Os vizinhos

Eu nasci em 8 de janeiro de 1917, o segundo filho, às 10 da noite em casa, com a parteira dona Hilda. Eu chorava muito, não parava. Minha mãe não tinha leite e uma vizinha, Dona Rosa, estava amamentando. Ela disse para minha mãe: – Dona Filomena, ele está chorando porque está com fome! E minha mãe falou: – O que eu posso fazer, meu leite ainda não desceu…Aí dona Rosa perguntou à minha mãe: – Quer que eu dê meu leite? Ela estava com o peito cheio de leite… Então, o primeiro leite que mamei na minha vida não foi da minha mãe, foi da vizinha, Dona Rosa.

Este exemplo de vida mostra bem como era a amizade da vizinhança. Éramos uma família. Havia colaboração. Ajudávamos uns aos outros.

Quando uma pessoa adoecia, um lavava suas roupas, outro limpava a casa e o outro levava a sua comida. Imagine as festas, então? Esta amizade dava muita segurança e saúde, cada vizinho sabia que podia contar um com o outro.

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Minha avó, Dona Domingas, criou cinco gerações –mãe, filha, neta, bisneta e tataraneta. Ela morreu com 88 anos. Minha mãe também conseguiu criar cinco gerações – morreu com 96 anos. Em 1951, minha mãe e pai foram padrinhos de casamento da Luzia, sua bisneta! A fraternidade é o melhor remédio.