A datilografia

Um dia, ao chegar da escola, almoçar e nos preparar para o famoso futebol de rua de todo dia, minha mãe chamou eu e o Levy e disse que nós tínhamos que fazer um curso de datilografia porque seria um “plus” enorme nas nossas carreiras no futuro. Imaginem para dois músicos, um baterista e um guitarrista o que isso significava? Quase a morte! Assim é que começa a nossa história bacana com uma das mais belas escolas que existiram na Vila Mariana. O INSTITUTO MODERNO, escola de datilografia e taquigrafia. 

Lá fomos nós, subindo a Cons. Rodrigues Alves e entrando na Domingos de Morais, quebrando a direita no Largo Ana Rosa e subindo as escadas da casa de número 562, onde existia o famoso INSTITUTO MODERNO — essa casa que você vê na foto com a seta,  ao lado da Lojas Mel.            

Logo nos colocaram numa sala (igual a essa da foto) e pediram para esperar porque vinham mais alunos. Tinham 12 máquinas de escrever. Nessa hora tivemos nosso primeiro contato com uma máquina de escrever na nossa vida. Curiosos, começamos a mexer nelas e logo descobrimos que dava para batucar nas teclas, que faziam um som super bacana. 

Pronto. Era o “plus” que minha mãe falava. Kkkkkkk. Em um minuto as máquinas viraram duas baterias e nós dois os melhores especialistas em fazer um som bem louco com máquinas de escrever.

Não deu 5 minutos e apareceu uma professora, brava pra caramba, e aos berros deu uma bronca imensa nos dois. A primeira aula foi hilária. Nada deu certo.

Quem já viu uma máquina de escrever sabe do que estou falando. Usá-la é como se você estivesse fazendo uma operação de intestino em um ET. É uma coisa estranha. Nada a ver. Se você não tiver uma professora para ensinar, você poderá ficar séculos e não saberá nem como se empurra o carrinho. Kkkkkkkkkk. 

A professora nos dizia todos os dias que um ótimo datilógrafo teria que saber escrever com os olhos vendados. Imagina quantas besteiras pensamos. kkkkkkkkkk. Tivemos uma primeira aula entre hilária e estranha e já saímos de lá imaginando um show com máquinas de escrever simulando baterias e tocando rock, porque o som era muito legal. Assim o curso foi até o fim.

A ESCOLA DE DATILOGRAFIA E TAQUIGRAFIA MODERNO  foi um dos ícones muito importantes da vida paulistana e da nossa Vila Mariana. Muitos avós, pais e filhos vilamarianenses estudaram e se formaram em datilografia no INSTITUTO MODERNO. Realmente era de suma importância ser datilógrafo naqueles anos. Minha mãe Luiza Bloise já tinha feito o INSTITUTO MODERNO e já era datilógrafa, o que tinha ajudado muito na sua carreira.

Podem perguntar aos vilamarianenses. Muita gente, talvez a grande maioria de pessoas da Vila Mariana, cursou essa escola tão importante. Todo mundo fazia datilografia e taquigrafia.

Bem, eu e o Levy tivemos muitas aulas, aprendemos o suficiente (lógico) e no final do curso ensaiamos e fizemos um show para todos da escola, tocando bateria nas máquinas de escrever do INSTITUTO MODERNO. Acho que foi o primeiro show desse tipo no mundo. E último. Kkkkkkkkk.

Tínhamos aprendido muito mais tocar bateria nas máquinas do que propriamente escrever. Kkkkkkkkk. Hoje, quando passo ali na Domingos de Morais, olho aquela escada que nos levava ao andar de cima com muito carinho, porque me remete há um bom tempo das nossas vidas. 

Agora temos computador, Ipad, celular e tantos outros aparelhos hiper tecnológicos que, por mais modernos que sejam, ainda conservam o teclado da máquina de escrever como foi criado originalmente. As teclas na mesma posição. Uma convenção universal e me parece, eterna.

O INSTITUTO MODERNO da Vila Mariana era maravilhoso. Um ícone que merece ser sempre lembrado pela sua importância na Vila Mariana. pois, quem viu, viu. Quem não viu, não vai ver mais!