CAPITÃO FLÁVIO BAPTISTA

O comandante do 12º Batalhão da Polícia Militar – 2ª Companhia, localizada à rua Sena Madureira, 980, recebeu o Pedaço da Vila para elucidar questões importantes sobre a segurança. A seguir, ele conta quais os delitos que mais acontecem na Vila Mariana, dá dicas de como nos proteger dos assaltos, indica a instalação de câmeras voltadas para a rua como grande arma contra os bandidos e destaca as reuniões do Conseg, como o canal de diálogo mais importante entre polícia e sociedade

P.daVila: A nossa região conta com quantos oficiais e viaturas?

C.F.B.: O efetivo está muito defasado, não temos autorização para divulgar esse número por determinação da Secretaria da Segurança Pública, mas posso dizer que não é a quantidade ideal. O governo está correndo atrás com escolas de formação para repor estas perdas, que vêm de aposentadoria, de expulsão de policiais — a depuração está sendo muito grande. Enfim, tudo isso gera um desfalque. Agora, posso dizer que temos um número razoável de viaturas: onze.

P.daVila: Quais são os maiores delitos que ocorrem nessa área?

C.F.B.: Nós trabalhamos com índices, e de onde eles vêm? Vêm dos registros que são feitos ou via internet ou nas delegacias de polícia. Os registros oficiais são os que contam para a segurança pública. Então, se porventura um indivíduo é furtado ou roubado e não faz o registro — o que acreditamos que aconteça bastante —, não conseguimos detectar. A gente trabalha em cima de índices do INFOCRIM (banco de dados informatizado para mapear os crimes do Estado), complicados para a 2ª Companhia, que é atrelada ao 36º DP. Hoje esses índices são 95% excelentes. Isso quer dizer que, se comparados ao mesmo período do ano passado, nós temos menos ocorrências. Com exceção de um caso: roubo de veículos. Mas roubo à residência, estabelecimentos comerciais, furtos, latrocínios e homicídios, isto é, em todos os outros delitos, estamos abaixo do que ocorreu no ano passado. Estamos no verde! A gente sabe que os fatos aqui na Vila Mariana e Paraíso têm uma divulgação na mídia um pouco maior. Isso faz com que as pessoas acreditem que os índices estão muito altos, mas, na realidade, diminuíram.

P.daVila: O Boletim de Ocorrência é imprescindível para melhorar a segurança?

C.F.B.: Eles são importantes porque o governador e a Secretaria de Segurança Pública ao examinarem o mapa do Estado de São Paulo para a compra de viaturas e distribuição de policiais, para atuarem na área de segurança, se baseiam nesses registros. Atualmente é investido milhões em tecnologia para equipar a polícia civil e militar. As autoridades olham bairro por bairro para fazer planos para a segurança. Os registros são importantes ferramentas para a polícia e o poder público enxergarem o problema e agir.

P.daVila: Então o Sr. aconselha que mesmo um simples roubo de celular ou uma tentativa de assalto deve ser registrado…

C.F.B.: Claro, pois apesar da minha limitação de pessoas e viaturas, eu conseguirei direcionar o policiamento para o local afetado e farei um Plano de Policiamento Inteligente. Isso só é possível por meio de Boletim de Ocorrência. Eu me baseio por um sistema de registros de crimes, feito por meio de BOs. Se a vítima não fizer a queixa, eu não saberei que o local tem índices de criminalidade.

P.daVila: Em uma região cheia de escolas, outro delito vem assustando crianças e adolescentes: assaltos por menores em busca de celulares. O que a PM está fazendo em relação a isso e como orientar os pais?

C.F.B.: Eu acredito que isso se atribui à falta de bom senso e orientação por parte de alguns pais. Nós, integrantes da polícia, achamos que, por mais que os filhos tenham uma rotina fora de casa, tanto a criança quanto o adolescente, de até 14 anos, não têm tanta necessidade de possuir um celular. Ao portar o aparelho, eles ficam muito vulneráveis ao ataque de meliantes. Pode até ter o celular, mas não precisa carregar. Agora, quanto aos delitos, nós temos ideia de quem os comete e já fizemos algumas prisões. Só esse ano, até maio, detivemos 32 menores. Mas a legislação não nos ajuda. Se o menor tem pais, eles serão acionados e levarão o filho infrator de volta para casa. Já os que não têm, são encaminhados à Fundação Casa e rapidamente são soltos. O nosso trabalho para tentar conter os pequenos meliantes é a Ronda Escolar — hoje temos duas. Procuramos abordá-los quando estão em grupo.

P.daVila: São os mesmos elementos que assaltam o comércio?

C.F.B.: Exatamente. E quando nós os abordamos, vistoriamos mochilas e bolsos e não apreendemos nada. Só con-seguimos prender quando é flagrante. Geralmente eles são flagrados com o dedo embaixo do braço, ou quebrando o vidro de algum carro.

P.da Vila: De onde eles vêm?

CFB: Sim. As regiões, com estações de metrô próximas, trazem benefícios, mas também atraem problemas como ambulantes e pessoas que querem cometer pequenos furtos — ou seja, trazem um impacto muito grande em relação à segurança. E essa região, com estações na Vila Mariana, Ana Rosa e Paraíso, que também possuem terminais de ônibus e são pontos de ligação para outras linhas, atrai um público marginal, atrás de celular, cartões de crédito e produtos com valor de troca no mercado negro.

A Guarda Civil Metropolitana nos ajuda muito, é excelente e tem uma unidade móvel no Largo Ana Rosa. Além disso, nós temos uma viatura só para a Domingos de Moraes destinada a fazer diariamente uma atividade delegada, que foi criada pela Prefeitura, em parceria com a Polícia Militar, a fim de colocar policiais militares, nos seus dias de folga, para fiscalizar os vendedores ambulantes da região. Nossa área foi privilegiada, já que de todo o 12º Batalhão, ao qual eu pertenço, só a 2ª Companhia tem isso, justamente por se tratar de uma região complexa: um raio que abrange grandes vias como a Rua Vergueiro e Domingos de Moraes – um fluxo terrível. A atividade delegada funciona de 2ª a sábado: às 6h, os policiais já estão aqui para receber as orientações e, às 7h, no máximo, já estão presentes na extensão da Domingos de Moraes, Bernardino de Campos e Rua Vergueiro – trecho que abrange da Rua Abílio Soares, no Paraíso, até a Rua Joaquim Távora. Temos plano de estender ainda mais, até a região do Metrô Vila Mariana.

P.daVila: Nas reuniões do Conseg, fala-se sobre a importância das câmeras voltadas para a rua. Há um trabalho da polícia de aconselhamento a condomínios, casas e comércio de rua a instalarem essa câmera para um controle maior?

C.F.B: A visão que eu tenho como Capitão da Polícia Militar é que tudo que for ajudar a proteger o cidadão é favorável. Se os condomínios e o comércio tiverem condições de instalarem câmeras, isso só vai ajudar a Polícia Civil e Militar. O marginal não quer confronto com a polícia, muito menos quer ser filmado. O que quer é facilidade, ele é um oportunista e não roubará pessoas atentas. Roubará pessoas dispersas que estão falando no celular, dentro do carro, com o vidro aberto. Ele pega de surpresa, até porque ele não sabe quem é a vítima. Antes de roubar e assaltar, o marginal já detectou se a pessoa e o lugar onde ele vai atacar são vulneráveis ou não. Obviamente que câmeras e iluminação são fundamentais para inibir a ação. A iluminação é respon-sabilidade da Ilume.

P.daVila: Além da nova iluminação, o parque Ibirapuera recebeu câmeras?

C.F.B.: Foram instaladas pelo Poder Público Municipal, 11 câmeras de alta definição no parque Ibirapuera, que serão monitoradas pela Base da Guarda Civil Metropolitana existente no próprio parque, e tais imagens poderão ser cedidas às Policias Civil e Militar quando forem necessárias. Tais câmeras têm um alcance de 2 km de distância e, segundo informações, todos os pontos do parque serão monitorados, não havendo pontos “cegos”. Serão atendidos, também, as áreas chamadas de “Autorama”, do Obelisco e a Passarela.

P.daVila: Qual é o perfil de quem comete o delito?

C.F.B.: Não tem perfil definido. Esse ano, nós já pegamos seis armas na região, dentre as quais três eram de brinquedo. O portador de uma dessas armas estava de terno e já tinha cometido diversos delitos na região do Paraíso. Eu não tenho como rotular um perfil. Teve um caso de uma senhora, dona-de-casa e bem vestida, que estava de olho em clientes de uma agência bancária. Portanto, os meliantes podem ser desde crianças até donas-de-casa.

P.daVila: Fale sobre a importância da partici-pação da sociedade nas reuniões do Conseg.

C.F.B: Hoje em dia, a polícia não é nada sem o Conseg, uma iniciativa da Secretaria de Segurança Pública, nas qual estão vinculadas as polícias. Mas a gente percebe que as pessoas só vão ao Conseg quando foram vítimas de algum crime, seja em seu comércio ou em sua rua, e depois que o problema foi resolvido, não retornam mais. O Conseg é um foro importante para falar sobre a segurança, mas está perdendo um pouco o foco. Atualmente, 90% da demanda do Conseg é poda de árvore, lixo e barulho dos bares. Segurança não é tão abordada. Isso se dá porque as pessoas não conseguem ter um acesso a órgãos como prefeitura, CET etc. e acabam usando o Conseg para essa finalidade. O intuito do Conseg foi discutir a segurança, abrir um canal para que a população trouxesse ideias e projetos para essa área, e assim a polícia pudesse melhorar a sua atuação. Isso não ocorre só no nosso Conseg, mas nos Consegs em geral, onde as pessoas levantam questões relacionadas ao poder municipal e não à polícia. Apenas 5% das questões abordadas nos Consegs, hoje em dia, dizem respeito à segurança. Nosso objetivo é que o Conseg evolua um pouco e se torne um órgão mais forte no que se refere à segurança.

P.da Vila: Quais suas recomendações para a vizinhança se proteger da violência?

C.F.B.: O que eu acho mais importante para a pessoa é saber que dificilmente ela é assaltada dentro de casa. Isso ocorre, mas é raro. Na maioria das vezes, os assaltos acontecem nas ruas. E o mais importante é a atenção. Num veículo, recomendo que andem com os vidros fechados, principalmente ao parar num farol. É importante olhar pelo retrovisor e ficar atento. Se o motorista constatar a proximidade de uma moto com duas pessoas, deve ficar alerta. Ao andar pelas ruas, as mulheres, principalmente, devem ficar atentas às bolsas. Recomendo que coloquem poucas coisas na bolsa, não coloquem muitos documentos, dinheiro nem cartões de crédito. Conheço pessoas que andam com cartões de crédito vencidos e carteira com pouco dinheiro e cheia de papel para entregar para o ladrão. O assaltante não vai ficar muito tempo conferindo o que está levando, se o cartão está vencido ou não, pois ele não quer problema e age rápido. O mais importante é estar ligado em quem está andando a sua frente, ao seu lado ou atrás de você. Outro assunto que está na moda é o roubo a bancos, caixas eletrônicos e a pessoas que fazem saques nas agências. A Polícia Militar, muito preocupada com isso, criou uma cartilha que está sendo distribuídas nos bancos e para as pessoas que são abordadas nas ruas. Chama-se “Operação Saque Seguro”. Nela, temos diversas dicas simples, mas, se forem observadas, vemos que as pessoas não tomam essas precauções necessárias. (O leitor poderá se orientar por meio do folheto “Operação Saque Seguro”encartado nesta edição do Pedaço da Vila. Uma iniciativa do jornal com o apoio do Genuíno Chopp).