Semana Santa em Jerusalém

Você está trêmulo …. eu também. É por causa de Jerusalém, não é? As pessoas não vão a Jerusalém, elas retornam para lá. Este é um dos mistérios.” (Elie Wiesel)
Conhecer Jerusalém era um dos meus sonhos desde que descobri as inúmeras versões sobre Jesus Cristo, mas, sempre escutava: agora não, estão em guerra! No ano passado, eu e uma amiga decidimos passar a Semana Santa, que coincidia ser a mesma para judeus e católicos, em Jerusalém.
A viagem começou em Tel Aviv, cidade fundada pelos judeus em 1909, unificada à cidade de Jaffa, fundada pelos árabes, e transformada, após a Segunda Guerra Mundial, num importante centro econômico e financeiro de Israel.
Banhada pelo Mar Mediterrâneo, Tel Aviv possui uma orla simpática, com caminhos e ciclovias que vão ligando os bairros, cada um com suas características próprias. Destaque ao Bairro dos Artistas, com feirinhas, lojas e um mercado variado de tudo. Vale a pena conhecer os portos da cidade e ver o mais antigo porto instalado junto a o outro supermoderno.
Depois de dois dias em Tel Aviv partimos num roteiro por onde Jesus Cristo passou. O que valeu disso é que fomos ‘entrando’ na história e vivenciando seus passos, fazendo com que a viagem ganhasse um tom espiritual, próprio da Semana Santa.
Viajando para o Norte, paramos em Cesarea, a cidade romana à beira do Mediterrâneo, hoje em ruínas, mas onde ainda pu-demos ver uma piscina, um teatro e um aqueduto quase intacto.
Pelas estradas de Israel, todos os canteiros e margens são jardinados, com muitas flores e árvores, mantidos por sistema de irrigação permanente, deixando o deserto muito menos árido.
Depois de conhecer alguns pontos turísticos e o Monte Carmelo, chegamos a Nazareth, onde estão as casas de Maria e José, e a Catedral da Virgem Maria, onde estão expostos painéis e esculturas de vários países, cada um com a sua representação típica da santa, interligada com a igreja de São José. O interes-sante é que essas igrejas e templos são construídos sobre outras igrejas e grutas, fazendo com que as construções tornem-se labirintos entre pedras, tijolos, poços etc.
Subimos até quase a divisa com o Líbano para conhecer um Kibutz, que são comunidades independentes espalhadas pelo país, quer dizer, com sistemas político e financeiro próprios. Nos hospedamos no hotel do Kibutz: simplesmente sensacional!! Vale a visita!
No dia seguinte, continuando o caminho espiritual, conhecemos a cidade de Cabala e uma das primeiras sinagogas do país. Uma graça a cidade, pois pelas vielas e construções de pedras ocupadas por artistas plásticos sente-se todo o misticismo da religião.
Fomos também para o Monte da Bem Aventurança, para Tabgha, onde ocorreu o milagre da multiplicação dos pães e peixes e para Cafernaum, onde, entre ruínas, temos a primeira sinagoga e a Igreja de São Pedro, construída sobre as ruínas da casa da sua sogra, um projeto muito interessante.
Fomos então ao Rio Jordão, e lá, num restaurante à beira do rio, local do batismo de Jesus, comemos um peixe assado típico, bem diferente e saboroso.
Por cada lugar que Jesus passou existe uma igreja cuidada e mantida por franciscanos ou beneditinos ou sob o comando dos ortodoxos gregos mostrando a interação entre as religiões, o que me surpreendeu.
Fomos então para a Palestina, onde está a Igreja da Natividade, com suas paredes imensas e uma porta minúscula para entrar: o local onde Jesus nasceu. A energia que esse lugar tem é indescritível.
Cada vez mais envolvidas na história de Jesus, passando por um túnel, vimos a famosa cúpula dourada de Jerusalém! Impossível não se emocionar!! A cidade do alto é um aglomerado de construções, por onde pipocam cruzes, torres e cúpulas de todas as religiões, cercadas por um muro de pedra muito alto — aliás, cercada por alguns muros.
Ficamos num hotel muito próximo à famosa Porta dos Leões, um dos acessos para a cidade murada. Foi uma surpresa! É uma porta medieval enorme, no meio dos muros, com uma passarela sobre as ruínas da Jerusalém mais antiga — ela foi reconstruída três vezes!! E lá dentro, dividida em três bairros, o católico, o judaico e muçulmano, existem milhares de lojinhas e barracas com tudo o que se possa imaginar para vender, além de muitos restaurantes e bancas de pães e sucos.
Era Sexta-Feira Santa e fomos para o Santo Sepulcro, onde está o Calvário e o túmulo de Jesus. Como todas as igrejas de lá, temos uma construção sobre a outra, com escadas aqui e ali, e várias igrejas dentro de uma só, cada uma com seu espaço e sua cúpula.
Logo na entrada está a pedra rosa onde Maria teria lavado o corpo de Jesus para depois enterrá-lo. As pessoas de todo o mundo — vi indianos, budistas, pessoas da Papua Guiné, japoneses, católicos — param ali para rezar e colocar a mão na pedra, numa demonstração de fé impressionante. Acredito que esse foi o lugar que mais me impressionou. A igreja pulsa, vibra!! As pessoas querem entrar e ver o túmulo, sentir a energia. Mas tem que ser rápido: foi só demorar um pouco que um padre ortodoxo empurrou a gente para fora. Nossa vontade era ficar ali mais tempo, meditando.
Uma das curiosidades do Santo Sepulcro é uma escada que está abandonada na fachada há muitos anos. Foi deixada em uma das reformas,. Como não sabem quem deixou a escada ali, se católicos, ortodoxos ou outros, ninguém retira ela de lá.
Percorremos pelo bairro mulçumano as 12 estações da Via Dolorosa ente as igrejas, católica e ortodoxa, onde a Virgem Maria está enterrada. Sim, ela está enterrada em duas igrejas no Monte das Oliveiras. Conheci todos os lugares da história da crucificação, como a Basílica da Agonia, o Monte Sião, a sala da última ceia.
Outro lugar que senti pulsar foi o Muro das Lamentações, principalmente pela fé dos judeus que caminham pelas vielas de Jerusalém na hora do pôr do sol para ir lá rezar.
Mas Jerusalém não é só formada pelos lugares em que viveu Jesus. Vimos o show de luzes no Templo de Davi, visitamos alguns museus, entre eles o moderno Museu do Holocausto, fomos em bares e restaurantes, e andamos muito a pé, tanto pela cidade murada quanto pela cidade nova. Fora as compras!
Terminamos o passeio conhecendo o Mar Morto e a fortaleza de Massada, tão triste quanto o deserto ao seu redor. Mas mesmo assim, se eu pudesse, passava todas as semanas santas da minha vida em Jerusalém.