Ah! A minha Páscoa!

Até a década de 50, a Páscoa era bem diferente. Ela começava no Domingo de Ramos e, a partir daí, entrávamos na Semana Santa, quando era pecado comer carne. Na quinta-feira, Dia de Todos os Santos, toda comunidade ia à missa. Na Sexta-Feira Santa, os católicos fervorosos paravam, não acendiam o forno e nem sequer varriam o chão! E lá íamos todos à missa: era o Dia de Lavapés. No Sábado de Aleluia acordávamos em ritmo de festa. Logo pela manhã malhávamos o Judas.

As mulheres cozinhavam cabrito, leitão, frango – era tanta fartura que sobrava muita comida. Minha avó, mãe e irmã costumavam fazer uma torta de carne chamada pizza cheia. Era uma grande comemoração com muita abundância. Os vizinhos trocavam pratos e confraternizavam-se. No Domingo de Páscoa, as famílias continuavam a festa, trocando doces e pratos com a vizinhança. Era costume fazer uma torta de grão de trigo e o almoço de Páscoa se prolongava até às 10 da noite.

Segunda-feira era a Pascoela, dia em que todo comércio fechava para uma grande festa, íamos fazer piquenique com o que sobrava da comida na Serra da Cantareira ou na Represa de Santo Amaro, com participação de músicos, cantores e artistas. Os bondes lotavam!

Não havia ovo de chocolate, eu comia um pão que minha avó fazia com um ovo cozido em cima. Esse era para nós o símbolo da Páscoa. Toda essa tradição se perdeu com o tempo e deixou muitas saudades…