Minha querida Milano
Minha querida amiga e editora do Pedaço da Vila, Denise Delfim, sempre me cobrou para eu escrever a respeito da cidade de Milão, lugar onde morei, estudei e que vou guardar para sempre no meu coração. Enquanto lá estava, sempre pensava na minha Vila Mariana e planejava minha volta. Saudade é um sentimento único e, quando se mistura com a poesia da vida e, com os bons momentos vividos, torna a escrita fácil. Meu amado Caymmi tem uma música que diz: “Você já foi à Bahia? Não… Então vá!” Quero roubar docemente essa frase e perguntar: querido(a) leitor(a), você já foi a Milão? E aos que ainda não foram, quero dizer: então vá! E é para você, que, um dia, com certeza, irá, que vou falar sobre a minha Milano!
Milão, a segunda maior cidade da Itália, fica na região da Lombardia, ao Norte, e tem na região metropolitana da cidade a maior população do país — que gira em torno de 4,5 milhões de habitantes. Um dos feriados mais importantes da cidade é o dia 25 de abril — Dia da libertação — que comemora a libertação de Milão da ocupação alemã, durante a Segunda Guerra Mundial. Nessa data sempre há festas cívicas nas escolas, e o orgulho dessa conquista é lembrado pelas novas gerações.
O presente e o passado estão sempre se encontrando em Milão. Você pode andar de bonde, deslumbrar-se com os carros luxuosos passando, ou andar de bicicleta tranquilamente, encantando-se com as riquezas históricas que a cidade oferece. A Galeria Vittorio Emanuelle II fica na Piazza Del Duomo (Praça da Catedral) e é um edifício que começou a ser construído em 1865, que tem um teto de vidro original e belo, e é considerado o shopping mais antigo do mundo. Passar por lá é sentir Milão em cada detalhe. O antigo e o moderno se misturam; é só observar a arquitetura contemporânea do Edifício Pirelli, entre outras que a cidade abriga — é de encher os olhos. Conhecer a Fiera Milano, o maior complexo de feiras e exposições do mundo, é passeio obrigatório. Tudo o que é novidade em matéria de móveis, design, artes e moda passa por lá! Os maiores profissionais do mundo nessas áreas, pelo menos uma vez por ano, marcam presença na cidade — o burburinho é geral!
Não deixe de conhecer o “Quadrilátero della Moda”, formado pelas vias: Montenapoleone, Spiga, Sant’Andrea, Manzoni e Corzo Venezia. Lá é o paraíso para os apaixonados por moda, onde há grifes e novidades que circulam por Paris, Nova York, Londres… haja euros para gastar!!!
A Duomo di Milano fica na praça central da cidade (Piazza Del Duomo) e é a sede da arquidiocese de Milão. No estilo gótico, imensa no tamanho e deslumbrante nos detalhes, começou a ser construída em 1386; ali o mármore de Candoglia é o grande destaque. Do seu terraço, parada obrigatória, é possível ter uma visão de toda a cidade. Sempre digo: se em Roma há o Vaticano, em Milão há a Duomo. E também o Scalla Ópera, que fica na Via Filodramma Tici, 2, templo sagrado da música clássica, das óperas, das divas, dos grandes cantores. Assistir a uma ópera no Scalla é um momento definitivo e inesquecível na vida de qualquer pessoa que ama a cultura, as artes, o teatro e a música! Eu tive o privilégio de assitir ali os tenores Luciano Pavarotti, José Carreras, Plácido Domingo, além de outros cantores maravilhosos!
O futebol é um caso à parte em Milão, que não cabe somente num artigo, mas vou resumir: dois times apaixonantes e duas torcidas apaixonadas! Vale assistir a um clássico Internazionale (1908) x Milan (1899) no Estádio de San Siro (nome do bairro que fica na zona leste da cidade), também conhecido como Giuseppe Meazza (1910–1979) — um famoso jogador de futebol nascido em Milão que foi campeão mundial pela Itália nas copas de 1934 e 1938. O encontro desses times, em casa, é um espetáculo fascinante para quem ama futebol! As torcidas “brigam” até pelo nome do estádio: o Milan prefere chamá-lo de San Siro; e o Internazionale, de Giuseppe Meazza. Para isso há uma explicação: Meazza fez quase toda a sua carreira no Inter, que até recentemente teve como técnico o querido e competente brasileiro Leonardo, que já foi técnico do Milan… Portanto, o Brasil sempre se faz presente por lá.
A “minha Milano” tem parques: o Forlani (235 hectares) é o maior da cidade. Há também o Sempione e outros, menores, mas em todos eles as árvores são tratadas com carinho e cuidados especiais e, principalmente, com respeito! Os moradores se unem e se organizam em associações para ajudar e cobrar das autoridades o cumprimento de suas obrigações de zelar e cuidar da cidade com transparência e eficiência. Inclusive na Universidade de Milão há um concorrido curso de Direito Comunitário. Por sinal, a vida universitária em Milão fervilha em vários idiomas. Estudantes do mundo inteiro buscam seus cursos de Pós e Doutorado. Eu tenho muita saudade da minha fase acadêmica, quando lá fazia o meu doutorado. Na universidade existem quiosques acolhedores pelo campus, vale uma visita, de preferência saboreando os deliciosos sorvetes italianos, num dia ensolarado! Não deixe de experimentar os sorvetes da Bianco Latte. São ótimos!
A cidade é bem servida por linhas de metrô: as estações Lotto Fiera e Amendola Fiera ficam próximas de bons hotéis, com preços variados, que cabem em qualquer bolso — é só saber escolher com critério. Albergues também existem em Milão, e os preços e os hóspedes são sempre bem interessantes. Não deixe de tomar um espresso nos charmosos cafés que a cidade oferece. Eu gosto do Cova Caffé (fica perto do Scala), mas há também o Biffi e o Zuca, deliciosos! Restaurantes há para todos os gostos e bolsos… Os mais caros e chiques estão no centro histórico. Os mais populares e tradicionais estão nos distritos de Brera e Navigli. Eu adoro ir no “Le Barrique!”, que tem ótimos vinhos, bons preços e boa comida. Ele recebe de 25 a 30 pessoas e fica na via Anfiteatro, 12, perto do Parque Sempione e do Piccolo Teatro, frequentado por pessoas bem legais, artistas, pessoal de teatro. Um dos proprietários, o Alessandro, é também o sommelier do restaurante — não deixe de experimentar o ravióli ao gorgonzola e o cordeiro pré-salé — garanto, são deliciosos! Pizzarias há várias: II Pomodorino (Rua Crema), Romano, Monterosso (ambos no Corso Lordi), e muitas outras, tão
boas quanto essas! Afinal, estamos na Itália… Panetone, colomba da Páscoa, gorgonzola; tudo nasceu em Milão, e que bom que trouxeram para o Brasil! É uma forma de a gente matar as saudades…
São Paulo e Milão foram oficialmente declaradas cidades irmãs em 1962. Lá tem o Largo Brasília, em homenagem à cidade de São Paulo — poderia ser Largo São Paulo, né? Nunca entendi essa “homenagem”… E aqui, no Parque Ibirapuera, tem a Praça Cidade de Milão. E viva Samlano! Essa mistura deliciosa de Sampa com Milano!!! Pastel com panetone! San Siro e Vila Mariana, porque, no fundo, somos todos brasilianos!!!
Maria Cecília Julião é advogada e Pres. Do Conselho Diretor da AVMU Associação Vila Mariana Unida