Gestão Compartilhada

“O clima era descontraído e familiar. A maioria dos frequentadores eram os próprios moradores do bairro. As mães costumavam deixar seus filhos no clube sem se preocuparem, pois sabiam que estariam seguros e que iriam se divertir. Sua programação era bem diversificada e incluía atividades físicas e culturais para todas as idades”. É com essas palavras que a vizinha Maria Fernanda (69) descreve o extinto Clube Adamus de Voleibol, um dos mais tradicionais do bairro e que reinou por décadas em um quarteirão entre as ruas Estado de Israel e Sena Madureira.

O Clube Adamus foi fundado em 1945 e fez história no bairro. Suas festas juninas, os almoços servidos aos domingos, as oficinas, entre elas as de bordado, culinária e corte e costura, deixaram saudades em seus frequentadores. No entanto, a má gestão que vinha sofrendo nos últimos anos culminou com o seu fechamento. Vizinhos que costumavam frequentá-lo contam que o clube passou a ser usado somente por pessoas ligadas a jogos de azar, descaracterizando sua função original. 

No dia 17 de março de 2009, após recorrentes denúncias de moradores do entorno de que o clube estava abandonado e servindo de palco para festas irregulares de todas as espécies – de partidos políticos a encontros góticos -, uma operação realizada em parceria entre Polícia Militar e Prefeitura interditou a área após encontrar falhas na segurança do local. “Fecharam o clube e não deram nenhuma satisfação a seus frequentadores”, reclama Maria Fernanda.

Em julho do mesmo ano, quatro meses após a interdição da área, a Secretaria Municipal de Esportes, Lazer e Recreação (SEME), sob o comando do então secretário Walter Feldman, firmou uma parceria com a Unifesp para a implantação do Clube Escola Unifesp no espaço. O acordo cedia a área pelo período de um ano.

Coordenador e responsável pela implantação do Clube Escola, o Dr. Moisés Cohen, Chefe do departamento de Ortopedia e Traumatologia da Unifesp,  explica que o acordo foi estabelecido para que o Clube oferecesse atendimentos hospitalares e promovesse atividades físicas e recreativas à população. “O acordo determinava que usássemos a área desde que fosse a serviço da comunidade”, diz.

Sob a orientação do Dr. Moisés Cohen,  referência mundial em Medicina Esportiva, alunos e professores atendem atletas medalhistas olímpicos, jogadores de futebol entre outros  competidores de alto nível, entre eles Maurren Maggi, Jadel Gregório, Fabiana Murer e Arthur Zanetti.

Embora poucos tenham conhecimento dos trabalhos prestados no local, eles são bastante abrangentes e incluem atendimentos médicos, odontológicos, sessões de fisioterapia, exercício com pacientes ao ar livre, tratamento de atletas lesionados, além de disponibilizar as três quadras, duas de futsal e uma de tênis, para o uso da população e para oficinas que são ministradas por professores voluntários. “O espaço é aberto a todos”, assegura Moisés.

Impasse

Ao final do prazo estipulado pelo acordo, em 2010, o Clube Escola Unifesp continuou realizando os trabalhos no local enquanto aguardava a regulamentação do espaço. Assim, acabou se tornando protagonista de um impasse que o impede de crescer, como revela Moisés: “Como não temos nenhum documento que comprove a ligação desse espaço com a Unifesp, ficamos impossibilitados de investir e fazer as reformas de que o local tanto precisa”.

A  única reforma feita até agora no espaço aconteceu em 2009, quando a SEME investiu 600 mil reais para que o Clube Escola fosse instalado no local. “Enquanto o destino da área permanece indefinido, não podemos mexer em nada, nem mesmo fazer pequenos reparos pontuais nas duas piscinas e nas três quadras”, revela Moisés, que tirou recursos do próprio bolso para pintar as quadras há alguns meses.

No dia 30 de setembro de 2013, logo após Celso do Carmo Jatene assumir o cargo de secretário da SEME, Moisés solicitou junto ao órgão a regulamentação da área. “Expliquei  que o processo já estava na Secretaria Municipal de Planejamento (SEMPLA), aprovado, e pronto para seguir para a Câmara. Mas parou tudo e retornamos à estaca zero”, conta.

Em visita surpresa ao Clube Escola, o secretário deparou-se com os espaços vazios. “Ele veio justamente num dia em que não havia ninguém e achou que o espaço não estava sendo usado pela comunidade”, justifica Moisés. 

Todo custeado pela Unifesp, o Clube Escola conta hoje com 30 profissionais, fora os médicos; quatro deles são contratados, e os outros, voluntários. São realizados, em média, 400 atendimentos no local por mês.

“Muitas pessoas querem fazer parceria conosco, mas não podemos aceitar enquanto essa situação não estiver resolvida. Deixamos de receber uma doação de 500 mil reais em equipamentos paraolímpicos porque não temos a assinatura para apresentar à Confederação Brasileira. Os atletas usariam os equipamentos numa parcela pequena da semana, e, nos demais dias, ficariam à disposição da comunidade. Trata-se de uma relação na qual vislumbramos benefícios para todos”, destaca o doutor.

O impasse também já reflete negativamente em outras atividades desenvolvidas no local. No período entre 2010 e 2013, o clube dispunha de 16 professores voluntários que ministravam aulas de caratê, tênis, futsal, dança do ventre, natação, alongamentos, entre outras modalidades abertas à população. “Neste ano, o quadro de voluntários caiu para 5, pois não podemos melhorar os espaços e os equipamentos”, lamenta Moisés.

Centro de Medicina Esportiva

A principal vocação do clube, contudo, é se tornar uma referência em Medicina Esportiva no país, oferecendo atendimentos e estruturas adequadas para a saúde e o treino de nossos atletas; muitos deles, medalhistas olímpicos. Hoje, o Clube é um dos poucos Centros Médicos de Excelência da FIFA espalhados pelo mundo. “Atualmente, temos a oportunidade de atender atletas competitivos, que, mesmo sendo de alto nível, muitas vezes não possuem recursos para se cuidarem. O que nós queremos é apenas dar continuidade a esse trabalho e melhorar ainda mais esse espaço para o usufruto da população”, afirma. 

Segundo Moisés, a permanência do Clube Escola no espaço é fundamental. “Para a Unifesp é um local que dá a possibilidade de desenvolver a disciplina Medicina do Esporte, atendendo atletas carentes da cidade e dando-lhes suporte, não somente médico, mas também odontológico, ginecológico e em todas as áreas ligadas à medicina esportiva e para a comunidade; tudo pelo SUS”, destaca.

Na busca por melhorias no espaço, Moisés mostra ao Pedaço da Vila um ambicioso projeto para a área. “Trata-se de um hospital moderno, preservando tudo o que há hoje no espaço, como as quadras e as piscinas. Ele foi criado, gratuitamente, por amigos arquitetos que acreditam em nosso trabalho. Infelizmente ainda não posso dar um passo à frente para tornar isso uma realidade”, diz.

O Pedaço da Vila apurou que hoje uma proposta se encontra em tramitação na SEME para uma Gestão Compartilhada da área entre Prefeitura, Unifesp e Marinha do Brasil. Segundo a assessoria da SEME, esse modelo tornará o espaço inteiramente aberto à comunidade. A previsão é de que a proposta de convênio seja assinada ainda neste mês, quando o secretário Celso do Carmo Jatene retornar de férias. 

A expectativa é: por quanto tempo a área será cedida à Unifesp e ao projeto do Dr.  Moisés Cohen, pois um empreendimento desse porte, um investimento e tanto, demora anos para ser concluído. 

Conheça alguns cursos oferecidos gratuitamente pelo Clube Escola Unifesp à comunidade 

Arteterapia, Cromoterapia e Terapia de Sincronicidade Reiki, 

Balé Contemporâneo,  Dança de Salão, Caminhada e Alongamento, 

Futsal Infantil e Adulto, Voleibol Adulto Masculino e Feminino, e Handebol

Acesseo calendário pelo site www.unifesp.br/proex/clubeescola/calendario-atividades.

Rua Estado de Israel, 638 – Vila Clementino. Telefone:  5576-4964 

Horário de Funcionamento: de segunda a sexta-feira, das 7 às 22h e, aos sábados, das 8 às 18h.  

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