De carona pela América Latina
O desejo de conhecer a cultura e a paisagem dos países latinos sempre fez parte de meus sonhos juvenis, alimentados com leituras dos relatos de Guevara. A realização do sonho se deu no início deste ano, durando exatamente 60 dias, entre os meses de janeiro e março, quando eu e minha recém-namorada, Angélica, — havíamos nos conhecido um mês antes da aventura — partimos em direção ao sul do Brasil, com destino ao Uruguai.
Além da paisagem uruguaia, ainda iríamos pisar em solos argentinos, chilenos e bolivianos, retornando ao Brasil pelo estado do Mato Grosso do Sul, após uma jornada que contabilizou 60 caronas, no melhor estilo Kerouac, e noites em campings, florestas, albergues, além das histórias e incríveis pessoas que trouxemos no coração. Com duas mochilas cargueiras e um mapa da América do Sul, com um roteiro que previa a passagem por quarenta cidades, partimos pela BR-116 em 19 de janeiro, na intenção de realizar todo o trajeto de carona.
O fantasma da ansiedade logo nos deixou, quando percebemos que a estrada nos acolheria. A generosidade dos caminhoneiros nos impressionou, e logo estávamos no Uruguai, onde passamos por toda a costa e nos alojamos em praias como Punta Del Diablo, Valizas e Cabo Polonio, até finalmente chegarmos a Montevidéu. As praias impressionam pela linda vegetação permeada por bosques de pinheiros, pela quantidade de artesãos e artistas mambembes que escolhem essas regiões para passar temporadas, pela cordialidade dos “campesinos”, pelas noites prazerosas regadas a vinho, na beira da fogueira.
Em Montevidéu tomamos uma balsa, o Buquebus, cruzando o Rio da Prata até Buenos Aires. A bela capital portenha nos reservava longos passeios pelos bairros Recoleta e San Telmo, onde assistimos uma apresentação de tango ao ar livre, na Praça Dorrego. Seguimos para o sul em direção à Patagônia, em uma carona muito peculiar com Mariano, um artesão vendedor de facas artesanais que viajava com um velho Volkswagen branco. Passamos por San Martín de Los Andes, Villa La Angostura e Bariloche. Um dos mais belos trechos da viagem foi o caminho dos sete lagos, em que por todos os lados se vê água cristalina em abundância, ao pé de montanhas com superfície congelada que ganham ainda mais riqueza visual ao pôr do sol. No Chile, subimos do sul ao norte conhecendo cidades aconchegantes como Puerto Montt, Valdívia, Villarica e Pucón, até chegar a Santiago, onde presenciamos uma efervescente vida noturna curtindo uma madrugada na Rua Pio Nono.
Com mais alguns caminhões e meia dúzia de automóveis generosos chegamos ao norte, em São Pedro de Atacama, a cidade mais histórica do deserto latino. Nela, iniciamos um tour de jipe pelo deserto entrando na Bolívia, conhecendo a única lagoa vermelha do mundo e o Salar de Uyuni, um gigantesco deserto de sal. A Bolívia nos reservaria bons momentos nos mercados municipais de Potosí e Sucre, em que experimentamos uma culinária peculiar, rica em legumes e com variedade surpreendente de grãos, como a quinua e o milho, muito cultivados na região.
A viagem teve seus últimos momentos na cidade de Santa Cruz de La Sierra, onde tomamos o famoso “trem da morte”. O trem não apresenta perigo algum, além do desconforto de uma viagem de 18 horas. Dentre as lições que tiramos, ficou a cordialidade dos uruguaios e chilenos, o vigor e o bom humor dos argentinos, a simplicidade e a autonomia dos bolivianos. A vontade de continuar a aventura está presente sempre que recordamos dos momentos em que trocamos experiências culturais e dividimos o desejo de uma América unida. Em breve, continuamos pelo Peru…
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