Cláudio Nogueira

De acordo com a prefeitura regional, é difícil acabar com o abuso dos bares na região; depois que ela apreende as mesas das calçadas, elas são substituídas por outras, em menos de 3 horas. A nova Associação dos Bares e Restaurantes da Joaquim Távora (Abrejota) promete acabar com essas e outras reclamações da vizinhança. Para o seu presidente, Cláudio Nogueira, dono do restaurante Pasta Nostra, a ideia é defender o que está dentro da lei, estreitar a comunicação com os moradores do bairro e com a prefeitura para resolver antigos problemas, evitar novos e ainda trazer melhorias  ao entorno, como reformas nas calçadas, decoração de Natal e descontos para os moradores do bairro

P. daVila: Os donos de bares se reuniram e criaram uma associação na qual o senhor é presidente. O que vocês pretendem?

Cláudio Nogueira: Fundamos a AbreJota, que significa Associação dos Bares e Restaurantes da Joaquim Távora e entorno. A nossa pretensão é atingir o quadrilátero que abrange a região das ruas Tangará, França Pinto, Domingos de Morais e Av. Conselheiro Rodrigues Alves. Nós já temos associados desse pedaço e a ideia é pegar todo mundo que está instalado nesse quadrilátero. Nem todos os bares se associaram, mas já temos uma boa parte deles.

P. daVila: De quem foi a iniciativa?

Cláudio Nogueira: Tudo começou com a convocação do sindicato, situado no Largo do Arouche, para uma reunião para falar sobre o problema da fiscalização. Nessa reunião, nós sentimos a necessidade de termos uma associação. Uma ideia do passado que, porém, nunca prosperou, pois a Abrejota nunca foi registrada. Agora, a ideia saiu do papel e a associação está sendo constituída oficialmente. Portanto, estamos trabalhando para ver se conseguimos algo positivo para o bairro e para todos. O objetivo não é só fazer apenas coisas boas para os donos de bares e restaurantes, mas também para os moradores, para a beleza das ruas. Eu acredito que todas as propostas do nosso prefeito animaram, não só a ter a Cidade Linda, como também as ruas lindas e cada um fazer o melhor para todos nós.

P. daVila: E vocês foram motivados a abrir essa associação devido às reclamações dos vizinhos e a fiscalização mais efetiva da prefeitura?

Cláudio Nogueira: Por todos esses motivos que mencionei e para que a gente tenha alguém que se responsabilize pelo nosso negócio junto aos órgãos públicos, abrangendo inclusive a vizinhança.  O importante é que os proprietários dos bares e restaurantes tenham uma voz respeitada e que também respeitem as leis. Eu sei que tem lugares, como bares, que não estão respeitando nem a lei e nem os vizinhos. E nosso papel é não admitir isso. Portanto vai estar fora da associação quem não estiver cumprindo esses deveres. É evidente que se uma determinada lei não estiver clara e bem feita, nós vamos lutar para que isso mude, mas enquanto estiver valendo, temos que obedecê-la. O propósito da associação não é descumprir uma lei ou de algum modo ludibriá-la. E nós estaremos aqui à disposição também para atender os moradores, os nossos vizinhos, que são nossos clientes e amigos. Eu não moro na Vila Mariana, mas nasci aqui e passo o dia todo aqui. Eu amo esse bairro e quero que a Vila Mariana cresça cada vez mais.

P. daVila: Mas, o Sr. é proprietário de um restaurante que não tem mesas e cadeiras na calçada… As maiores reclamações são justamente sobre a questão das mesas…

Cláudio Nogueira: A história das mesas nas calçadas não foi inventada pelos bares da Vila Mariana. Se observarmos, quem senta nas mesas e cadeiras das nossas calçadas são os nossos próprios vizinhos; e são essas mesmas pessoas que, eventualmente, reclamam também. Os assentos nas calçadas foram feitos para a vizinhança; então, uns gostam, outros não. Contudo, o mais importante é que seja cumprida a lei. Aliás, para esses bares terem mesas e cadeiras nas calçadas, é necessário uma autorização da Prefeitura, que por sua vez, não a negou para esses estabelecimentos. Existem lugares sem essa autorização e que não estão cumprindo a lei. A associação vai pedir para que tirem as mesas irregulares, vamos ser os primeiros a solicitar que eles se enquadrem dentro da lei. Porém, há os que estão dentro da lei, e a Abrejota não tem poder de polícia…  Vamos insistir para que não deixem essas mesas nas calçadas, afim de que parem essas reclamações. Ressalto que o uso da calçada é legal para àqueles que têm autorização e é um espaço aproveitado pelos próprios moradores. As pessoas gostam de sentar na calçada, de estarem ao ar livre, levar o cachorro… por isso essas mesas e cadeiras existem do lado de fora.

P. daVila: E aquelas mesas altas, no canto da calçada, ou o espaço que tomam os toldos fechados nos dias de chuva e ocupam toda a passagem?  

Cláudio Nogueira: Pode ter certeza que nós, como associação, falaremos com o bar para que ele retire e não coloque as mesas novamente.

P. daVila: A Abrejota vai aceitar como associados bares que descumpram a lei?

Cláudio Nogueira: Com certeza absoluta, não! Esse tipo de proprietário não será uma pessoa bem-vinda à nossa associação, já que o objetivo é de que todos estejam dentro da lei. Por outro lado, antes de a pessoa não ser bem-vinda, a gente precisa conversar e explicar o que não é legal. Se ele tem um bar e, se o bar lotar, ele que monte outro na frente ou ao lado. Eu acredito que com essa crise que passamos, nenhum lugar está lotando a ponto de fazer do espaço algo que não tenha cabimento.

P. daVila: Quais são as outras demandas da associação de bares?

Cláudio Nogueira: Temos vontade de fazer um Carnaval nosso, mais próximo daqui…  Uma cerveja com o nome Vila Mariana, um Natal enfeitado na rua Joaquim Távora e região. São várias ideias que queremos concretizar, e temos certeza de que o público e os moradores da Vila Mariana irão gostar. Tudo para o benefício das ruas, do bairro e da região. Queremos embelezar a cidade, alegrar o morador. Acho que vai ser bom para todo mundo.

P. daVila: Por que a Abrejota limitou seu espaço de atuação em apenas um quadrilátero?

Cláudio Nogueira: Eu acho que uma ideia não tem limites. Nós pensamos muito sobre isso de sermos a Vila Mariana inteira ou não, mas decidimos que no começo vamos nos restringir para conseguir realizar onde a nossa mão atinge. Não adianta a gente querer abraçar o mundo e não fazer direito. Nosso interesse é diferente do outro. Se pararmos para pensar, os problemas da região onde está o Hospital São Paulo são completamente diferentes dos nossos. Lá, têm uma superlotação de carros. Enfim, são questões muito regionalizadas. No caso da Rua França Pinto há o problema da ciclovia, que ocupa a rua e praticamente não é usada. Isso culminou com a perda de muitas vagas de estacionamento e vamos lutar para modificar. Se alguém nos provar que essa ciclovia está ajudando o comércio e os moradores a se locomover de bicicleta, acho ótimo. Entretanto, pelo que ouvimos dizer, ou o que observamos, ali não passa uma bicicleta. Acreditamos que a ciclovia esteja prejudicando a maioria, além do perigo de uma pessoa, que não está acostumada a atravessar essa rua, se machucar. Essa ciclovia foi feita sem pensar e é de uma irresponsabilidade muito grande!

P. daVila: Então, os propósitos da associação são algo muito mais abrangentes. Ela chegou para defender os interesses do bairro?

Cláudio Nogueira: Com certeza, porque a ciclovia prejudicou muito a gente. Essa história de não podermos estacionar aqui é um problema. A cada prédio erguido é um terreno a menos que dificulta a nossa necessidade de estacionamento. Enfrentamos obstáculos como as proibições de que não pode ter o vallet de estacionamento. São coisas incoerentes com as nossas necessidades. É proibido ter um vallet de estacionamento na rua Joaquim Távora, mas é permitido abrir mais um bar no mesmo local. Só que para abrir um restaurante ou um bar nessa rua, ele é obrigado a ter quarenta vagas de estacionamento num determinado local. Para onde ele conseguirá levar esses veículos? Enfim, é algo totalmente incoerente. Pode ou não pode? Eu penso que essas questões devem ser discutidas. Os bares já estão aí, não tem como tirar os alvarás, então temos que resolver os problemas de uma outra maneira.

P. daVila: Como está a regularização dos alvarás de funcionamento ? Existem bares que têm autorização para funcionar, mas ainda sem alvará. Vocês pretendem lutar para que eles saiam logo?

Cláudio Nogueira: Nós conversamos com a prefeitura sobre o assunto e ela se prontificou a verificar esses casos mais de perto. Porém, eles são  pontuais, e têm muito a ver com o problema da documentação do imóvel, como os em litígio, por exemplo. Quem tem a documentação toda em ordem, a dificuldade é muito menor para se conseguir. Pesquisei ainda hoje sobre os nossos colegas daqui da rua, e a maioria está regularizada, portanto é umproblema menor. Esse assunto até foi levantado ao prefeito regional antes mesmo da associação ser instituída. 

P. daVila: Outra reclamação frequente dos moradores é com o som alto…

Cláudio Nogueira: De onde for a reclamação, nós estaremos presentes no local para ver se isso procede, se a leitura dos tais decibéis está acima do que é permitido — e vamos conversar! Eu reitero que nós não temos poder de polícia nem de fiscalização, mas queremos ajudar. A ideia é fazer com que os nossos bares, colegas e amigos estejam dentro da lei. Ninguém vai querer ser o ponto fora da curva em uma associação que luta pelos seus interesses, né? Ser aquela pessoa que ninguém gosta. Vamos ver, daqui a algum tempo a gente volta a conversar para ver quem são essas pessoas. E elas saberão que nós estamos falando deles e, se for o caso, será até publicado no jornal. Eu acho que os proprietários que não cumprem  a lei ou vao aprender a respeitar ou vão fechar. Na situação em que estamos hoje, se receber mais de uma multa, não se consegue mais pagar,  — elas são bem pesadas. A questão fica pior quando os multados não pagam, recorrem e não se importam, insistindo na irregularidade.

P. daVila: A Abrejota promete resolver os problemas dos moradores com os bares?

Cláudio Nogueira: Veio para abrir um canal de comunicação, na tentativa de uma união para discutir até concluir que dá para melhorar, inclusive o nosso movimento, a frequência dos clientes, uma série de coisas. A ideia é trazer um programa de fidelização do bairro, que abranja esse quadrilátero, onde as pessoas possam consumir em qualquer um dos nossos bares e restaurantes com descontos. Então, as pessoas vão querer ficar por aqui. Não precisa sair da Vila Mariana para ir em um outro lugar distante, ter que pagar caro para estacionar o carro. Por aqui, ele não precisa gastar com estacionamento, poderá frequentar vários lugares no mesmo dia. Temos uma diversidade enorme de estabelecimentos. Esse quarteirão (da Rua Rio Grande até à Rua Áurea) é o lugar com a concentração de mais bares do Brasil — é um número gigantesco! Então, podemos atender a todos os gostos. Para que sair do bairro e ir para outro lugar? O objetivo é melhorar nossos bares e restaurantes para que os moradores fiquem por aqui. E se tivermos reclamações, vamos resolvê-las também, seja sobre o som ou a calçada. Aliás, as calçadas do bairro estão um horror. Os próprios prédios que reclamam dos bares têm calçadas horrorosas. E por que não arrumarmos todas as calçadas? É fácil reclamar, mas olhar para si mesmo é mais difícil. A ideia é conversar com os síndicos dos prédios, com todo mundo da rua. Arrumar sua própria calçada não é nenhum absurdo. Não é algo caro ou difícil de fazer. Aí vai facilitar para todo mundo poder andar de cadeira de rodas, de bengala, com o carrinho da criança.

P. daVila: Onde as reuniões são realizadas?

Cláudio Nogueira: Nós temos feito reuniões a cada dez dias aproximadamente no andar de cima do meu restaurante. E gostaria de convidar as pessoas que ainda não conhecem a Abrejota. Todos os donos de bares e restaurantes daqui dessa região estão convidados.  Eu gostaria muito que viessem para participar e somar forças. Estamos precisando de todos! Moradores e vizinhos também são bem-vindos!

P. da Vila: A associação já tem um e-mail para receber reclamações?

Cláudio Nogueira: Pode passar o meu e-mail: claudio-nogueira@uol.com.br