Aventuras no rio Boa Vista

“A Gente tinha um capinho de futebol na Vila Mariana onde passa um rio”

Essa frase é do Levy lembrando da época em que na Rua Bagé — no fim da Rua Beiruth — nós fizemos um pequeno campo de futebol ao lado do Córrego Boa Vista. Verdade! 

Bem ali, descendo ao lado Travessa Humberto I, atravessando a fábrica da Cera Record e entrando por onde é hoje a Rua Maestro Calia e desaguando no Ibirapuera, navegava “MAJESTOSO” — coisa de criança — o Córrego Boa Vista.Vocês não têm ideia o que é para uma criança ter um rio para chamar de “seu”.

A gente vivia nesse córrego dia e noite. Nossos pais odiavam e a gente adorava. Jogávamos bola, acampávamos, fazíamos expedições como “Bandeirantes” para achar tesouros escondidos entre a Rua Humberto I e o Ibirapuera.

Isso porque o Córrego Boa Vista vinha lá de cima, da Domingos de Morais, e descia até o Rio Pinheiros, atravessando por baixo de onde hoje está o Hospital Dante Pazzanezze e invadindo a várzea do Ibirapuera.

Alí, na altura do cruzamento da Maestro Calia com a Travessa Humberto I, existia uma fábrica de garrafas térmicas, que eu não lembro mais o nome, que deixava a gente brincar com os restos das garrafas que se tornavam tesouros nas nossas mãos (já naquela época existia crime ambiental porque o dono da fábrica jogava aquela parte espelhada de dentro da garrafa térmica no córrego, poluindo tudo). 

Pena que a gente era criança. Todos os vizinhos tinham filhos e éramos mais de 25. Uma tropa pronta para enfrentar os desafios do rio. Quando chovia — e chovia muito em  São Paulo — o nosso córrego Boa Vista se tornava um verdadeiro “Rio Amazonas” a ser desbravado. 

A esquina da Rua Dr. Amâncio de Carvalho se enchia de água. Perto do Detran antigo era um verdadeiro “mar” — aliás, até hoje quando chove. E lá íamos nós criando histórias, fazendo excursões e vivendo à margem do nosso rio com nossas espingardas de brinquedo, nossos chapéus de caçadores, nossos tênis todos alagados…e nossos sonhos.

Hoje o Córrego Boa Vista está todo canalizado por baixo das ruas da nossa Vila Mariana, mas continua lá… vivo! Vivo, claro.  Todo mundo diz que rio não morre. 

Eu e o Levy sabemos que o nosso rio não morre, porque toda vez que a gente passa ali pela Rua Dr. Amâncio de Carvalho — entre as ruas Maestro Calia e a Rua Astolfo Araujo — a gente para e escuta o som das suas águas correndo. Nós  sabemos que ele está ali embaixo — vivo —, exatamente como nós dois hoje. Bom dia, Levy. Mais um dia nas nossas vidas.

Valeu, parceiro.