Denisson de Angelis
Administrador por profissão, piloto por paixão e humorista por vocação, o autor de Gervásio — personagem que ficou famoso no programa diário Buemba!, Buemba!, do jornalista José Simão, na Band News FM —, já trabalhou na TV, mas, seguindo a vontade do pai, deixou a telinha para cuidar da empresa da família. Sempre soube que fazer os outros rirem era o mais importante e também lançou o blog fontedehumor.blogspot.com.br que alcançou 2 milhões de acessos em menos de 6 meses
Pedaço da Vila: Quando descobriu a sua veia humorista?
Denisson Tulli De Angelis: Desde criança sofro com o meu nome e obviamente com a cor do cabelo. Pelo nome porque quase ninguém consegue pronunciá-lo corretamente, e o cabelo porque sou loiro e isso intriga as pessoas. Todo mundo pensa que eu pinto o cabelo, e até aposta já fizeram. E eu sempre levei tudo isso na brincadeira. Aliás, a primeira pessoa com quem eu brinco, é comigo mesmo! Creio que tudo na vida podemos encarar com bom humor.
Passei por 26 escolas, mas não fui expulso de nenhuma e tampouco algum dia fui um perigo para a sociedade. Na época não existia o termo criança hiperativa e, por isso, eu e meus pais sofremos bastante. Eu terminava as tarefas e queria brincar, rir e sobretudo fazer meus colegas rir. O pior disso é que as professoras riam, mas me tiravam da sala. Teve colégio que eu passei apenas um dia: obrigavam todo mundo a dormir, e eu não queria!!!
Pedaço da Vila:Qual é sua formação?
Denisson Tulli De Angelis: Sou técnico mecânico e estudei até o 4º ano de engenharia mecatrônica. Foi só depois de ter tomado um fora de uma namorada que resolvi trabalhar com humor. Estava em um barzinho fazendo imitações num videokê, e recebi um convite para participar da Escolinha do Barulho na Rede Record, e claro, aceitei. Foi logo que acabou a Escolinha do Prof.º Raimundo, na Globo, e os humoristas migraram para a Rede Record. Lá conheci o Chico Anysio, que passou pela emissora para visitar os amigos. Em nosso encontro, no meio do corredor, ele me disse: garoto, você sabe alegrar as pessoas, siga nisso! Chico foi um grande motivador.
Só que, até então, não havia falado nada para minha família. Quando contei para o meu pai, isso em 1998, pensei que ele fosse enfartar! Ele não aceitou e para não contrariar a família, desisti momentaneamente da ideia. Formei-me em administração de empresas em 2007. Nessa época, comecei a mandar sugestões de piadas para o Jô Soares, concomitantemente, também para o Rock Gol. Aí comecei a perceber que eles falavam as minhas piadas, frases do dia, e não me davam o crédito. Não gostei – fazer o quê?
Pedaço da Vila: Depois de concluir a faculdade, voltou a trabalhar com humor?
Denisson Tulli De Angelis: Logo que me formei, meus amigos me incentivaram a fazer um curso de locução e trabalhar em rádio. Tudo isso despertou em mim a intensa vontade de alegrar as pessoas — tenho isso desde a minha tenra infância… Fui então fazer um teste para o curso superconcorrido no SENAC. Eram 20 vagas para 240 candidatos, eu fiquei em 21º. Minha frustração só não foi maior, porque minha alegria sempre prevalece. E mais uma vez, abandonei a ideia de ser humorista.
Pedaço da Vila: Quando iniciou o contato com o jornalista José Simão?
Denisson Tulli De Angelis: No começo de 2008, comecei a mandar sugestões de pauta para o jornalista da Folha de S.Paulo. De cara elas foram bem aceitas. Coincidentemente, eu tinha ido para Portugal onde pude fotografar inúmeras placas e coisas inusitadas. Mandei pra ele e ele adorou, publicou todas no Monkey News – UOL.
Pedaço da Vila: Quando surgiu seu personagem mais famoso: Gervásio?
Denisson Tulli De Angelis: Com o passar do tempo e com o incentivo do José Simão, tive ainda mais gosto por escrever humor. Então, criei o Gervásio. Ele surgiu de uma brincadeira minha com o meu falecido pai. Ele é conhecido nacionalmente. Para se ter uma ideia, foram criados sites, páginas no Orkut, Facebook, Twitter; o personagem virou um ídolo para as crianças!
Pedaço da Vila: A que você credita o sucesso de Gervásio?
Denisson Tulli De Angelis: Acho que é pela sua maneira rígida e engraçada de advertir as pessoas, no caso os fictícios funcionários da empresa em São Bernardo. O Gervásio está acima do bem e do mal, ele criou um código de conduta próprio, mas sempre zelando pela cidadania e pelo bem comum. Acho que a sua postura tocou as pessoas em um país cheio de problemas, escândalos políticos e desigualdade. Ele certamente terá vida longa, porque é o personagem que opina desde futebol de botão, até decisões governamentais. Afinal o Gervásio é um paladino. Alguém precisa zelar pela ordem desse País, não é mesmo? Ele não tenha cara, mas o personagem começou a tomar proporções que não acreditei: as pessoas procuram o José Simão para saber onde ele trabalha, Globo e Band quiseram entrevistá-lo. Embora eu sonhasse em fazer sucesso com o humor, não acreditava que isso fosse possível. Sempre tive um objetivo, uma missão de mostrar que todo mundo tem direito à felicidade, a sorrir, esquecer dos problemas cotidianos nem que seja por alguns instantes, e pensava: se posso ser um instrumento dessa alegria, por que não? Aceitei com amor essa “nova” profissão.
Pedaço da Vila: O Gervásio incentivou a criação de outros personagens?
Denisson Tulli De Angelis: Vamos dizer que ele foi a célula máter para eu criar outros personagens, escrever crônicas, cartoons etc. Foi inclusive o próprio José Simão que me sugeriu a escrever um livro voltado à administração sob a chancela do Gervásio, tipo um livro de autoajuda. Ainda estou pesquisando editoras, para viabilizar esse projeto.
Pedaço da Vila: Como é seu trabalho de colaborador?
Denisson Tulli De Angelis: Todo dia mando alguma coisa para o Simão; nossa relação é de amizade, não temos nada assinado. Fiquei uns dias sem enviar a pauta para fazermos um teste da popularidade do Gervásio. E não é que o público sentiu falta dele? E aí voltamos rapidinho com a colaboração!
Pedaço da Vila: Como é a sua relação com os fãs?
Denisson Tulli De Angelis: Confesso que me impressionei com algumas coisas: a primeira, foi uma enfermeira do hospital Rede Sara, em Brasília, que me contou sobre crianças de uma determinada ala que ficavam esperando ansiosamente o programa de rádio da Band. Ela mandou um e-mail para o Zé Simão, dizendo que as crianças, muitas delas órfãs, ficavam muito alegres ao ouvir o tal Gervásio.
Uma família de Manaus criou uma página falsa no Facebook em meu nome e do Gervásio, alegando serem meus fãs.Tem um grupo de Barretos que criou um fã-clube, com uma comitiva que integra shows. Fiquei muito emocionado também com um telefonema recente do diretor da APAE, que me falou sobre o sucesso que o personagem na rádio faz com as crianças portadoras de Síndrome de Down. Ninguém sabe explicar o porquê, nem os próprios médicos!
Pedaço da Vila: Esse retorno de público resultou no seu site de humor?
Denisson Tulli De Angelis: O excesso de ideias e o incentivo dos fãs me motivou a formar uma parceria com o amigo Leandro Gomes. Somos responsáveis pelo site chamado Fonte do Humor, que, em menos de 6 meses, alcançou a marca de 2 milhões de acessos!!! Ele tem comentários sobre notícias cotidianas, crônicas… São várias seções: Dúvidas Loirísticas, Dilmanário (verbetes da presidenta), Pelo Brasil, Pelo Mundo, Diurnal, entre outros. Depois que meu pai faleceu, em janeiro do ano passado, criei a crônica chamada E-mails para o Além. Essa seção partiu da afirmação que toda vez que alguém morre, as pessoas dizem: Vai com Deus, Que Deus te ilumine, Descanse em Paz….. como se elas fossem ler aquilo! Aí pensei: vou criar uma crônica divertida sobre a morte — que acredito que nada mais é do que o abandono do corpo físico. A seção está fazendo tanto sucesso, que as pessoas estão achando que é de verdade: que sou médium e que faço o oposto do que Chico Xavier fazia. Semana passada, recebi um e-mail de uma jovem viúva pedindo para eu escrever para o seu falecido marido, para que ele autorizasse ela sair para balada!!! Enviei de volta explicando que E-mails para o Além é apenas uma sátira, uma forma que encontrei de brincar com o meu pai e atenuar a imensa saudade que sinto dele. Também recebi críticas, para eu deixar meu pai descansar. A seção é uma forma de homenageá-lo! Ele foi um grande mestre; no seu funeral foram perto de 2 mil pessoas.
Pedaço da Vila:Qual é o seu mais novo personagem?
Denisson Tulli De Angelis: É o ManoZóide – com ele descobri que estou aprendendo a desenhar!!! ManoZóide é um divertido ‘esperminha’ que narra episódios hilários de como é a vida dentro do corpo humano. Na última semana fiz uma sátira em que vários espermatozóides estão na frente e tem um atrasado; todos gritam para ele: – vamos Rubinho!!! As crianças adoram isso! Procuro usar uma linguagem sem apelação. Se bem que às vezes não jeito.
Pedaço da Vila:Dá para você sobreviver trabalhando com humor?
Denisson Tulli De Angelis: Não, ainda não. Na verdade eu ganho meu cachê lá na Indianópolis após as 7 da noite! Estou brincando, claro!!! Trabalho numa empresa metalúrgica familiar, em que acabo fazendo de tudo um pouco: projeto, vendo, entrego. São equipamentos de automação destinados a linha de produção, eletroeletrônica, metal-mecânica etc. Faço isso há 21 anos! Tenho uma equipe bem formada. Na vida ninguém faz nada sozinho!
Costumo dizer que sozinho a pessoa não é nada, nem corno. (rs)
Pedaço da Vila:E qual é a novidade?
Denisson Tulli De Angelis: Estou preparando várias coisas interessantes para o site, para cada vez mais entreter e provocar o riso espontâneo nas pessoas que vivem nesse mundo maluco, repleto de problemas. A gente colocou um cronometro regressivo para o final do mundo — que segundo os Maias acaba em dezembro de 2012. A ideia é fazer com que as pessoas sejam felizes hoje como se não houvesse amanhã. O importante da vida é isso: por pior que seja, temos que olhar com bom humor os problemas, rir de nós mesmos, pois tudo nos serve de lição e a vida passa muito depressa. Aliás, o tempo devia ser multado por excesso de velocidade! (risos). O problema que nos tirou o sono ontem, na maioria das vezes, é a solução do hoje e as novas perspectivas do amanhã. Não há nada tão perfeito na vida que não possa ser aprimorado! Agradeço pela oportunidade de contar um pouquinho da minha vida, e como diria o Gervásio, quando finaliza seus avisos: — “Conto com todos.”