Evaldo Antonio Soares Filho

O 12º Batalhão da PM tem um novo capitão: Evaldo Antonio Soares Filho, 40 anos. Ele, que entrou para a Academia em 1997, onde permaneceu até 2009 na Força Tática, foi promovido em maio, de 2014. Atuando também na área de Força Tática, há 2 meses está no posto na Vila Mariana. “Tive vontade de adquirir novas experiências, fazer algo diferente e me dedicar a outro tipo de trabalho”, revela. Morador do bairro e familiarizado com as ocorrências da região, ele fala sobre os desafios da segurança no bairro, destaca os problemas recorrentes, apresenta sua metodologia de trabalho comunitário e orienta os moradores a se prevenirem da criminalidade

Pedaço da Vila: Que tipo de trabalho o senhor pretende imprimir no bairro?

Capitão Evaldo: Estamos desenvolvendo um trabalho mais comunitário, pois o sentido do policiamento é entender o funcionamento de uma área para preenchê-la com o serviço de segurança adequado. A função que estou exercendo atualmente é diferente da atividade da Força Tática, na qual o policial precisa lidar com manifestações, com índices criminais e ocorrências de determinados tipos de delitos. O comandante de policiamento chefia policiais para atender a demanda de uma área, já o ofício de capitão é mais estratégico.

Pedaço da Vila: O senhor conhece o bairro?

Capitão Evaldo: Eu sou morador da Vila Mariana. Praticamente nasci aqui, mudei para Santos, cidade natal do meu pai, ainda criança. Retornei a São Paulo quando ingressei na Academia. Eu conheço muito bem a região, os comerciantes, moradores; sei quais são os principais problemas daqui. Tenho diversos amigos no bairro. 

Pedaço da Vila: Qual é o maior problema da região?

Capitão Evaldo: O problema, em geral, fica na região dos metrôs, onde acontecem muitos furtos a transeuntes e roubo de veículos, nas imediações das estações. Outro local complicado, que exige a nossa atenção, é o entorno do Parque Ibirapuera; embora os delitos ocorram todos os dias, os casos são bem mais frequentes nos finais de semana. No geral, as principais queixas são de furto a transeuntes e roubo de veículos. Rouba-se muito celular; e sabendo disso, eu intensifiquei o patrulhamento nos corredores, priorizando a Rua Domingos de Morais, com muita atenção às pessoas com comportamentos suspeitos e que passam de moto. Nós estamos enfatizando a prevenção dos delitos, mas já fizemos alguns flagrantes e prendemos bastante gente. A tropa está muito motivada e conseguiu diminuir o índice de criminalidade no bairro. 

Pedaço da Vila: Quantos oficiais e quantas viaturas estão disponíveis atualmente?

Capitão Evaldo: Nós estamos rodando com um efetivo médio de 117 policiais e cerca de onze a doze viaturas, além de nossa base móvel e motocicletas. Posso afirmar que aumentou a quantidade de viaturas que fazem o patrulhamento. Muitos policiais que estão de folga vêm trabalhar, o que favoreceu muito o policiamento, pois as viaturas ficavam paradas por falta de efetivo policial.

Pedaço da Vila: Como funcionam as operações?

Capitão Evaldo: Nós temos diversos campos de atuação. Um deles é a Operação Delegada, que atua com a Subprefeitura no combate ao comércio irregular, como os camelôs. Entretanto, orientamos os policiais não só a fiscalizar os ambulantes, mas atuar na parte criminal, principalmente na região dos metrôs. A Vila Mariana tem cerca de 250 mil moradores; recebe todos os dias uma população de aproximamadamente 1 milhão a 1,5 milhão de pessoas que vem tra-balhar, e que merecem a mesma segurança que os moradores têm. 

Pedaço da Vila: No miolo do bairro quais são os pontos de maior criminalidade?

Capitão Evaldo: Nós estamos enfrentando um problema de furto de veículos. Existem  quadrilhas altamente especializadas nesse crime que vêm ao bairro com a intenção de roubar. São muito rápidas: conseguem abrir o carro, desligar o sistema de alarme, instalar o módulo próprio deles, ligar o veículo e partir com ele em um minuto. Geralmente são dois homens para cada furto, não têm estereótipos de bandidos comuns, pois andam bem vestidos e são discretos. Aliás, eu quero fazer um apelo aos moradores da Vila Mariana para que fiquem atentos quando virem duas pessoas dentro de um carro com atitudes suspeitas, dando voltas sem um propósito aparente. Pedimos que nos avisem, por meio do telefone 190 para que a polícia possa verificar e combater esse tipo de crime. Alguns bandidos que roubam veículos já foram qualificados e identificados. Posso dizer que a quantidade de roubos de carros nem sempre é tão elevada, ela oscila. Nesse último mês, por exemplo, nós encerramos com dez casos de roubos de veículos, o que é considerado um índice baixo, pelo tamanho da área de nossa responsabilidade: um bairro grande, com alta quantidade de automóveis circulando. A Vila Mariana é um bairro que chama muito a atenção dos criminosos. 

Pedaço da Vila: Os Boletins de Ocorrência são o meio mais eficaz para sinalizar os locais de maior criminalidade? 

Capitão Evaldo: Temos uma base de dados que é alimentada por esses Boletins de Ocorrência, portanto, se as pessoas não fizerem os BOs, nós não temos como saber quais tipos de crimes estão acontecendo em determinadas áreas, como está sendo a prática e os detalhes dessas delinquências. Para a Polícia é muito importante que o cidadão colabore com o registro.

Pedaço da Vila: O senhor tem ido às reuniões do Conseg? Como vê as reclamações da vizinhança?

Capitão Evaldo: Antes de assumir esse cargo, eu já estive presente nas reuniões do Conseg como tenente interinamente; também participei de outros Consegs de outros bairros, como no Campo Belo. A maior reclamação dos moradores no Conseg é a perturbação do sossego das pessoas: barulho. Esse problema  esbarra numa questão complicada, pois são 400 pessoas querendo batucar contra 400 pessoas querendo dormir. Nós incentivamos os moradores que estão sendo lesados a registrar os casos nas delegacias para que possam fazer valer seus direitos. Desse modo, a Polícia pode ter argumentos para tentar fazer valer as ordens judiciais que não permitem esse tipo de barulho, que tanto incomoda a vizinhança. Por aqui são muitos bares, faculdades e festas que favorecem esse tipo de problema com ruídos. Vale lembrar que é importante registrar criminalmente a perturbação do sossego, para que os proprietários dos bares e dos locais que estão fazendo o barulho sejam obrigados a adaptarem seus estabelecimentos para que esses transtornos com ruído causem menos impacto. Todos que se sentirem desrespeitados com barulhos podem ir às delegacias para registrar a ocorrência ou fazê-lo pela internet. 

Pedaço da Vila: A Vizinhança Solidária foi um projeto que começou muito bem, mas atualmente perdeu o ânimo…

Capitão Evaldo: Sim, mas voltou a deslanchar a todo vapor. Essa impressão de interrupção foi devido à transferência do Sargento Claudinei, que era um profissional excelente, com muita vocação e engajamento à Vizinhança Solidária. Ele tinha muito conhecimento sobre o bairro, uma ótima relação com a comunidade e conduziu o projeto muito bem, com muita paciência.  A ausência dele nos fez procurar um profissional com o talento igual ao dele, alguém comunicativo. Gostaria de assumir essas tarefas, mas tenho um volume de trabalho enorme e não consigo sair daqui para desempenhar esse papel com a mesma dedicação que ele teve.

Pedaço da Vila: Essa postura comunitária da PM estará presente nas reuniões do Conseg?

Capitão Evaldo: Ressalto que nós, da corporação, somos servidores. A Polícia Militar em sua hierarquia, isto é, desde o soldado mais jovem até o seu coronel mais antigo, se coloca como servidora da população. Nós somos preparados para receber todo mundo, principalmente as pessoas que estão passando por dificuldades. No que diz respeito ao Conseg, às vezes as pessoas vão lá com o objetivo de expor um problema individual. Só que o mais importante não é resolver um problema isolado, mas que todos tenham consciência de que o conflito está acontecendo politica e socialmente, não só nos seus bairros, mas em São Paulo e em todo Brasil. O Conseg tem a missão de fazer as pessoas refletirem sobre o problema da droga, a perturbação do sossego etc. Meu maior objetivo no Conseg é convidar as pessoas a pensarem sobre esses assuntos, não sópara resolver os obstáculos discutidos nas reuniões, mas também a formarem uma consciência sobre as questões a serem solucionadas. O Conseg é um formador de consciências, pois ele estabelece uma consciência coletiva, que é capaz de mudar politicamente o bairro. É muito importante o envolvimento de toda a sociedade não só nos Consegs, como em outros canais. A segurança pública é responsabilidade e interesse de todos. Por isso, a Polícia precisa do apoio de todo mundo, ouvir a população, mesmo aquelas informações que as pessoas suponham que não sejam importantes, mas que podem ser valiosas. Nós precisamos dessa interação da comunidade para realizar um trabalho mais eficiente.

Pedaço da Vila: Quais são as suas recomendações para que a vizinhança se proteja do crime e da violência?

Capitão Evaldo: Nós temos notado um aumento da criminalidade diretamente ligado às questões sociais. De uma forma geral, o Brasil todo está tentando combater o crime, tanto na esfera Federal, com o problema da corrupção, como também os crimes mais típicos, como roubos, golpes, furtos e assaltos. No caso específico da Vila Mariana, eu recomendo que as pessoas fiquem atentas aos seus bens, uma vez que é uma região nobre com muitos carros, celulares, laptops etc. É importante que as pessoas façam uso do seu material com mais cuidado. Aconselho que tenham mais atenção na rua e não fiquem distraídas usando e falando no celular, pois esse comportamento é alvo dos bandidos. Eu sei que é um direito do cidadão, entretanto, ele pode colaborar dessa forma, sendo menos disperso, a fim de evitar transtornos. A prevenção é a melhor postura para não ser surpreendido por bandidos. Caso a pessoa precise usar o celular quando estiver na rua, procure um local mais seguro, como o interior de um estabelecimento comercial. Os motoristas e passageiros de carros devem esconder bolsas e pertences, manter as janelas fechadas e estar sempre atentos. É imprescindível que a pessoa tenha uma ampla visão do local por onde anda, do quarteirão em que está; que procure informações sobre os índices de criminalidade em sua região e os tipos de infrações que estão sendo cometidos. Enfim, que tome as medidas necessárias para que sua segurança seja preservada. Nós também pedimos aos cidadãos que nos informem, caso vejam algum delito sendo cometido, ou uma pessoa suspeita ou mal intencionada. Existem dois telefones para esse tipo de notificação, que são o 190, Polícia Militar, e o 181, Disque Denúncia. Podem também ligar diretamente para 5579-3786. Saliento que mesmo objetos que pareçam desinteressantes, como casaco, sapato, carregador de celular, nunca devem ficar visíveis, pois são um atrativo para os bandidos.

Pedaço da Vila: O bairro passou por um problema sério com invasões de imóveis desocupados. Existem muitas casas que estão fechadas e vazias, para alugar, vender, ou com problemas judiciais, que são alvos da população sem teto. Como está essa situação no bairro atualmente?

Capitão Evaldo: Ainda não tenho essas informações… Mas posso afirmar que a Polícia Militar só pode agir no momento em que a invasão acontece. Se a entrada e instalação dessas pessoas já ocorreram, já não cabe à PM retirar esses grupos da propriedade. Vale lembrar que nós estamos de olho nas ações dessas pessoas para prevenir que isso aconteça, bem como na prática de criminosos que estejam mal intencionados em relação a esse tipo de propriedade. Estamos atentos, e se alguém for encontrado tentando entrar nessas casas, temos o direito de agir, pois isso configura flagrante delito.