimas de violência, gestantes e seus bebês, famílias, pessoas em convalescência, catadores de materiais recicláveis, pessoas trans, crianças e adolescentes. São hotéis sociais, repúblicas, Casa Lar e residência inclusiva.   

Pedaço da Vila: Além dos abrigos essas pessoas recebem outros incentivos como recursos ou cursos para estudar ou trabalhar? 

Roseli Gomes Arrifano Venturi: Sim, dentro dos serviços as pessoas são encaminhadas para providenciar documentos, para ir à escola e para os CAT para uma possível inserção no mercado de tra-balho. Atualmente o Programa “Trabalho Novo”, que consta no Plano de Metas da nova gestão, tem como objetivo empregar 20 mil pessoas em si-tuação de rua em parceria com a iniciativa privada.

Pedaço da Vila: Após a pessoa retomar sua vida, elas são acompanhadas pela assistência social? 

Roseli Gomes Arrifano Venturi: A partir do momento em que a pessoa em situação de rua é encaminhada a algum serviço socioas-sistencial é montado um Plano de Atendimento Individual para construção de seu processo de saída das ruas, respeitando sua integridade e autonomia.

Pedaço da Vila: Existem muitos conflitos entre os moradores do bairro e de rua?

Roseli Gomes Arrifano Venturi: A estrutura do bairro com estações de metrô, terminais de ônibus, comércio e a própria condição financeira de seus habitantes, propiciam a prática de mendicância. A contribuição dos munícipes através de doações de toda espécie, tais como alimentos, roupas, brinquedos, refeições e dinheiro também torna-se um atrativo para os meios de sobrevivência desse público e faz com que permaneçam nestas regiões. Por esse motivo temos várias reclamações para “retirarem os moradores de rua da minha porta”. Há algumas situações que não são competência da Assistência Social e, sim, da Segurança Pública ou de Saúde.   

Pedaço da Vila: Existem dados sobre quantos  retornaram às suas famílias?

Roseli Gomes Arrifano Venturi: Não temos os dados, mas temos casos de êxito em vários serviços. A última publicação da SMADS, em dezembro de 2016, foi o livro Fortalecendo Pessoas, Reescrevendo Histórias. Nele, são relatados projetos desenvolvidos pela Secretaria de 2013 a 2016, apresentando beneficiários dos programas sociais e dos usuários dos serviços, suas conquistas e desafios.

Pedaço da Vila: Muitos moradores do bairro querem ajudar, mas não sabem como. Qual é a melhor maneira de assisti-los?

Roseli Gomes Arrifano Venturi: Eles não devem realizar doações nas ruas e, caso encontre pessoas nessa situação, perguntem o que elas necessitam além das doações, e as tratem como uma pessoa que precisa de dignidade …. Não é opção estar nas ruas, mas, sim, um modo de sobrevivência. Os moradores devem ligar para o 156, ou solicitar ajuda aos CRAS e CREAS da região.