Dr. Fábio Vinicius Pescamona

O delegado do 36º DP, Dr. Fábio Vinicius Pescamona, acredita que só o policiamento preventivo e ostensivo pode combater os crimes de rua. Ele recebeu o Pedaço da Vila para falar sobre os maiores delitos na região, como a sociedade pode ajudar na segurança e explicar por que a polícia não pode resolver o problema dos moradores de rua: “A mendigação não dá cadeia”

Pedaço da Vila: Qual sua experiência até chegar a delegado titular do 36º DP?

Fábio Vinicius Pescamona: Ingressei na polícia em 1993 como investigador, trabalhei no DETRAN, na divisão de acidente de trânsito que depois virou Divisão de Crimes de Trânsito. De lá ,eu fui por seis meses para a Divisão de Produtos Controlados onde trabalhei com armas e passei a delegado de polícia em 2006; meu primeiro trabalho foi em Embú das Artes. Lá fiquei um ano meio como plantonista. A partir daí, vim para a capital e fiquei quatro anos na DEATUR que é a Delegacia de Turismo, trabalhando em eventos e no aeroporto. Depois fui para o DEIC onde, por 2 anos, trabalhei  como assistente em investigação de crime organizado. Aí fui convidado pelo Dr. Albano Davi Fernandes para assumir minha primeira titularidade, na Granja Viana, que é um bairro muito parecido com a Vila Mariana — com um nível alto e bom relacionamento com o CONSEG. Na Granja Viana fizemos diversas operações, foi muito gratificante. De lá, assumi a delegacia municipal de Cotia, que é uma delegacia de primeira classe: tinha cadeia, carta precatória, mil e seiscentos inquéritos para tocar. Agora, estou na Vila Mariana a convite do Dr. Albano que saiu do DEMACRO e veio para a capital.

Pedaço da Vila: Quando o senhor chegou no 36º DP, qual foi sua primeira impressão?

Fábio Vinicius Pescamona: Achei muito parecido com o da Granja Viana; logo me senti em casa! O público é muito parecido, os crimes que ocorrem lá ocorrem aqui da mesma forma, a conduta do criminoso no furto e no roubo é muito parecida. A única diferença se dá por conta da grande quantidade de condomínios — em época de férias, quando o proprietário vai viajar, o condomínio é invadido e ocorrem furtos e roubos. Esse é o diferencial, mas o CONSEG é muito parecido em termos de exigência, os moradores querem saber de tudo. 

Pedaço da Vila: E os crimes de homicídio na Vila Mariana são muitos? 

Fábio Vinicius Pescamona: Acontecem muito pouco, como na Granja Viana.

Pedaço da Vila: Qual é o crime mais comum em nossa região?  

Fábio Vinicius Pescamona: Por incrível que pareça eu recebo muito crime de estelionato. Como há muitos senhores de idade por aqui, os criminosos abusam. Por exemplo, o caso do bilhete premiado é o que mais acontece.

Pedaço da Vila: A maior reclamação no nosso Conseg são os moradores de rua….

Fábio Vinicius Pescamona: É um problema que a cidade enfrenta. No entanto, a mendigação não é crime. Se a pessoa quiser viver como um indigente, ela vai viver assim, ela decidiu isso para vida dela. É muito difícil, pois dizem: ‘vocês precisam tomar uma atitude’. Mas a mendigação não dá cadeia. Muitos preferem essa vida, até mesmo por conta do alcoolismo, depen-dência química…  Além disso, existem os abrigos. É uma questão complicada: se eles estão praticando crimes, você tem como tirálos da rua; se há tráfico de drogas naquele local, nós vamos apurar o tráfico e vamos prender o traficante. Porém, esse não é o caso. Na maioria das vezes, o caso é de usuário de drogas. Muitas vezes, nesse caso, você faz um Termo Circunstanciado, libera o indivíduo e ele volta para o mesmo local… Nem sempre é lá que ele busca as drogas, mas é onde se aloja que ele faz o uso delas —  o que não é um caso de polícia.

Pedaço da Vila: Temos uma pequena favela no pedaço. Como tem sido o trabalho no local?

Fábio Vinicius Pescamona: Há um procedimento que não é inquérito, mas uma investigação para que se apure os fatos. Não é num trabalho da noite para o dia que nós vamos descobrir quem são os traficantes, mas há um procedimento em andamento. Nós buscamos saber a real situação da respectiva comunidade.

Pedaço da Vila: É verdade que a maioria dos boletins de ocorrência do 36º  DP é por causa de brigas de vizinhos? 

Fábio Vinicius Pescamona: Isso também acontecia muito na Granja Viana. Se a Polícia Militar for acionada e conduzir as respectivas partes para a delegacia, é lavrado um Termo Circunstanciado em que eles irão comparecer no fórum posteriormente e o autor receberá uma punição por isso. Pode ser por uma lesão mútua ou uma briga, se vier uma pessoa — ou seis pessoas — fazer o Boletim de Ocorrência, ela tem seis meses para representar. O BO vai para o fórum e aquelas duas partes serão chamadas para comparecer em audiência. Se não houver representação, nada vai acontecer.  

Pedaço da Vila: E os furtos ou roubos de carro?

Fábio Vinicius Pescamona: O que eu fazia na Granja Viana era acreditar que o policiamento preventivo e ostensivo é o mais importante. Você só vai conduzir melhor esse tipo de crime na Vila Mariana colocando viatura na rua. Eu acho que policial em serviço não deve sair com o carro dele nem para ir almoçar! Deveria usar a viatura caracterizada — as delegacias têm as descaracterizadas também. Se a viatura passa, o criminoso sabe, pois, muitas vezes, ele estuda antes, ele sabe que aquele local é seguro para praticar o crime. Então, eu acredito que o policiamento preventivo e ostensivo é a melhor forma contra o crime.

Pedaço da Vila: A infraestrutura do 36º DP está adequada às necessidades da região?

Fábio Vinicius Pescamona: Nos temos aqui viaturas suficientes para cada equipe. É óbvio que se viesse mais viaturas seria útil também, mas esse DP não está desfalcado.

Pedaço da Vila: A delegacia continua fechada à noite? 

Fábio Vinicius Pescamona: Aqui, à noite, é aberto para fazer Boletim Eletrônico, que são aqueles com auxílio do investigador de polícia que faz boletins de furto e roubo, que são aqueles que são feitos pelo site da Polícia Civil. Entrando no site, você vê quais os crimes que podem ser feitos os boletins de ocorrência online. Há alguns crimes mais complicados, como estelionato, que depende da presença de um delegado que, muitas vezes, precisa de um extrato bancário.

Pedaço da Vila: A Prefeitura recentemente divulgou que o projeto City Câmeras disponibilizaria câmeras para serem instaladas em pontos estratégicos da cidade. A própria delegacia não poderia indicar onde elas devem ser instaladas? Essa decisão não  é parte do projeto Vigilância Solidária? 

Fábio Vinicius Pescamona: Eu acho que posteriormente isso pode ser feito dessa forma. O projeto City Câmeras está no começo e eu acredito que daqui a alguns anos vai estar espalhado pela cidade. São Paulo é muito grande e o monitoramento por câmeras é uma coisa relativamente nova. A ideia do governo é excelente! A Vigilância Solidária, pelo o que eu vi na Granja Viana, também é muito parecida com a da Vila Mariana. Eu acompanhava a Vigilância Solidária de lá. Eles utilizam muito as câmeras; vi policial militar chegar no momento do crime. A PM era acionada via internet e chegava a tempo. Vi isso muitas vezes na Granja Viana.

Pedaço da Vila: De que forma a sociedade pode se organizar para ter mais segurança? 

Fábio Vinicius Pescamona: Eu acho que o Conseg é uma lição para todo mundo, tanto para quem está na bancada quanto para quem está na plateia ouvindo, pois é uma reunião explicativa e eu vou aprender com quem está lá. É muito importante o Conseg, pois muitas vezes uma pessoa que sentou aqui na delegacia e, obviamente, não se identificou, aponta para mim onde está o crime durante a reunião. Isso acontece muito porque a sociedade conhece mais o bairro em que ela vive do que eu.

Pedaço da Vila: Isso porque há muitas pessoas que têm medo de fazer uma denúncia ou um reconhecimento. Existe alguma forma dessa pessoa não precisar dar o seu nome ou mostrar sua identidade? 

Fábio Vinicius Pescamona: Sim, através de uma denúncia anônima pelo telefone 181 ou até mesmo por meio de carta. Na hora de fazer o reconhecimento, a vítima fica em uma sala isolada, sendo que há um visor para a pessoa identificar o criminoso sem que ele perceba que ele esta sendo visto pela vítima.

Pedaço da Vila: Por que o Boletim de Ocorrência é tão importante? 

Fábio Vinicius Pescamona: É só dessa forma que um crime de rua chega à Policia Civil, está no Código de Processo Penal. Como se inicia um processo de investigação? Pela notícia do crime, baseado no B.O., que se inicia uma investigação. É assim que vou obter provas! O papel da vítima é muito importante para que o delegado colete a prova e chegue na autoria. Só dessa forma vou conseguir proceder: através de uma denuncia anônima, um Boletim de Ocorrência ou petição de um advogado. Isso é importantíssimo para a polícia.

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