O subprefeito Fabrício Cobra Arbex

Escolhido por Bruno Covas para comandar a regional da Vila Mariana, o novo subprefeito Fabrício Cobra Arbex  (43) tem um perfil diferente dos subprefeito anteriores. Advogado por formação e considerado bom gestor, foi assessor da Casa Civil do governo Alckmin, depois secretário-adjunto da mesma pasta e, em 2017, secretário estadual de Turismo. Em sua trajetória, também participou de associações de bairro, foi conselheiro do CADES de Pinheiros e tem como premissa a gestão participativa: “Eu estarei próximo dos conselhos e aberto às ideias para que a gente trabalhe com criatividade”, garante

Pedaço da Vila: Como foi a sua trajetória na vida pública?

Fabricio Cobra: Eu sempre fui apaixonado pelo tema cidade. Participei de associações de bairro, fui síndico, frequentei o CADES Pinheiros. Na minha experiência, eu percebi que há uma necessidade de a gente aproximar o poder público da sociedade civil. Quando mais próximo ele estiver, menor será a chance de errar. Em 2012, já com minha carreira na advocacia, me candidatei a vereador e não me elegi. Voltei para a advocacia. Eu sou advogado e estou na política contribuindo com a sociedade; eu sempre tive a minha carreira. O político moderno tem que ter a sua profissão. A passagem pelo governo não é eterna, ela vai acabar. E é isso que o político precisa entender. Em 2013, eu recebi o convite para ser assessor da Casa Civil do governo do estado. Na época, o governador Geraldo Alckmin queria pessoas mais jovens. Depois, em 2015, virei secretário adjunto da Casa Civil, e, em 2017, eu assumi, por 7 meses, a Secretaria Estadual de Turismo. Nela, eu descobri uma área que não era a minha e um potencial gigantesco da cidade que é pouco explorado. A grande crise do Brasil hoje é gerar emprego e o turismo tem um potencial fantástico de absorver rapidamente mão de obra de todos os níveis. O Carnaval de São Paulo, por exemplo, pegou, é uma realidade e movimenta a economia da cidade. O turismo me deu a experiência de ver a importância desses eventos: da gastronomia, horta urbana, artesanato, economia criativa… São questões que estão em pleno crescimento e consolidação e que vão gerar muitos empregos para a cidade. Em abril de 2018, eu saí da Secretaria de Turismo, fui candidato a deputado federal e não ganhei.

Pedaço da Vila: E então assumiu a subprefeitura Vila Mariana. Como ocorreu esse convite?

Fabricio Cobra: Quando eu já tinha voltado à advocacia, me coloquei à disposição do Bruno Covas para ajudá-lo na missão de governar a cidade de São Paulo, pois acredito nos ideais dele. Quando Alexandre Modonezi de Andrade, Secretário Municipal das Subprefeituras, me convidou para assumir a subprefeitura Vila Mariana, eu aceitei de pronto, pois é uma região que conheço e que gosto muito. A Vila Mariana é um bairro privilegiado por ter uma sociedade civil muito organizada e atuante.

Pedaço da Vila: Qual a sua relação com o bairro?

Fabricio Cobra: Eu sou da região. Apesar de não ser um morador da Vila Mariana, eu me sinto muito confortável aqui. É um lugar que conheço e me sinto muito tranquilo de estar presente. Tenho muitos amigos na região, participava das Olimpíadas do colégio Arquidiocesano. Desde pequeno eu morei em Santo Amaro, depois no Itaim e hoje moro na região de Higienópolis. Moema, Saúde e Vila Mariana são distritos que sempre fizeram parte da minha vida.

Pedaço da Vila: Qual foi a sua primeira impressão ao assumir a subprefeitura VM?

Fabricio Cobra: A melhor possível. A gente sabe das dificuldades administrativas e eu respeito muito o funcionário público; é muito trabalho para poucas pessoas. Eu estou muito animado de estar na subprefeitura Vila Mariana, com essa atuação que a sociedade civil tem aqui. Eu posso dizer que, em menos de um mês, estou adorando trabalhar na subprefeitura. Essa relação próxima com a sociedade é muito gostosa para quem tem como ideal trabalhar no poder público. Estou muito animado em poder ouvir as demandas da sociedade e poder contribuir.

Pedaço da Vila: Como está esse início de gestão e quais as suas prioridades no momento?

Fabricio Cobra: Estamos num período de chuvas, com queda de muitas árvores. Eu tenho ido aos locais para conversar com os moradores, tenho conversado muito com eles e com os funcionários na Praça de Atendimento. Como subprefeito, eu tenho que entender também as ferramentas de quem está trabalhando aqui. São poucos funcionários e muita demanda, e precisamos ajudá-los. Como melhorar o atendimento da Praça de uma maneira geral? A informatização ajuda muito o serviço. Este ano, a prefeitura vai lançar uma forma de licenciamento eletrônico. A gestão do Bruno Covas está priorizando cada vez mais a informatização para diminuir os processos e dar mais agilidade. Eu quero melhorar até as condições físicas do local. A sede da subprefeitura está sofrendo um pouco. Precisamos melhorar a qualidade do ambiente de trabalho dos funcionários. Isso é uma meta para mim. Com um ambiente bom, o funcionário fará um trabalho melhor e a população será melhor recebida. A minha expectativa é trazer a sociedade civil para dentro do governo e trazer as ações do governo próximas da sociedade.

Pedaço da Vila: Há um perfil semelhante dos subprefeitos escolhidos pelo Bruno Covas?

Fabricio Cobra: Eu acredito que sim. A nossa primeira missão é aumentar a zeladoria, fazer funcionar de forma mais eficiente. A gente sabe da dificuldade orçamentária da cidade. Então, temos que fazer com que o orçamento que temos seja utilizado da melhor forma possível para atende a população nas suas demandas. Em breve será lançado um sistema de monitoramento de acompanhamento simultâneo para saber onde estão todas as equipes de zeladoria. O grande desafio da prefeitura é a informatização; ainda há muito papel. A nossa segunda missão é aumentar a interlocução com a sociedade civil. A terceira missão, que considero importante também, é potencializar as ações das demais secretarias em nossa região. Há demandas que não são de competência da subprefeitura, mas eu posso ser o interlocutor da secretaria. Há, aqui, muitos equipamentos de saúde, de educação, de mobilidade… Como subprefeito, eu tenho que lutar por aquilo que os moradores consideram ser melhor. A gente nunca pode confundir o interesse individual com o interesse coletivo. A função nossa aqui é atender o interesse coletivo.

Pedaço da Vila: Qual será o papel dos conselhos Participativo e Cades na sua gestão?

Fabricio Cobra: Eu já participei de todas as reuniões que aconteceram neste ano na subprefeitura: do Conselho Participativo Municipal, do Cades, da Agenda 2030, do MIT, do Carnaval… E quero participar de todas. O que me deixou muito animado foi ver a representatividade e a atuação dos conselhos da Vila Mariana, tanto o Cades como o Conselho Participativo Municipal. O Cades já tem a programação de trabalho do ano inteiro, é muito organizado. Eu estarei à disposição dos conselhos não somente participando das reuniões, mas também agindo. A gente tem que criar alternativas e firmar parcerias com institutos, equipamentos de saúde e universidades para fazer ações que melhorem a qualidade de vida no bairro. Eu estarei muito próximo dos conselhos e aberto às ideias para que a gente trabalhe com criatividade.

Pedaço da Vila: Nos últimos anos, disparou o número de pessoas em situação de rua no bairro. Como o senhor pretende trabalhar essa demanda tão urgente?

Fabricio Cobra: As pessoas reclamam muito de moradores de rua, mas precisamos dar alternativas adequadas para que eles deixem as ruas. Sempre houve o discurso de que morador de rua é prioridade, mas, até agora, não conseguimos ter um resultado efetivo na cidade de São Paulo. A gestão tem entregue vários CTA’s [Centro Temporário de Acolhida] para que as pessoas não fiquem nas ruas; mas é uma deliberação da pessoa, ninguém pode forçá-la a ir para o CTA. O morador de rua não vai para o CTA pela falta de humanização desses locais. Há muitas regras: precisa acordar muito cedo, não pode levar a família, o cachorro, os pertences… Essas regras criam uma coisa muito fria que acaba afastando essas pessoas. O que precisamos, e isso vem acontecendo, é criar ambientes mais humanizados, onde os moradores de rua sintam vontade de ir. Esse é um trabalho de médio prazo, e que precisa ter um convencimento por parte dos assistentes sociais. Em todo lugar que a subprefeitura vai fazer a zeladoria e que tem morador de rua, há antes uma abordagem da equipe de assistência social. Quais ações a gente pode fazer para potencializar isso? Temos aqui, na Vila Mariana,uma ONG chamada Solidariedade com Arte que faz mosaicos e que trabalha com pessoas em situação de rua. Ações como essa ajudam essas pessoas a buscar trabalho, a se ressocializar… A questão de moradores em situação de rua é muito grave em São Paulo e precisamos potencializar nossas ações.

Pedaço da Vila: Qual a avaliação do senhor sobre a malha cicloviária da região?

Fabricio Cobra: É bem provável que a geração dos nossos filhos não tenha carros. É uma mudança cultural irreversível. Só que, primeiro, é preciso ter diálogo com a sociedade. Na gestão anterior, houve uma pressa para entregar os 400km de ciclovia e não houve diálogo com a comunidade. Muita gente descobriu a ciclovia na porta da sua casa ao amanhecer e muitos comércios foram prejudicados. Eu vi ciclovias que interrompiam e depois continuavam em outra via. Precisamos ter diálogo para não ter esse tipo de prejuízo. Temos que ouvir quem mora aqui. Claro, sempre terá alguém contrariado e não há o que fazer. Eu sou extremamente favorável à ciclovia e à ciclofaixa. É mais lazer para a população. Eu, inclusive, uso a bicicleta à noite. Estou esperando passar esse calor para vir trabalhar de bicicleta. Temos uma série de estações de metrô aqui e precisamos facilitar que as pessoas venham ao metrô de bicicleta, precisamos conectar essa rede, ter bicicletários. As pessoas querem andar de bicicleta e o poder público precisa estar preparado para essa adaptação.

Pedaço da Vila: Há previsão de ampliação das ciclovias no bairro?

Fabricio Cobra: Por enquanto, ainda não temos nada definido. É importante, primeiro, ouvir das associações de moradores onde consideram importante ter ciclovia para, só então, a gente pleitear junto ao governo a instalação e a revisão daquelas que não estão corretas. A rua pequena, por exemplo, não precisa de ciclovia. Por mais que eu conheça a região, eu não posso chegar e tomar uma decisão unilateral e pleitear uma coisa que não é legítimo. São os moradores quem nos legitimam. Por isso, é muito importante esses movimentos de bairro. Nós temos muitas bicicletas e foram instalados mais bicicletários; essa micromobilidade é muito importante e precisa ser melhor explorada.

Pedaço da Vila: Um ponto histórico da cultura da cidade, o Largo Ana Rosa está atualmente deteriorado…

Fabricio Cobra: A degradação chama mais degradação. Precisamos ocupar esse espaço. Um desafio importante é movimentar o bairro culturalmente. A gente precisa promover o que o bairro tem e trazer algumas feiras para cá para que possamos marcar a região por sua riqueza cultural. Eu sou favorável em ocupar as ruas, as praças. A Paulista [aberta para o lazer da população aos domingos] já é uma realidade. Eu moro na região da Avenida Angélica e frequento a Paulista aos domingos. São Paulo hoje é assim: a pessoa mora num prédio e, quando entra no elevador, torce para que não entre mais ninguém. As pessoas precisam se conhecer em seus prédios e os bairros precisam virar comunidades. Esse movimento de ocupar as ruas humaniza a cidade de São Paulo.