Fome de quê?

Há algumas décadas não poderíamos prever que, hoje, as pessoas seriam como que abduzidas pelo fenômeno de valorização da comida como centro da cultura.

Creio que o ritual em volta da mesa será, num futuro próximo, uma das grandes discussões antropológicas para tentar definir ou entender nossa geração. De fato, as discussões sobre o tema já estão em plena efervescência, talvez um pouco ofuscadas pelo glamour que a gastronomia irradia aos olhos de alguns.

Como ondas que quebram na praia, alternando-se em ciclos, a abordagem da alimentação centrada na fome ou na carência proteica, ocupam chefes que discutem novas formas de cocção ou a retomada de produtos terroir, ao jejum para alcançar o nirvana. O assunto é um só: comida.

Minha mulher, psicóloga, vê nesse fato uma população crescente presa à oralidade, fase anterior ao desenvolvimento da linguagem na criança. Adquirir linguagem possibilita àquele que a desenvolve, crescer emocionalmente. 

Mas a oralidade não para por aí. Literalmente, oral também é aquele que compulsivamente precisa falar, teorizar e ritualizar, o que simplesmente poderia ser um ato divino, misto de subsistência e prazer. É mais ou menos como o sexo: fala-se mais dele do que realmente se pratica.

Não estou dizendo que, se tomada fora do enquadramento da fome, a “comida” seja sinônimo de “frescura”. Mas, daí, uma geração hedonista acreditar no prazer do ato de comer como uma dimensão libertadora, é um pouco demais.

Liberdade está no domínio do desejo. A fome, a abstinência, ou uma farta refeição só muda o status de quem as assume como escolha. Sem isso, comemos, comemos, comemos e nunca enchemos a barriga.

Arroz com frango na panela de pressão

1 frango com osso, cortado à passarinho, 2 cebolas em cubos, 3 dentes de alho picados, 2 folhas de louro, 1 colher de café de páprica picante, pimenta-do-reino a gosto.

1 xícara de chá arroz, 2 xícaras de chá de caldo de frango, 4 colheres de sopa de óleo, 1 xícara de cebolinha picada.

Coloque o frango, a cebola, o alho, o louro, o óleo, o sal e a pimenta-do-reino na panela de pressão. Tampe e depois de apitar, cozinhe por 15 minutos.

Tire o vapor, abra a panela e junte a páprica, o arroz e o caldo (corrija o sal e a pimenta-do-reino). Tampe e deixe cozinhar por mais 10 minutos. Abra a panela, junte a cebolinha e sirva!

Felipe Ciutat é chefe de cozinha, banqueteiro, consultor de gastronomia internacional e vegetariana.

Email felipeciutat@gmail.com