Primeira linha!

Longe dos holofotes, foi aqui no pedaço que um dos mais requisitados alfaiates do País, David Gustavo Fuckner, escolheu para abrir sua alfaiataria. É na rua Capitão Cavalcanti que ele recebe estilistas famosos para tornar realidade as ideias que são destaques no badalado mundo da moda e nos shows business

mundo fashion não teria o mesmo glamour se por traz dos holofotes não estivessem profissionais que trabalham muito para que os consagrados estilistas possam tornar suas ideias e sonhos realidades. Assim como Joaquim Cardozo (1897-1978) e José Carlos Sussekind, depois de muitos cálculos e adaptações, conseguiram viabilizar as obras de Niemeyer, o alfaiate é quem dá o caimento perfeito às criações dos designers da moda.

O Fashion Week, evento que valorizou a moda no Brasil e serve como vitrine para o que há de melhor no mercado, exalta as modelos-celebridades, estilistas excêntricos e personalidades que estampam as páginas de revistas, mas pouco expõe esse profissional que é fundamental para tornar possível cada peça apresentada nas passarelas. Este é o trabalho do vizinho David Gustavo Fuckner, o renomado alfaiate que trabalha e mora na Vila Mariana há mais de duas décadas.

A alfaiataria sempre esteve presente na vida de David, que nasceu em Joinville, Santa Catarina. Quando criança, observava o pai alfaiate trabalhar e, com apenas 7 anos de idade, se encantou pela profissão: “Ficava com os olhos atentos em cada detalhe do trabalho que meu pai fazia, desde a parte técnica até o relacionamento de amizade com os clientes”, conta.

Aos 13 anos já se considerava um alfaiate formado e, aos 17, arrumou as malas com destino ao Rio de Janeiro para encontrar dois irmãos. “Mas, o dinheiro que tinha deu apenas para chegar em Jacareí (SP), onde conhecia algumas pessoas que lhe deram abrigo por 15 dias”, tempo suficiente para ganhar dinheiro com alfaiataria e continuar sua viagem.

Na cidade carioca, David permaneceu durante 5 anos, tempo em que fez alguns cursos de corte e serviu o exército no batalhão Dragões da Independência, em 1962: “Trabalhei na alfaiataria do quartel”. Quando terminou o serviço militar, sua tropa foi para Brasília, e ele veio para São Paulo, onde ficou até retornar à Joinville, devido ao falecimento do pai. Na cidade natal, David casou-se, constitui família, e teve o primeiro contato com a indústria de roupa ao trabalhar na empresa Lumiere: “Na época, meu maior sonho, mesmo, era voltar para São Paulo e conhecer as grandes indústrias de roupas masculinas”, confessa.

E lá foi David atrás de seu objetivo. O retorno à capital paulista foi o começo de uma trajetória pelas maiores indústrias de roupas do país. Primeiro trabalhou na Levi‘s: “Foi onde tive contato com a produção de calças, jaquetas e com o jeans”. Depois para ELLUS, com a incumbência de gerenciar o corte. E, finalmente, foi para a empresa que sempre sonhara trabalhar: a Vila Romana ­ considerada, na época, a maior indústria de roupa masculina. “Lá trabalhei na área que se chamava texografia” – área de estudo de corte para economizar tecido e hoje denominada ‘estudo de corte’. “Diferentemente de antigamente, hoje é feito tudo pelo computador”.

Após um longo período conhecendo as maiores indústrias de roupas do País, David decidiu trabalhar por conta própria e abriu sua alfaiataria. Ele lembra que os primeiros trabalhos realizados foram modelagens, amostragens e pilotos. “Conforme meu negócio foi crescendo, fui conquistando novos clientes e antigos patrões. As empresas em que trabalhei, como a ELLUS, Vila Romana e Levi`s, procuraram meu serviço!”.

No começo, David trabalhava em um ateliê na sua própria casa, e, conforme a demanda foi aumentando, teve a necessidade de procurar um lugar maior. Foi quando chegou à Vila Mariana, inicialmente na rua Domingos de Moraes e depois em uma travessa da Capitão Cavalcanti, na empresa que era sócio da então esposa. Após a separação resolveu criar a marca By David na casa onde está há 7 anos, na rua Capitão Cavalcanti

No espaço, David recebe clientes famosos e, atualmente, é um dos alfaiates mais requisitados pelos grandes nomes da moda do País. “Somente uma perfeita técnica em alfaiataria torna respeitável um desenho contemporâneo. Em anos de trabalho com David, pude transformar em realidade todos os meus desejos em alfaiataria”, elogia Alexandre Herchcovitch.

Segundo o alfaiate, a profissão sofreu profundas mudanças com o surgimento dos mecanismos computadorizados. Embora possua equipamentos de primeira linha, ele faz questão de primeiro fazer o trabalho artesanalmente para depois passar para o computador: “É mais prático e seguro”, diz.

Após o molde inicial, David faz ampliações direto no computador. “Hoje a modelagem e o corte são automatizados e tudo é feito muito rápido. Antigamente um bom alfaiate demorava 20 minutos para casear um botão, hoje, a máquina realiza o trabalho em 5 segundos e com perfeição!”, compara.

Um dos raros alfaiates que se aventurou pelo universo corrido e intenso da moda, David possui uma cartela de clientes com os maiores nomes da moda no Brasil, além de Alexandre Herchcovitch, desenvolve peças para Marcelo Sommer, Jum Nakao, entre muitos outros.

O trabalho de David inicia a partir das criações ousadas dos estilistas, que chegam na forma de desenhos, rabiscos e amostra do tecido. David inicia um processo de interpretação para ser o mais fiel possível ao desejo do estilista. “A relação de um alfaiate com o estilista é a mesma de um arquiteto com o engenheiro, é uma troca constante”, explica. Em busca pela perfeição, o alfaiate dá sugestões para tentar encontrar a melhor maneira de fazer o modelo. “Minha filosofia é a seguinte: Se você me trouxer uma casca de banana e quiser um paletó, nós vamos fazer, vamos achar uma alternativa. Se não fizer o paletó com uma casca, faço com duas, com três ou com o cacho inteiro; desde que não haja preocupação com o preço”, explica David, enquanto mostra o trabalho que está desenvolvendo para a coleção de Verão 2011

Sobre as novas tendências da moda, ele frisa que essa não é a sua especialidade, mas arrisca: “As roupas mais largas e confortáveis estão retornando; as cores básicas, como o preto, pastel e marrom continuam em alta, pois não saem de moda”. David ainda esclarece que a moda masculina mudou da água para o vinho, em pequenos detalhes, mas que fazem toda a diferença: a lapela que ficou mais fina, o modelo mais justo e enxuto e os ombros ficaram mais curtos. “Atualmente os

homens estão mais vaidosos do que as mulheres”, observa. David já vestiu inúmeras personalidades, entre seus clientes figuram nomes como Jô Soares, João Gordo, Arnaldo Antunes e Ivete Sangalo – foi ele quem vestiu todos os músicos da cantora baiana que fez, recentemente, um show no Madison Square Garden, em Nova York (oportunidade em que gravou seu novo CD e DVD). Também é dele as roupas da atriz Claudia Raia e de todo o elenco do Musical De Pernas Pro Ar; e, ainda, o famoso casaco, assinado por Herchcovitch, do ex-técnico da Seleção Brasileira de Futebol, Dunga.

Com mais de 50 anos de profissão, o alfaiate recorda com carinho do tempo em que se encantava com o trabalho do pai e se diz realizado com as peças que ajudou a criar nos grandes eventos de moda, embora lamente que o pai não esteja mais presente para ver seu tremendo sucesso: “Quando vejo minhas roupas na passarela, sei que a minha alma está ali”, finaliza.

By David Fashion Alfaiataria: tel. 5573.7431