Eu fui pra Cuba!
Sempre tive vontade de conhecer a encantadora Cuba e seu povo alegre, mas a ideia ganhou força quando o tio Sam começou a sinalizar que o bloqueio poderia ser suspenso. Pensei, se os gringos começarem a invadir cultural e comercialmente a ilha, tudo vai mudar, então é hora de ir para conhecer o país antes que cheguem as grandes cadeias de lojas e shoppings dos ianques e mudem a paisagem urbana e a vida na ilha.
Percebi que outras pessoas partilhavam da mesma ideia, nos unimos e fomos em busca de um roteiro de viagem que não fosse recheado de praias, queríamos saber mais da cultura e da história cubana. Descobrimos que esse tipo de programa não era comum, mas uma agência nativa tinha o roteiro do jeito que imaginávamos.
Durante a semana em que estive na ilha, recebi uma tonelada de informações do guia cubano — daria até para escrever um livro! Percorri mais de mil quilômetros em um micro-ônibus e, de Havana, fui às cidades de Guamá, Cienfuegos, Trinidad, Sancti Spiritus, Santa Clara, Varadero e, ao final, voltei para Havana.
A viagem aconteceu no final de fevereiro, mês de clima ameno em Cuba; fui em companhia de quatro portugueses, três chilenas, um argentino e minhas duas amigas brasileiras.
Havana é separada por épocas: a parte velha, Habana Vieja, que é patrimônio mundial da humanidade desde 1982, e Havana Moderna. Cuba mantém a arquitetura do século XVI. As casas e os prédios antigos, que estão principalmente em Habana Vieja, por lei, só podem ser restaurados. Por isso, vi muitas obras sendo feitas e outras por fazer. Uma das atrações da parte velha, além do desfile dos carros dos anos 50, é a Bodegita del Medio: o bar ganhou o nome porque não fica na esquina, mas no meio do quarteirão.
O boteco é especial porque o famoso escritor Ernest Hemingway bebia lá o seu mojito, coquetel que combina rum com açúcar, soda, gelo, limão e folhas de hortelã. Claro, como qualquer ponto turístico do mundo, o mojito nesse bar custa bem mais caro, e, por “supuesto”, não bebi nesse lugar. Na Havana Moderna, os ares são dos anos 30 do século XX. Nessa parte da cidade, há vários anos em reforma, fica o Captólio Nacional, que lembra a Casa Branca dos EUA. Foi por ali que conheci uma antiga fábrica de rum que hoje é uma espécie de museu e estande de vendas. Após ter visto o passo a passo do processo de sua fabricação, ganhei, ao final da visita, um cálice da bebida — que me animou a comprar “recuerdos” das várias qualidades de rum que estavam expostos para venda.
Seguindo viagem no micro-ônibus, fomos para Guamá, onde encontramos o cenário que representava a aldeia indígena da tribo Tainá, que viveu naquela Península de Zapata. Esse passeio nos fez voltar ao tempo primitivo. Depois foi a vez de Cienfuegos, nome em homenagem ao revolucionário cubano Camilo Cienfuegos Gorriarán. É uma cidade costeira que tem o apelido de Pérola do Sul pela sua arquitetura francesa com estilo neoclássico. Dizem que Cienfuegos é a Paris de Cuba, mas, nem todas as construções têm estilo francês, como o Teatro Tomás Terry, edificado em estilo italiano. A cidade também é famosa pelos locais para mergulho.
Trinidad é pequena e parece uma cidade do interior do século XVII, é dedicada ao turismo. Lá, visitei o Museu Romântico, todos com várias obras de artes e peças antigas originais.
Santa Clara é a cidade ícone da revolução cubana. Nela, o trem blindado do exército do ditador Batista foi tomado pelos revolucionários, impedindo que suprimentos e armamentos chegassem à frente da batalha e, por isso, as tropas do governo foram rendidas. Os vagões do trem interceptado estão no local para serem visitados. Depois, fomos ver o Monumento e conhecer o Museu do Ernesto Guevara de La Serna, o Che Guevara. Ali estão os restos mortais do médico argentino que se tornou ministro da Indústria em Cuba, e morreu em 8 de outubro de 1967. Não é permitido entrar com câmeras. No museu, há vários objetos pessoais do Che, desde boletins da escola até roupa e armas. As chilenas e o senhor argentino ficaram muito emocionados.
Por fim, chegamos a Varadero, estância balneária que fica na península de Hicacos, cheia de hotéis de frente para a praia. A maioria dos hotéis trabalha no sistema all inclusive, isso é: bebidas e refeições à vontade. O hotel em que fiquei era muito bonito, de fácil acesso ao mar e com uma grande piscina no meio dos pequenos prédios de dois andares, onde estão os quartos; mas há problemas de manutenção, e o pior é o cheiro de mofo provocado pela umidade marítima. Encontrei turistas canadenses, russos e norte-americanos. Os canadenses disseram que durante o rigoroso inverno daquele país, a solução é fugir para o calor de Cuba.
A sociedade cubana tem alguns cuidados que chamam a atenção, vi cachorros de rua que tinham registro de vacinação, não vi crianças pedindo esmolas nas ruas, sempre as vi de uniformes, indo para escolas, e nem moradores de rua. Também não vi assalto ou roubo, as cidades são seguras.
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