Um por todos e todos por um!
Mês verde e amarelo! Dia 11 começa a Copa do Mundo, na África do Sul. É hora de o Brasil inteiro colocar a bandeira na janela e torcer pelo hexa. São 180 milhões de torcedores, entre eles muitos meninos que sonham, em um dia, vestir a camisa da seleção. Na Vila Mariana existe um projeto que tem muito a ver com essa realidade e que hoje está sendo reestruturado com força total para render ótimos frutos no futuro!
Tornar-se um grande jogador de futebol não é para qualquer um. É incontável o número de quadras, campos e escolinhas que todos os dias recebem garotos em busca de uma chance. O Midas Futebol Júnior, idealizado, em 2000, por Maria Cecília Julião, advogada especialista em direito desportivo, é um time de futsal que foi organizado, então, com cinco categorias, formadas por crianças e adolescentes moradores da região, estudantes de colégios públicos e particulares. “Conhecia uma garotada que adorava futebol e que, sabendo que eu trabalhava na área de esportes, sempre vinha me pedir uma chance. Resolvi então montar essa equipe para que ela representasse o nosso bairro”, explica Maria Cecília.
O surgimento do Midas passou por todas as fases que marcam uma fundação. O nome do time, por exemplo, foi escolhido de forma democrática por meio de votação entre os atletas: “Os garotos pensaram em alguns nomes e eu também sugeri outras possibilidades. O nome Midas foi uma ideia que eu tive e que, por ter uma relação com a mitologia grega, era uma forma de incentivar a cultura, um dos objetivos principais do nosso projeto”.
Cada jogador que ingressa no grupo recebe um texto que explica o nome da equipe: “Nesse material falamos do Rei Midas e da história que onde ele tocava virava ouro. Eu brinco que o nosso Rei Midas é a bola. Quando eles tocarem nela, tem que fazer o gol. Além disso, Midas também pode ser uma sigla: Meninos Inteligentes Desportistas Atléticos e Sadios”, diverte-se Maria Cecília.
Durante três anos, o Midas Futebol Júnior disputou diversos campeonatos, entre eles a Copa Topper, e conquistou muitas medalhas e troféus. Por questões profissionais e inúmeras e seguidas viagens de Maria Cecília para o exterior, o projeto foi paralisado por seis anos. No final de 2009, já visando a Copa de 2014, e ficando em função disso mais no Brasil e na Vila Mariana, a sua fundadora e diretora executiva resolveu retomá-lo: “Decidi reavivar a ideia do Midas e remontar um time do zero, somente com garotos de escolas públicas”.
Atualmente, a equipe conta com 17 meninos (podendo chegar a 20), nascidos entre os anos de 94 e 95, e que formam a categoria juvenil: “Fizemos um mapeamento das escolas estaduais que existem na Vila Mariana e contatamos as diretorias para apresentar o projeto. Fomos prontamente atendidos. Hoje temos integrantes do Brasílio Machado, Fabiano Lozano, Major Arcy e Roldão. No futuro, a ideia é expandir ainda mais os times para outras faixas etárias”.
Os jogadores são indicados pelos colégios e avaliados por uma comissão técnica: “Saber jogar bem não é fundamental para fazer parte do grupo. É preciso ter boas notas e uma conduta de educação, respeito e companheirismo com os colegas”. Todos os atletas devem apresentar atestado médico que garanta uma boa saúde para a prática de atividade esportiva.
Em sua retomada, o projeto conta com o apoio da recém-inaugurada Associação Vila Mariana Unida e com o trabalho de alguns voluntários. O técnico do time, Júlio César Lima, é um deles. Jogador do Midas no ano de 2000, o agora estudante de educação física dá o exemplo de sua história para motivar os atletas: “Quando recebi o convite para comandar os garotos fiquei muito emocionado. É gratificante trabalhar com esse grupo. Há 10 anos eu encarava tudo isso como uma diversão e hoje lido com a responsabilidade de ensinar aos meninos aquilo que aprendi quando estava no lugar deles”.
E quem pensa que no Midas tudo é futebol está muito enganado. O projeto visa a formação esportiva e também cultural dos jogadores. Por isso, são realizadas algumas atividades fora das quatro linhas: “Neste primeiro semestre, eles já visitaram o Museu do Futebol, Museu do Corpo de Bombeiros, assistiram ao filme Cinema Paradiso, estão lendo o livro Pequenas Memórias, de José Saramago, e decoraram a letra e o significado do hino nacional”, explica Maria Cecília.
A forma de trabalho, incomum para os garotos que só pensam em jogar futebol, tem dado certo e conquistado os atletas: “No começo, quando eu soube que teria que fazer essas atividades, fiquei meio desanimado, mas quando visitei o Museu do Futebol tudo mudou. É legal aprender coisas novas e perceber que não adianta só saber jogar para um dia ser profissional. Tem que ter conhecimento também”, conta Heller Biló, 16 anos, goleiro e capitão do time.
Desde a formação completa da equipe, que aconteceu de fato em março desse ano, o Midas tem alternado o treinamento em algumas quadras. Em um primeiro momento, cogitou-se reformar, por meio de um Termo de Cooperação, a praça comunitária que existe na esquina das ruas Lins de Vasconcelos e Vergueiro, onde existe uma quadra, mas a subprefeitura informou que uma escola já tinha solicitado esse termo: “Infelizmente até agora nada foi feito”, relata Maria Cecília. Mesmo com as más condições, a equipe fez alguns treinos no local e em seguida passou a realizar as atividades na quadra do batalhão dos Bombeiros, localizada na rua Domingos de Morais: “Ficamos por lá um mês e, em um dado momento, começaram a reformar um telhado próximo à quadra, ocupando-a como depósito de materiais. Sem nenhuma explicação formal, nos informaram na recepção que o espaço não poderia mais ser usado por civis”. Atualmente, o projeto está em negociações avançadas com uma importante instituição do bairro e, enquanto não encontra uma quadra neutra e definitiva, o grupo alterna os treinos, aos sábados, entre os colégios Fabiano Lozano e Major Arcy.
Com uma comissão técnica totalmente voluntária, formada por Maria Cecília Julião, diretora executiva, Júlio César Lima, técnico, e mais um assistente, o projeto pretende ampliar o número de colaboradores nas áreas de educação, cultura, educação física, marketing, publicidade, medicina esportiva e psicologia: “Queremos contar com jovens dispostos a ajudar a transformar o Midas em um grande time, para representar a Vila Mariana em diversos campeonatos pela cidade e, quem sabe, pelo país”.
No último mês de maio, a equipe disputou dois amistosos contra o Esporte Clube Vila Mariana e ganhou de goleada: “Os meninos são muito esforçados e têm talento. Acho que ainda é cedo para disputar campeonatos de ponta, mas se trabalharmos direito e com vontade poderemos ganhar títulos importantes e inclusive revelar jogadores que se tornarão profissionais de sucesso”, torce o técnico Júlio César Lima.
Os garotos não escondem a empolgação, e no discurso pronto que muito se assemelha aos dos profissionais da bola, dão a receita para o sucesso: “Todo mundo pode sonhar, mas para conseguir alcançar os objetivos é preciso trabalhar, ter força de vontade e seriedade”, revela o capitão Biló.
Quem já chegou lá também apoia o projeto. Diego Cavalieri, goleiro formado nas categorias de base do Palmeiras, e que hoje defende o Liverpool, da Inglaterra, sabe a importância dessa iniciativa na vida de cada menino: “Mais do que formar atletas, é uma maneira de construir um caráter de conduta nesses garotos. É claro que a qualidade técnica implica muito em uma possível carreira no futebol, mas é preciso ter respeito pelos companheiros, acreditar no sonho e nunca desistir. A concorrência é grande e quem trabalha com vontade e honestidade tem mais chances de alcançar os objetivos”.