O que você faria?

O professor de filosofia da Universidade de Harvard, Michael Sandel, num curso sobre Justiça, coloca algumas questões interessantes para nossa reflexão. Ele começa apresentando uma situação hipotética pela qual somos maquinistas de um trem (ou bonde) que devido a uma pane estrutural perde completamente os freios. E, logo a frente, um grupo de 5 trabalhadores faz reparos no trilho, todos com protetores de ouvido por conta do barulho proporcionado pelas máquinas. O trem não tem freio, os trabalhadores sem conseguir ouvir o trem chegando, e nós, os maquinistas apavorados, com pouquíssimo tempo de ação. De repente, avistamos um desvio no trilho para um outro trilho e, dessa forma, conseguiremos mudar o curso do trem. Só que nesse novo caminho tem um trabalhador com o mesmo protetor de ouvido fazendo sua tarefa. E agora? O que você faria? Deixaria o trem seguir o caminho e atrope lar cinco trabalhadores ou desviaria e pegaria apenas um?

Num outro dia, um outro trem também perde o freio. E outros cinco trabalhadores estão com protetores de ouvido fazendo reparos no trilho. Só que dessa vez não somos maquinistas, somos pedestres andando numa passarela ao lado do trilho. E logo percebemos que o trem está sem freio, mas os trabalhadores no trilho não conseguem escutar. E a nossa frente vai andando um indivíduo muito pesado, conversando no celular, alheio a tudo. Fazemos um cálculo velozmente e chegamos à conclusão de que se jogarmos o cara pesado no trilho, ele consegue, com seu corpo enorme, travar as rodas do trem e pará-lo, salvando os trabalhadores. Mas ele provavelmente morreria. E aí? O que você faria?

Por fim, numa última situação, não somos maquinistas, nem pedestres e nem andamos em trilhos. Somos médicos cirurgiões responsáveis pelo setor de transplantes de um hospital. Temos cinco pacientes em fase terminal com doenças gravíssimas, precisando de órgãos diferentes (fígado, coração, pulmão, pâncreas e dois rins). E nisso chega um sujeito saudável no hospital, que apenas tinha ido fazer um check-up. Olhamos o sujeito e o perfil dele se encaixa perfeitamente com o dos cinco pacientes terminais. E aí? Você sacrifica o paciente bom e salva os outros cinco?

Bom, como os nossos amigos do Pedaço puderam perceber, nas três situações tínhamos a escolha de salvar cinco pessoas e sacrificar uma. No entanto, o peso moral das decisões varia muito. E essa é a reflexão que gostaria de compartilhar com vocês hoje. É necessário que reflitamos sobre o porquê de cada coisa. Ou sobre os vários lados de um mesmo fato. Muitas vezes temos certezas que desmoronam com uma simples frase, e refletir sobre nossos limites e condicionamentos éticos nos faz pessoas mais seguras e conscientes. Talvez nunca tenhamos que optar entre a vida e a morte, mas situações como: achar um dinheiro num taxi, corresponder a um flerte mesmo sendo comprometido, aceitar um presentinho para facilitar um trabalho; enfim, são situações que provavelmente cada um de nós já enfrentou. E algumas nos pegam de surpresa.

Meus amigos, meditemos sobre nossos limites. Sobre nossas certezas. O que faríamos no lugar do outro. Quem sabe entendimentos nasçam de exames honestos de consciência e nos ajudem a conviver melhor com nossos vizinhos. E quem quiser mandar comentários para meu email, será uma alegria. Abraço e até a próxima.

Jean Massumi é massoterapeuta

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