Rita Kawamata
Rita Kawamata cresceu na Vila Mariana e há 8 anos vive no interior de São Paulo, onde formou-se instrutora de mindful eating com um professor de meditação neozelandês. Há 3 anos, abriu a Assertiva Mindfulness, pequena empresa que oferece cursos, palestras e workshops Brasil afora. A prática, que mudou sua vida, também transformou a de seus alunos, pois, com atenção plena, segundo a instrutora, é possível uma conexão que fornece ferramentas para mudar padrões de comportamento e redescobrir uma forma saudável de se alimentar. A seguir, ela explica como treinar a mente para alcançar tranquilidade e discernimento, resultando em melhores escolhas alimentares . Afinal, comer é um ato de autocuidado!
Pedaço da Vila: O que é mindful eating?
Rita Kawamata: Mindful eating é o comer consciente, quando estamos totalmente presentes, de uma maneira atenta e gentil ao mesmo tempo, em nossas escolhas alimentares e na forma como comemos. Mindful eating pressupõe abrir os sentidos para o alimento e estar presente: “Ao comer, apenas coma.” É o oposto de comer no “piloto automático”: quando a gente senta na frente da TV com um saco de salgadinhos e vai mastigando e engolindo com os olhos vidrados na tela… comemos um saco inteiro sem saborear nenhum deles.
Pedaço da Vila: Sentir o alimento, a textura e o sabor, por exemplo, acaba ficando de lado diante de televisores, celulares… Qual é a consequência, para a nossa saúde, dessa desatenção na hora de se alimentar?
Rita Kawamata: Se a gente come com a mente “em outro lugar” que não no nosso próprio corpo, a mente não “sabe” que estamos nos alimentando! Ela não “processa” a alimentação. Fica mais difícil ter discernimento sobre quanto alimento nosso corpo precisa naquele momento, quando estamos saciados, e até sobre os alimentos que nos farão bem. Fica mais difícil sentir verdadeira satisfação e gratidão pela refeição feita. Resultado: comer demais ou de menos, escolher alimentos inadequados, perpetuar a insatisfação, a sensação de “vazio”.
Pedaço da Vila: Como podemos praticá-lo? O método funciona com qualquer alimento?
Rita Kawamata: Podemos praticar em qualquer refeição, com qualquer comida, desde uma uva-passa até um hambúrguer. Basta escolher prestar atenção ao alimento, a mastigação, o engolir… E para ajudar existem técnicas de mindfulness (atenção plena) que nos conduzem a um estado mais focado, curioso e receptivo.
Pedaço da Vila: Para realizá-lo se faz necessário alterar a alimentação?
Rita Kawamata: Pelo contrário. Mindful eating não é dieta, é uma prática para trazer mais consciência para o que quer que esteja sendo ingerido. O interessante é que, depois que iniciamos a prática, muitas vezes espontaneamente mudamos nossas escolhas alimentares. Mas essas mudanças vêm da experiência do praticante, que passa a estar mais presente e atento às suas necessidades e preferências, percebendo o que faz bem para si e o que não faz, o que ele verdadeiramente precisa e quer.
Pedaço da Vila: De que maneira a alimentação interfere em nosso lado emocional?
Rita Narciso: Partindo do fato de que tudo o que comemos vira matéria-prima para o nosso corpo em nível celular, fica claro o quanto a nossa alimentação e a consciência colocada nela influi em nosso estado mental e emocional. Quantas vezes você, ao comer , mastigou e engoliu suas preocupações, ou sua raiva? E o inverso também acontece: passamos a perceber quando nosso estado emocional determina nossas escolhas alimentares. Por exemplo, alguém sofre uma frustração muito grande e, para compensá-la, procura um alimento que traga conforto, muitas vezes comendo demais (uma caixa inteira de bombons). Mindful eating nos fornece ferramentas para perceber esses padrões de comportamento, e tranquilidade e discernimento para rever nossas escolhas. Existem pesquisas científicas mostrando como a prática de mindfulness nos ajuda a desenvolver, por exemplo, regulação emocional. Há igualmente um protocolo baseado em mindfulness e terapia cognitivo-comportamental para prevenção de recaída em uso de substâncias (MBRP ou Mindfulness Based Relapse Prevention).
Pedaço da Vila: Essa prática auxilia de que maneira de acordo com a idade de quem a faz? Tem diferença para uma pessoa jovem ou um idoso?
Rita Kawamata: Pessoas de todas as idades podem se beneficiar. Ao mesmo tempo, a prática não tem “metas” ou “resultados” predefinidos. Quem precisa engordar engorda, quem precisa emagrecer emagrece, já que começa a atender melhor suas necessidades individuais. Comer, afinal, é um ato de autocuidado.
Pedaço da Vila: No Brasil, onde a quantidade de agrotóxicos nos alimentos é preocupante, o quanto essa prática poderá ajudar na hora de se alimentar?
Rita Kawamata: Em relação a agrotóxicos e aditivos artificiais, a prática de mindful eating é esclarecedora. Comer de modo consciente uma maçã orgânica e uma com agrotóxicos é uma experiência muito interessante, podendo ser realmente possível sentir o gosto da toxina influindo no sabor, no aroma… Aprender isso pela própria experiência é trazer luz para as escolhas que fazemos todos os dias na alimentação. Outro ponto importante é que estendemos a consciência ao ambiente ao redor e à história dos alimentos, reconhecendo a interdependência e refletindo sobre o impacto que nossas escolhas têm no mundo… Sabemos dos malefícios que os pesticidas causam não somente a quem os ingere, mas aos agricultores que os aplicam nas lavouras, ao ambiente e até às futuras gerações. Mindful eating nos encoraja a reconhecer essa realidade maior por trás de cada refeição.
Pedaço da Vila: No dia 31 de outubro, você ministrará, aqui, no bairro o “Workshop de alimentação consciente: treinando a mente para alimentar o corpo”. Qual é a metodologia do curso e quem pode participar?
Rita Kawamata: O workshop de mindful eating será realizado na Associação Cultural Saudável Mente (Rua Sud Mennucci, 133, Vila Mariana). Ele é aberto a qualquer pessoa que se sinta chamada a investigar sua relação com a comida e a nutrição de forma ampla, redescobrindo uma maneira saudável de se alimentar. A base deste trabalho é um conjunto de práticas para desenvolver a atenção plena, que incluem a meditação, mas em abordagem secular, não religiosa. Desenvolvi o workshop junto com Carol Lopes, com base em nossas experiências como praticantes e instrutoras de mindfulness, nossa curiosidade e interesse por saúde e alimentação, e também estudos e cursos específicos sobre mindful eating, como o da médica e praticante zen norte-americana Jan Chosen Bays e do mestre vietnamita Thich Nhat Hanh.
Pedaço da Vila: Quais são as transformações que ocorrem em seus alunos após começarem a praticar o método?
Rita Kawamata: Acreditamos que o workshop é o primeiro passo de uma jornada para a vida inteira… A pessoa aprende técnicas para integrar na vida e construir seu caminho de aprendizados. Na verdade, mindful eating é uma faceta de mindfulness, e em nossos cursos já vimos grandes transformações acontecerem. Especificamente nestes workshops, já soubemos de pessoas que mudaram sua relação com a comida e também reviram suas escolhas de vida. Um dos participantes após o workshop resolveu levar mindful eating para seu negócio: comida italiana. Outra pessoa relatou que achava que era consciente ao comer, mas percebeu como se distraía com músicas e leituras enquanto comia. Muitas vezes não temos consciência do quão desatentos vivemos!
Informações e inscrições: rita@assertivamindfulness.com.br