Douglas Melhem

Pedaço da Vila: Qual a importância do Conseg?

Douglas Melhem: O Conseg teve uma modificação estatutária muito importante recentemente. Ele deixou de se restringir a ser um ouvidor de demandas, que é como enxugar gelo, e começou a funcionar como um órgão preventivo. A sociedade deveria participar muito mais das reuniões, consciente da importância que ela tem para sua própria segurança. Por exemplo, a pessoa que foi assaltada ou viu alguém sendo assaltado e foi ao Conseg para avisar, deveria conscientizar seus vizinhos, o comércio e os amigos para também irem às reuniões. O maior reconhecimento para quem vai às reuniões é estar na frente do delegado, da polícia militar, do representante da subprefeitura e comunicar diretamente às autoridades e à vizinhança informações importantes. A nossa participação, apesar de ser significativa, trinta, quarenta pessoas por reunião, é muito pequena. Há lugares em que a participação é bem maior. Mas, não e só essa questão…. Talvez por conta de conhecer muito da vida no exterior, eu pense diferente. Por exemplo: há países que têm a população da Vila Mariana; há cidades no Estado de São Paulo que tem metade dessa população e têm administração própria.  Não adianta a subprefeitura VM administrar oito distritos policias numa área enorme de aproximadamente quatrocentos mil metros quadrados – não dá para administrar. Desde 1992, eu defendo que o munícipe não tem que falar ‘eu pago imposto, eu quero o serviço!’. Isso não funciona! Nós, os moradores dessa região, adotamos a praça da rua Curitiba e, só de fezes de animais, tiramos dois caminhões perto daquele canhão da Segunda Guerra que está no meio da praça. Até 1992 ela era mato e acampamento de sem teto. Nós, moradores da Rua Curitiba, fundamos a Associação APRACE, fizemos um acordo com a prefeitura e assumimos a praça e, hoje, ela está maravilhosa. Então, deveria ter mais subprefeituras para que o subprefeito pudesse realmente conhecer os problemas de cada lugar. 

Pedaço da Vila: Então o senhor acha que com mais subprefeituras a cidade de São Paulo seria melhor administrada?

Douglas Melhem: Perfeitamente, pois se dividir em módulos menores você tem de quem cobrar. Veja, 180 mil pessoas é muito mais do que muita cidade do interior de São Paulo. Não tem como administrá-la efetivamente. Onde o Conseg VM/Paraíso atua tem um ecossistema urbano muito importante: três estações de metrô, monumentos históricos, locais tombados etc. No entanto, o nosso sistema viário é do inicio do século passado, pois, se o parque Ibirapuera foi inaugurado em 1954, você imagina quando começaram a surgir alguns bairros do entorno. Essa região que hoje é o Paraíso, por exemplo, era toda de campo de futebol. E, atualmente, com todos os eventos que acontecem conjuntamente no parque Ibirapuera, no ginásio Ibirapuera e, agora, também na área do Obelisco e na área do Monumento das Bandeiras, imagine: todos convergem para cá, a maioria de carro. Eles começam a estacionar a três ou quatro quadras da Rua Tutóia e a congestionar o trânsito que vai até o Jardim Lusitânia — cada um discutindo o seu espacinho na rua, à mercê de guardador de automóvel que é problema. Acredito que, se nós conseguirmos evitar alguns tipos de comércio ilegal, nós estamos evitando o crime. Eu acho o seguinte: se você quer realizar um evento em um lugar que é preservado, organize antes. Veja, tem a associação Viva Pacaembu que, quando o Pacaembu era para ser privatizado, ela entrou com uma ação que até hoje está parada e vai ficar parada por mais 10 anos, no mínimo, pois está no Supremo. A Viva Pacaembu ganhou todas as ações até agora. A APRACE está fazendo uma ação similar para impedir a privatização do Ginásio do Ibirapuera, pois eles querem derrubar o alojamento de atleta, acabar com a piscina. Queremos impedir isso! Eu, por exemplo, pratiquei atletismo na minha juventude, fui campeão paulista e recordista de arremesso de peso; sei da importância do atletismo. Na época em que eu praticava os clubes Paulistano, Pinheiros, Floresta e Tiete tinham pista para atletismo. Hoje, somente o Pinheiros e o Ginásio do Ibirapuera possuem essa pista. Uma cidade como a de São Paulo, que tem que desenvolver o esporte, não pode fazer isso.

Pedaço da Vila: O sr. Já foi presidente do Conseg algumas vezes e foi empossado novamente para o biênio 2019/2021. Quando se envolveu no conselho?

Douglas Melhem: Estou desde 2006 dentro do Conseg como presidente, cujo trabalho, pelo perfil, tem que ter força junto à Polícia Civil e à Polícia Militar para resolver os problemas. Consequentemente é rara a semana em que eu não vou quase todos os dias à delegacia para ver como estão a solução dos crimes em nossa região. Temos um bairro com tanta pessoa doida… Temos boletins de ocorrência de, por exemplo, uma mulher que diz ser violentada por quatro homens espiritualmente. Aqui temos muito problemas com os bancos, com pessoas que não são atendidas em hospitais, de vizinho que não quis vender sua casa para uma construtora e ficou no meio de dois prédios e de pessoas do prédio que ficam jogando lixo lá de cima; problemas que não cabem nem à polícia e nem para abrir ações civis — sabe-se lá quem arremessou o lixo. 

Pedaço da Vila: E o projeto Vizinhança Solidária, como está aqui no bairro?

Douglas Melhem: O Vizinhança Solidária é solidaria só para mim, pois, na última reunião, eu avisei que podem pegar quantos edifícios quiserem aqui na região que irão encontrar todas as câmerass viradas para o lado de dentro do prédio, ou seja, é o individuo olhando para dentro de sua barriga. Nós precisamos de câmeras viradas para o lado de fora, para o individuo saber que, se ele passar por uma delas, vai ser pego e será reconhecido — a polícia tem o sistema de identificação facial. Nós precisamos de câmeras de boa qualidade, precisamos de imagens boas para o reconhecimento do suspeito, pois eu tenho aqui vídeos de um sujeito sendo esfaqueado e não dá para reconhecê-lo. No nosso projeto de Vizinhança Solidaria, eu não consegui implantar esse sistema entre os prédios da rua Curitiba até a Tutóia, pois as administradoras não querem conversar entre elas, por incrível que pareça. Por exemplo, aqui na Vila Mariana está ocorrendo muito o golpe do bilhete premiado; você acha que eles iriam aplicar esses golpes se soubessem que estão sendo filmados ou que há essa possibilidade?

Pedaço da Vila: Ele teve sucesso em algum bairro da cidade? 

Douglas Melhem: Não deu certo. 

Pedaço da Vila: Então o Vizinhança Solidária só dará resultado quando cada morador se responsabilizar em colocar uma boa câmera em sua porta? 

Douglas Melhem: Sim. E não só a vizinhança…. O Metrô deve colocar câmeras na saída e entrada das estações. Não podemos falar para os pedintes irem embora desse bairro, eles têm o direito de não morrer de fome, eles vêm aqui, pois encontram bom poder aquisitivo e um povo caridoso. Mas, veja o contrassenso: você não vê nenhuma igreja do bairro abrindo a porta para esses indivíduos, pois eles não querem afastar os fieis.  Somos nós, imprensa e Conseg, que temos que proteger o mais pobre, aquele que é desassistido de todas as formas, mas também temos que proteger quem mora aqui, o nosso centro olímpico, a estátua do Brecheret, o parque Ibirapuera e até a estação do Metrô. Embora eu não queira defender o Metrô, pois ele me traz trezentas mil pessoas aqui diariamente; elas vão para o hospital, para as universidades …. Afinal, é o Metrô que tem que defender seus usuários, criando meios de identificação como é no Japão, na Europa, entre outros países mais desenvolvidos.

Pedaço da Vila: E como isso pode ser possível? 

Douglas Melhem: Através de um convênio da secretaria de segurança pública com a direção do Metrô, pois isso não se aplica só para as nossas estações.

Pedaço da Vila: Como o Conseg pode trazer mais autoridades às reuniões?

Douglas Melhem: Nós temos o dever de fazer esses convites. Pela legislação nós temos que convidar bombeiros, agentes de trânsito, Enel, Sabesp…  Mas eles não vão. A melhor subprefeitura que tivemos foi a da gestão do Fábio Lepique; a gente resolvia tudo. 

Pedaço da Vila: Os guardas noturnos participam de algum treinamento? Eles têm registro na delegacia? Eles estão aptos a tomar conta de nossas ruas?

Douglas Melhem: Os guardas noturnos são a maior excrecência que existe, pois na minha opinião eles não guardam absolutamente nada. Eles não têm nenhum curso, nenhum preparo, tudo o que eles fazem é chegar na delegacia, se apresentar dizendo qual trecho de rua eles vão tomar conta, mostram os documentos, e só! As pessoas têm guarda noturno, pois têm medo de ter sua casa assaltada se não contratarem um. 

Pedaço da Vila: O que pretende fazer nesta nova gestão como presidente do Conseg?  

Douglas Melhem: Como objetivo quero integrar mais a população, divulgar mais o que o Conseg pode fazer por ela e conscientizar que 80 ou 90% dos problemas é do poder público municipal e não é de segurança. E fazer com que essas informações fluam e que as demandas sejam resolvidas pelo poder público municipal. Como projeto a longo prazo tenho a ideia de formar lideranças através de grupos que realizem tarefas específicas; um grupo cons-cientizando sobre a importância do Vizinhança Solidária, o outro sobre o problema com os bares e restaurantes, para promover uma convivência pacifica… Criar grupos que tragam soluções, pois não adianta querer que só o poder público resolva. 

Pedaço da Vila: Então você acha que as pessoas devem se responsabilizar pelos 

problemas que encontram pela região?

Douglas Melhem: Um presidente norte-americano disse o seguinte : ‘não pergunte o que o pais pode fazer por você, pergunte o que você pode fazer pelo país’. No Conseg é a mesma coisa! 

Pedaço da Vila: Os delegados titulares da 36ª DP não ficam muito no posto, pois logo são substituídos. Isso dificulta o trabalho?

Douglas Melhem: Muito, pois quando ele começa a conhecer a situação, já está saindo. Eu espero que esse novo fique, mas isso não depende da vontade dele, mas, sim, da delegacia, da seccional e do diretor do Decap. No caso da Polícia Civil, o efetivo está muito abaixo do desejável, praticamente pela metade. A delegacia funcionar 24 horas é uma falácia, pois você só pode fazer na DP fora do expediente, o que você faria na internet.

Pedaço da Vila: Qual seria seu conselho às pessoas que não participam das reuniões do Conseg?

Douglas Melhem: O indivíduo pode até participar para falar dos problemas de âmbito do governo municipal, mas deve apresentar também uma solução para sua demanda. Ele deve participar das reuniões para cobrar das autoridades a resolução do problema. Enquanto a sociedade não se conscientizar da importância de participar de um diálogo direto com o governo, nesse caso, por meio do Conseg, ela vai ter pouca representatividade no nosso bairro ou em qualquer outro lugar em que viver.

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