Gisela Reimann

A atriz, moradora da Vila Mariana há 14 anos, fala sobre o início de sua carreira, conta como surgiu a oportunidade de trabalhar na atual novela das 8, Viver a Vida, explica a construção de sua personagem – que no folhetim passa por um tratamento contra o câncer -, comemora a participação e enorme sucesso dos atores paulistas no elenco e informa que, embora tenha acabado de vender sua casa em uma vila da rua Joaquim Távora, não quer sair do bairro de jeito nenhum!

Pedaço da Vila: Quando teve início sua carreira artística?

Gisela Reimann: Eu comecei na TV, atuando na TV Manchete. Antes trabalhei como modelo, fui para a Europa e quando voltei, a Carolina Ferraz, que trabalhava na TV Manchete, me chamou para fazer um teste para a novela Pantanal, na época campeã de audiência. Passei no teste e não parei mais de fazer TV, que adoro! Fiz a novela Sonho Meu, Você Decide, ambas na Globo, atuei na Record, SBT, e sempre fazendo muitos comerciais, durante todos esses anos. Fiz um pouco de teatro, cinema – atuei em filme Fim da Linha -, depois entrei em Malhação. Mas foi meio difícil para mim, porque naquela época meus filhos – o Hugo, hoje com 14 e o Tomé, com 11 anos, ainda eram muito pequenos. Por isso, não foi fácil me acertar na Globo, porque os convites que me faziam eram para papéis pequenos, e era muito difícil eu ficar indo e voltando para o Rio de Janeiro, e ainda conseguir equilibrar minha vida financeiramente. Por isso, optei por ficar em São Paulo e continuar fazendo comerciais para a televisão, uma coisa que eu faço bem e dá para me sustentar economicamente.

P.daVila: Como veio o convite para a novela Viver a Vida?

G.R.: Fiz uma participação na novela Chamas da Vida, da Record, no ano retrasado. Foi o diretor de elenco da emissora, Luís Antônio Rocha, que, na época, me chamou, e eu fiquei dois meses trabalhando na emissora. Depois de um tempo, fui fazer um comercial no Rio e aproveitei para ir à Globo. Lá encontrei o Luís Antônio e ele me chamou, depois de falar com o diretor Jayme Monjardim – que também dirigiu a novela o Pantanal. Jayme achou que era hora de eu voltar. A credito que a retomada da novela Pantanal ano passado, no SBT, ajudou muito. Imagine que ela quase obteve o mesmo sucesso de quando foi exibida pela primeira vez, há 18 anos. Para se ter ideia, dei

muito autógrafo por causa disso!

P.daVila: A novela Viver a Vida apresentou ao Brasil vários artistas do teatro paulistano. Como você vê isso?

G.R.: Não sei se foi coincidência ou se foi ideia deles, mas nós temos uns 10 ou 15 atores paulistas nessa novela, inclusive muitos atores de teatro que nunca trabalharam em TV! Agora nós estamos com um núcleo de atores paulistas muito bacana. Eu acho maravilhoso ver esses atores, que fizeram teatro a vida inteira, agora, arrasando na televisão. Acho sen-sacional, incrível a força dos paulistas! Para mim, foi uma feliz coincidência.

P.daVila: Seu personagem, que está se tratando de um câncer, sofre demais. Como esta sendo interpretá-la?

G.R.: Sim, ela sofre muito! O convite para fazer a novela começou para ser uma pequena participação.

Era para eu ser uma das primeiras pacientes que iam entrar na medicina paliativa, o que o Manoel Carlos pretendia trabalhar, e acho que isto vai acabar acontecendo, agora no final. Mas, graças a Deus, o meu personagem cresceu muito, muito mais do que eu esperava. O personagem começou com três aventaizinhos de hospital e agora eu tenho casa, marido, filho. Estou superfeliz!

P.daVila: Você fez algum laboratório para fazer o personagem? Visitou hospitais, conversou com os doentes…?

G.R.: Na verdade, foi tudo muito rápido, eu sabia que meu personagem sofreria muito, e que o câncer seria terminal. Mas fui mais pela intuição, porque minha mãe faleceu de câncer quando eu era menina. E isso faz parte da vida da gente, nós não esquecemos nunca. Quando comecei a gravar, a fazer as cenas de hospital, eu lembrava muito da morte de minha mãe. Então, sinceramente, achei que não precisava fazer estágio no hospital. Quanto mais foi crescendo meu personagem, mais as pessoas vinham falar comigo. Então, é uma doença que faz parte da humanidade, da vida de todo mundo. E eu não conheço ninguém que não esteja ligado a alguém que não sofra ou sofreu por causa dessa doença.

P.daVila: Hoje em dia, com o avanço da ciência, os efeitos da quimioterapia foram atenuados. Você não acha que o sofrimento do personagem passa um pouco de desânimo a pessoas em tratamento contra o câncer?

G.R.: É verdade, mas, ao mesmo tempo, penso que isso é uma realidade, também. Hoje muita gente sobrevive, sofre, luta e vence a doença. No entanto, existem pessoas que não conseguem resistir. Então, eu acho que seria um pouco irreal, considerando que é muito difícil para os pacientes encarar a doença, o personagem não trazer esse pesado sofrimento, porque muitas pessoas acabam não resistindo, como aconteceu com minha mãe. Eu acho mais bacana retratar a Luciana tetraplégica, sem chances de poder andar, porque existem várias pessoas na mesma situação que ela, e que superaram o problema. Então, acredito que a superação de meu personagem não seja a de não morrer, mas sim a superação do marido, da filha e até mesmo dela com a própria morte. Mostrar como ela vai aceitar o problema para que os outros possam ficar bem, porque a morte é uma coisa natural. Eu acho que o Manoel Carlos quer mostrar que você pode lutar contra a morte até o momento em que der, mas, se chegar uma hora em que não der mais para resistir, é preciso aceitá-la, porque a morte uma coisa natural. Pode ser que a personagem morra ou não. Nem eu sei…

P.daVila: Como foi ter de raspar os cabelos?

Eu não estou doente, mas tem várias pessoas que estão, de verdade, e perdem os cabelos por causa disso. Fiz pela arte, não precisei de coragem. Quem está doente é muito mais corajoso do que eu! Eu até gostei, com os 40 graus que estão fazendo no Rio… Quem se espantou foi meu filho. Ele tampava os olhos para não me olhar e eu dizia: “Olha, filho, olha!” Tenho saído careca em todas as fotos para dar uma força às pessoas que estão doentes, embora o cabelo já esteja crescendo…

P.daVila: Quais são os próximos trabalhos?

G.R.: Atualmente, eu estou somente me dedicando à novela, não tenho tempo para nada, e espero continuar na Globo!

P.daVila: Há quanto tempo você mora na Vila Mariana?

G.R.: Eu moro há 14 anos, desde que meu filho Hugo nasceu. Eu adoro esse lugar, vendi recentemente esta casa, na qual moro há 14 anos. Agora vou me mudar, mas quero continuar na Vila, porque estou acostumada a morar aqui, conheço todo mundo, meus filhos têm amigos no bairro. A chegada de vários bares na rua Joaquim Távora não me afetou em nada, pelo contrário, sempre vou até lá com meus amigos. Aqui é como se fosse uma cidadezinha do interior dentro de São Paulo, porque todos se conhecem, se chamam pelo nome…. Embora a Vila Mariana tenha valorizado muito, não vou sair daqui!