Brincadeira de criança
Nos meus tempos de criança – façam a conta, nasci em 1917 -, o que mais tinha era espaço e liberdade para brincar. Os moleques que moravam na região – descendentes de portugueses, alemães, árabes, negros e italianos, como eu – reuniam-se para jogar futebol, bolinha de gude, apostar corrida, empinar pipa, roubar frutas dos vizinhos e matar passarinhos (depois nos arrependíamos…).
Uma das brincadeiras preferidas era explorar a mata fechada do Ibirapuera. Lá nadávamos nos lagos e caçávamos rãs. Outra aventura era matar cobras! Fazíamos trilhas até as cachoeiras e voltávamos a tardinha cansados e mortos de fome para casa. Á noite, à luz do lampião, era a hora da ciranda na rua.
Todos gostavam das mesmas brincadeiras – independente da descendência -, e quando fazíamos alguma arte, logo a reclamação chegava em casa, pois todo mundo conhecia todo mundo! E aí apanhávamos era de cinto!
Meu avô morava numa chácara na rua Humberto I. Lá tinha uma grande pereira e ele fechava o portão para que a molecada não entrasse. Só que descobri que dava para chegar no seu quintal pelo vizinho e vivia comendo suas pêras. Um dia, subi lá no alto do pé e me enganchei num de seus galhos. Fiquei preso e comecei a chamar pela minha mãe, só que ela não estava e quem veio foi meu avô. Fui flagrado roubando pera do meu próprio avô! E ele me disse: Ah! Agora sei quem é o amigo das peras!
Essas lembranças de minha infância são da década de 20. Aos 10 anos comecei aprender o ofício de barbeiro com meu tio e não sobrou tanto tempo para as brincadeiras… Elas trazem uma emoção muito grande, não só pela saudade daquele tempo, mas de muitos amigos da época que já se foram. Ah! Vila Mariana! Repleta de árvores, córregos e brincadeiras!