Minhas memórias

Por volta de 1917, quando nasci (na rua Humberto I), a Vila Mariana já havia se tornado próspera. No Largo da Guanabara, onde hoje é a estação Paraíso do Metrô, havia a igreja de Santa Generosa e a cervejaria Guanabara, onde trabalhavam muitos alemães, que residiam na rua José Antônio Coelho. Esse lado era repleto de chácaras de verduras; e nas imediações da rua Oscar Porto havia um campo de futebol do clube Guanabara. Ali também estava a fábrica de borracha “Fanabor”. Na rua Cubatão, havia a metalúrgica “La Fonte”! A av. Paulista — rua mais importante da região — era totalmente calçada.  Em meio a nobres construções, foram construídos o grupo escolar Rodrigues Alves, o hospital Santa Catarina e o Instituto Pasteur (1905). No bairro do Paraíso, estabeleceram-se os sírios e libaneses, perto da atual catedral ortodoxa.

Com a chegada de tantos imigrantes, de várias nacionalidades, houve a necessidade de novas escolas, com professores que ensinavam na sua língua de origem. Estudei numa delas, na rua Major Maragliano. Meu professor chamava-se Francisco Spera. Nossas ruas não eram calçadas, somente a rua Domingos de Moraes, onde as linhas de bonde duplicavam e as casas de negócios cresciam.

Por volta de 1915 –1917 a região ganhou o abastecimento de água, vindo da Cantareira ou de Cotia para a caixa d’água da rua Vergueiro, nesse tempo já construída.

Depois vieram as indústrias: além da fábrica de fósforos, havia a de chocolate Lacta e a cervejaria, os dois curtumes próximos ao matadouro, a fábrica de banha, a fábrica de pasta para calçados “Duas Âncoras”, a fábrica de pianos Brasil, a de sabão. Fora a cervejaria Guanabara, todas as outras fábricas situavam-se no pedaço.

Já existia comércio, próximo à linha de bonde, para facilitar o transporte, mas, foi a chegada das fábricas que movimentou o bairro.