Crônica de Coimbra
Coimbra é uma cidade portuguesa onde se respira cultura e tradição universitária, de renome não só em Portugal como no exterior. A universidade de Coimbra é das mais antigas da Europa e disso se orgulha. Todos os anos, no início das aulas, a cidade se agita com a chegada de novos estudantes que lotam as pensões da cidade .
Após a revolução de 1974 em Portugal, o fado de Coimbra e as capas negras – indumentária peculiar dos estudantes -, foram considerados coisas de fascistas e assim, durante algum tempo saíram de cena, mas aos poucos voltaram a aparecer para alegria dos tradicionalistas.
A capa e a batina embora sejam usadas já em outras universidades portuguesas, são uma característica da universidade de Coimbra, assim como o fado típico e dolente, que tem uma toada menos fatalista que o fado de Lisboa, mas também sentimental, geralmente invocando saudades ou amores não correspondidos.
“Desgarradas em Coimbra / São amorosos descantes / pois é lá que o fado timbra / Na boca dos estudantes / Eu quero que o meu caixão / Tenha uma forma bizarra / A forma de um coração / A forma de uma guitarra”. A inspiração para todos esses poemas emerge das tricanas (moças naturais de Coimbra) e que são a tentação dos estudantes. A vida estudantil é, ali, tão cativante que muitos alunos provocam a repetição para permanecerem na cidade, naquela vida de boêmia.
A tradicional festa da queima das fitas, em julho, comemora o final do curso de mais uma leva de estudantes, que para o resto das suas vidas lembrarão sempre os dias vividos em Coimbra.
Na cidade tudo é poesia. O choupal (mata de choupos) que margeia o rio Mondego que corta a cidade, inspirou muitos poetas e muito cantadores. Nas tardes de Primavera, passeiam os estudantes pelas suas margens buscando a inspiração para os seus poemas, ou então, contemplam no Penedo da Saudade, que se ergue sobranceiro, um panorama deslumbrante, vislumbrando-se com, de um lado toda a cidade e do outro, o rio Mondego espraiando-se preguiçosamente por entre os choupos.
É onde os recantos escondem seus mistérios na penumbra mansa, as cigarras despertam com seu canto contínuo e monótono – enquanto o rio corre ora manso ora revolto. No luar, a imaginação se solta ao encontro do desconhecido e desejado, por vezes receado. É nessa penumbra do anoitecer que o olhar se adoça, a voz é um sussurro… Há uma carícia esboçada, um beijo correspondido, uma despedida, uma saudade. Tudo é romântico naquela cidade.
A festa da Rainha Santa,é uma tradição que todos os anos trás muitos forasteiros a Coimbra, assim como a festa Medieval que ocorre em junho, igualmente concorrida. Com uma população de 148 mil habitantes, Coimbra diverge de outras cidades pela quantidade de população flutuante que, na época das férias, debanda para a sua terra natal.
Coimbra foi o foco da irradiação do Renascentismo em Portugal, através dos seus introdutores Nicolau de Chanterenne e João de Ruão. Grandes escritores e poetas como Antero de Quental, por ali passaram, também. Além de grande centro irradiador de cultura, é uma cidade romântica, fiel às suas tradições, aos mitos e às lendas que através dos séculos se enraizaram e que, de forma harmoniosa, congrega na sua arquitetura o estilo antigo e pouco confortável dos casarões, com as modernas e cômodas residências. De qualquer forma, o que não foi ultrapassado ou esquecido são as suas tradições estudantis que fazem de Coimbra a cidade do saber e da boêmia.
O rio Mondego que corta a cidade é testemunha muda da trajetória anterior à ocupação romana, já que, antes deles, havia a cidade de Aeminium. Foram os romanos que desenvolveram a região. Os resquícios dessa ocupação se concentram nas ruínas de Conímbriga, uma cidade vizinha que em sua época áurea foi a mais importante. Dentro e fora da cidade, os pisos, pilares e restos de paredes recontam a história da cidade, derrotada não por falta de muralhas ou de bravura, mas pela água: os bárbaros impediram o fluxo de água no aqueduto e Conímbriga se rendeu.
Coimbra cresceu olhando para o Mondego, em sua margem direita, mas também contemplando os edifícios históricos tão importantes. É difícil eleger o que ver em um passeio rápido.
A Sé Velha em estilo românico foi construída no século doze. Saqueada por Napoleão foi restaurada no século dezenove. Aimponente construção é considerada a mais bela edificação românica de Portugal. Mas é a Universidade de Coimbra o lugar mais importante da cidade, desde séculos. Aquele prédio tão tradicional, antes do destino acadêmico, viu nascer todos os reis de Portugal da primeira dinastia.
No Penedo da Saudade fica um jardim do século dezenove, construído para lembrar a história do romance entre o então príncipe dom Pedro e Dona Inês, dama de companhia da mulher de Dom Pedro, Dona Constança. O romance culminou no assassinato de Dona Inês, dizem que a mando do rei, na quinta das lágrimas.. Quando o príncipe Dom Pedro assumiu o trono, condenou os dois assassinos de Dona Inês à morte mandando extrair-lhes o coração: de um pelo peito e do outro pelas costas. Este episódio foi documentado por Luis de Camões em um dos cantos mais famosos de “Os Lusíadas”.
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