Maria Helena Orlando

A presidente da Associação Brasileira de Rolfing, vinculada ao Rolf Institute nos EUA, conta como surgiu o método que busca organizar a estrutura corporal afetada pelo campo gravitacional. Ela explica como são formados os rolfista nos cursos na sede da entidade, uma bela casa na rua Arthur de Godói – onde fomos recebidos. A seguir, conheça o Rolfing, seus benefícios, para quem é indicado e como é realizado o trabalho de Integração Estrutural que busca a reeducação de movimentos e o equilíbrio

Pedaço da Vila:O que é Rolfing?

Maria Helena Orlando: Rolfing é um método de integração das estruturas humanas por meio da manipulação dos tecidos miofasciais (ou conjuntivos) e pela reeducação do movimento.

P.daVila: Em que é baseado o método Rolf?

M.H.O.: Por meio do movimento e da manipulação do tecido conjuntivo que envolve e conecta nossos músculos e tendões, libera tensões existentes em segmentos corporais, melhorando a sua relação com as outras partes do corpo. A percepção dessa reintegração permite à pessoa reorientar-se espacialmente, melhorando o seu alinhamento em relação à gravidade e sua coordenação dos movimentos. Assim, o corpo ganha equilíbrio e economia funcional, isto é, não precisa gastar tanta energia para realizar movimentos básicos como manter-se de pé e caminhar, por exemplo. A sensação de liberdade e integridade adquirida com o Rolfing também contribui para a evolução pessoal ao estimular o autoconhecimento, abrindo caminho para se adquirir “novas posturas na vida”.

P.daVila:Por que a força da gravidade é um dos fundamentos do método?

A força da gravidade exerce uma das mais significativas e menos compreendidas influências na estrutura e função do ser humano. O tecido conjuntivo é o componente anatômico que envolve e une todas as células, estruturas e sistemas do corpo e é o principal responsável pela forma que temos e por nossa capacidade de adaptação ao campo gravitacional. O corpo vai se moldando durante a vida por razões físicas, emocionais e até sociais, criando padrões estruturais fixos, limitando movimentos e gerando muitas vezes desconforto e dores, além de qualificar nossa expressão e comportamentos. Esta reação à força da gravidade varia de acordo com a força com que nos posicionamos e o modo como nos movimentamos, numa contínua interação entre o campo energético – o homem – e o campo gravitacional – meio ambiente.

P.daVila:Quando, como e por quem o Rolfing foi criado?

M.H.O.: Foi criado pela cientista norte-americana Ida P. Rolf (1896-1979), PhD em Bioquímica pela Universidade de Columbia. Não obtendo, com a medicina tradicional, a solução para um problema físico provocado na adolescência por um acidente, Ida começou a investigar trabalhos corporais com bases estruturais ou funcionais, como ioga, osteopatia e quiroprática e, com base nas próprias experiências, acabou por encontrar as bases do método que ela mais tarde chamaria de Integração Estrutural, difundido nos Estados Unidos a partir dos anos 60.

P.daVila:Quais os benefícios e para quem é indicado o tratamento?

M.H.O.: O Rolfing é indicado para aqueles que sofrem de males causados pela má postura; para aqueles que apresentam dificuldade de movimento e sofreram traumas físicos; para os que se submetem a estados de estresse no dia-a-dia e para os que desejam melhorar o seu desempenho profissional. É também apreciado por pessoas ligadas às artes corporais ou de movimento, como bailarinos, atletas, educadores físicos e praticantes de artes marciais.

P.daVila:Como é realizado o tratamento?M.H.O.: O Rolfing é geralmente aplicado em uma série inicial básica de dez a quinze sessões individuais de manipulação dos tecidos e reorganização do corpo. Essas sessões se desenvolvem numa seqüência lógica em que cada uma delas é, ao mesmo tempo, uma continuação da anterior e uma preparação para a próxima. Cada sessão tem objetivos específicos e trabalha com determinadas áreas do corpo, determinadas regiões anatômicas em diferentes níveis de profundidade. As primeiras setes sessões lidam com tensões de áreas específicas: lombar, pescoço, joelhos, costas etc. Sem nunca perder de vista a integração do corpo como um todo, os objetivos do Rolfing vão sendo atingidos a cada sessão e sedimentados de forma cumulativa. Considerando as diferenças individuais dos clientes e dadas as suas limitações, dificuldades e qualidades específicas, o rolfista cria um plano de sessões com características próprias a cada cliente, sem perder de vista uma linha básica de ação que norteia toda a série.

P.daVila:Então é um trabalho realizado em conjunto?

M.H.O.: O trabalho do rolfista tem início com a observação e análise da estrutura corporal e dos padrões do movimento do cliente. Juntos, rolfista e cliente, discutem as suas sensações e percepções, observando o alinhamento dos segmentos do corpo, a relação deles entre si, áreas de imobilidade e de tensão, áreas com rotações e torções, como também problemas específicos (geralmente dores) trazidos pelo cliente. Juntamente a esses procedimentos, o cliente é fotografado de corpo inteiro, em quatro posições (frente, costas e dois perfis), antes da primeira sessão, durante o processo e ao final da décima sessão. Essas fotografias são um valioso instrumento de avaliação do processo, além de serem importantes para auxiliar a percepção e reeducação do cliente.

P.daVila:Fale sobre a Associação Brasileira de Rolfing.

M.H.O.: Criada em 1988 e sediada em São Paulo, a Associação Brasileira de Rolfing é uma entidade que tem por objetivos congregar e representar os profissionais brasileiros de Rolfing® junto ao Rolf Institute (EUA); organizar cursos e ministrar treinamentos para formação de novos profissionais. A Associação tem também como função propiciar o aperfeiçoamento do profissional de Rolfing já licenciado, através do programa de educação contínua bem como dar proteção legal à marca Rolfing®, além de cuidar dos casos de infrações da ética profissional. A Associação não tem fins lucrativos de qualquer espécie, visando apenas a divulgação e o desenvolvimento, no país, do método Rolfing® – integração estrutural.

P.daVila:Isto quer dizer que um profissional de Rolfing no Brasil está habilitado em qualquer lugar do planeta?

M.H.O.: Todo profissional formado pela Associação está habilitado para atender clientes em qualquer país onde houver vínculo com o Rolf Institute.

P.daVila:E como o paciente pode saber se está sendo atendido por um profissional habilitado?

M.H.O.: Para saber se o rolfista é habilitado pela Associaçao de Rolfing no Brasil, é só acessar os site www.rolfing.com.br, onde estao relacionados todos os profissionais brasileiros.

P.daVila:Quais os requisitos para se formar um rolfista?

M.H.O.: O interessado em tornar-se um rolfista deve cumprir uma serie de três etapas de treinamento especifico, de entrevistas e elaboração de trabalho escrito, além de passar pelas sessões de Rolfing. Todo este processo leva em torno de um ano e meio a dois. Já as pessoas que não são da área de saúde, devem cumprir um pré- requisito nas disciplinas de anatomia, fisiologia e cinesilogia para então começar a formação em Rolfing propriamente dita.

P.daVila:O que difere o Rolfing de outras terapias corporais?

M.H.O.: O Rolfing é diferente porque trabalha o corpo como um todo, liberando profundamente os tecidos que envolvem e conectam os músculos e integrando a estrutural corporal visando a recuperação do equilíbrio e harmonia do indivíduo. Para isto, é necessária uma participação ativa durante todo o processo, para que a pessoa aprenda a identificar e soltar as tensões continuamente acumuladas na vida diária. Os melhores resultados são obtidos quando a pessoa adquire consciência de si própria e do seu padrão de movimento.

Edição 64 – Ago/2007

1 comentário em “Maria Helena Orlando

Deixe comentário

Seu endereço de e-mail não será publicado. Os campos necessários são marcados com *.