Eslovênia: Um país de contos de fadas

A Eslovênia (ou Slovenija, já que a letra “j” se pronuncia como se fosse a letra “i”) é uma república europeia relativamente nova. O pequeno país, de aproximadamente dois milhões de habitantes, situado a leste da Itália, ao sul da Áustria, a oeste da Hungria e ao norte da Croácia, tornou-se independente da antiga Iugoslávia em 1990, num processo infinitamente menos doloroso do que o das vizinhas Croácia e Bósnia. 

Em razão da existência dos vários impérios que dividiram a região dos Bálcãs por séculos a fio, podem ser encontradas nesses países da antiga Iugoslávia muitas diferenças culturais e religiosas. Grande parte da costa da Croácia, por exemplo, já pertenceu a Veneza — de fato, as suas alegres cidades litorâneas lembram muito as cidades italianas. A Bósnia, que permaneceu séculos sob o domínio do Império Turco-Otomano, possui uma população majoritariamente muçulmana e nítida influência turca em cidades como Sarajevo, sua capital. Por sua vez, a Eslovênia possui mais afinidades culturais com a Áustria, mesmo porque, já a partir do século XIV, boa parte do país ficou sob o poder dos Habsburgos, a família real que viria a constituir o Império Austro-Húngaro. 

Segundo a promoção que o próprio país faz de si mesmo, a Eslovênia seria uma “Europa em miniatura”, “o lado ensolarado dos Alpes”, “um pedaço verde da Europa” etc. Na verdade, a idílica Eslovênia é tudo isso e muito mais. Viajar pelo país é relativamente rápido, tendo em vista que somente duzentos quilômetros separam uma ponta da outra. Contudo, nessa pequena extensão, pode-se ver de tudo um pouco, desde praias, em seu pequeno litoral de 47 km, até cavernas cuidadosamente esculpidas pelo tempo, passando por cenários alpinos de tirar o fôlego.

O primeiro dos passeios que recomento é ao Castelo Predjama, dramaticamente encravado numa montanha. A minha visita ao castelo foi mais do que agradável. Como era a última semana do ano letivo antes das longas férias de verão, encontrei vários grupos de crianças excursionando. Todas eram lindas, educadas e, como também eram muito simpáticas, fizeram várias poses para as minhas fotos, enquanto desenhavam o castelo. Deu até vontade de trazer uma delas para casa. 

Ali perto, outro ponto imperdível são as Cavernas de Postojna. Um trem percorre quatro quilômetros dentro da caverna, e o percurso seguinte é feito a pé, em mais ou menos uma hora e meia. No caminho, podem ser apreciadas estalactites e estalagmites que demoraram milênios para se formarem, resultando em formas até mesmo sobrenaturais. Outra atração interessante é o Proteus anguinus, também conhecido como peixe-humano: uma pequena salamandra cega que vive nas profundezas das cavernas da região e cuja pele lembra a humana. 

Mas talvez a visita mais impressionante seja ao Lago Bled, um lago alpino cercado por montanhas e com uma pequena ilha em seu centro. Há uma trilha que permite contornar o lago a pé, em mais ou menos duas horas, e os mais aventureiros ainda podem subir no Monte Triglav, ponto mais alto da Eslovênia (2864 m), que fica na região. Para aqueles que só quiserem mesmo dar uma geral, a dica é visitar o Castelo Bled, onde se pode almoçar apreciando a bela vista. O acesso à ilha é feito por meio de um barco sem motor, para não assustar os animais que lá vivem. Além do remo deslizando delicadamente na água verde-esmeralda, o único som que se ouve é o badalar do sino na igrejinha barroca que fica na ilha. Diz a tradição que a corda do sino deve ser puxada três vezes, após o que se deve fazer um pedido. Não precisa dizer que uma fila de turistas se formou rapidamente para garantir a boa sorte. 

O clima romântico não se encontra apenas no interior da Eslovênia. A sua capital, Ljubljana, uma das menores da Europa, é uma bonita e organizada cidade de aproximadamente 200 mil habitantes, repleta de edifícios no estilo art noveau. O ponto de encontro usual é a cidade antiga, ao redor de seu antigo castelo, que pode ser acessado a pé ou por meio de funicular. 

Na cidade antiga, vários bares e restaurantes se espraiam com suas mesinhas às margens do Rio Ljubljanica. Trata-se de um excelente local para passear à noite e, quando bater aquela fome, tentar saborear uma iguaria que vem da Ístria: as trufas negras e brancas. Um prato de massa com lascas de trufa, acompanhado de uma taça de vinho da região de Karst, é uma das iguarias mais divinas que já experimentei. 

Já durante o dia se pode aproveitar a feira local, que vende de tudo um pouco. O destaque fica para as saborosas frutas vermelhas e a variedade de flores. Mas o mais curioso de tudo é a vaca eletrônica, uma máquina onde se pode comprar leite fresco. Ela funciona mais ou menos como uma máquina automática de café. Basta colocar a moeda, escolher o tamanho da garrafa, e a máquina a enche de leite.

Entretanto, nem tudo foram flores nessa viagem. Em uma noite, quando estava passeando tranquilamente pela orla do rio, de braço dado com meu marido, escutei algo assustador e, infelizmente, muito familiar. Alguns jovens dentro de um bar cantavam “Ai, se eu te pego”, do Michel Teló. E em português!

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