Alberto Luchetti

O experiente jornalista e ex-diretor da Globo fundou na região, há sete anos, a primeira televisão 24h ao vivo da internet brasileira: a AllTV. Ele relata os desafios desse novo veículo de comunicação, seu estilo interativo e eclético de programação, os prêmios já conquistados em pouco tempo no ar e analisa a  televisão convencional na era da internet

Pedaço da Vila: Fale um pouco da sua formação e experiência profissional.
Alberto Luchetti: Eu comecei no Estadão em 1972, como repórter policial. Fiquei lá até 2002. E nos últimos 15 anos, dos 30 que lá passei, fazia reportagem de política. Paralelamente ao jornal, sempre tive outra atividade e trabalhei muitos anos na Rádio Jovem Pan, até fundar a primeira televisão de UHF, em 1990, chamada TV Jovem Pan. Mas, houve um desentendimento entre os sócios, que decidiram encerrar o projeto. Aí, fui convidado para dirigir a Rádio Bandeirantes. No Grupo Bandeirantes, lancei a segunda televisão de UHF: o Canal 21. No final da década de 90, precisamente em 97, me transferi para a Rede Globo, a fim de dirigir programas de variedades. Costumo dizer que ninguém é perfeito na vida e acabei indo dirigir o programa do Fausto Silva. Depois, coloquei o Serginho Groisman no ar, que estava há um ano parado na emissora. Fiz também um pouco de “Brava Gente” e “Linha Direta”. Mas, em 2001, ainda na Globo, tive a idéia de montar a terceira televisão, no caso uma televisão na internet, a AllTV. Em 2002, não renovei contrato com a Globo, me aposentei também do Estadão e botei no ar em maio daquele ano, em caráter definitivo, a primeira televisão 24 horas ao vivo da internet.

P.daVila: Como surgiu a idéia de montar a primeira web TV do país?
A.L.: Costumo dizer que foi uma noite mal dormida. Era um feriado do dia 12 de outubro de 2001, e acabei dormindo à tarde. Descansei mais do que devia e, quando chegou a noite, não conseguia dormir. Naquela época, eu já queria com o Samir Razuk [diretor comercial da Rádio Bandeirantes] montar uma pioneira rádio jornalística no FM. A gente já trabalhava há algum tempo nessa idéia, mas não conseguia prefixo. Aí, nessa madrugada de insônia, me deu o estalo de criar um veículo que permitisse a convergência de mídias.

P.daVila: Qual é a proposta da AllTV?
A.L.: Acabei conceituando a AllTV como a síntese de tudo que desenvolvi na minha atividade profissional ao longo desses anos e também aquilo que acredito ser o mais importante de cada um dos veículos que trabalhei. Dessa forma, a AllTV reúne conteúdo de jornal, o imediatismo e a agilidade do rádio, a plástica em imagem da televisão e a interatividade da internet. Dessa convergência de mídias, nasceu a primeira televisão 24h da internet. Ela é ao vivo para permitir a interação com o público, pois se fosse gravada não seria possível.

P.daVila: Como é uma programação de tevê na internet?
A.L.: No começo de 2002, não sabíamos muito qual era a da internet, principalmente vídeos na web. Resolvemos então fazer algumas pesquisas, pois nossa idéia era que na internet precisava ser tudo muito curtinho e conciso. Isso até foi detectado nos resultados da pesquisa, mas para nossa surpresa, desde quando colocamos a televisão no ar, foi verificado que o internauta fica em média de 3 a 4 horas dentro de nosso site vendo TV. Esse conceito de coisas curtas na internet serve para você exibir um videozinho, distribuir conteúdo ou fazer uma brincadeirinha. Mas em uma TV na web, com essa ferramenta nova da interatividade, os internautas gostam de participar e estar presentes ativamente. Por isso, eles permanecem muito tempo conectados à televisão online. Para se ter uma idéia, há aqui um jornal de três horas de duração, outro de duas horas. Quase 90% dos programas possuem uma hora de duração.

P.daVila: E como fez para montar essa grade? Foi com base em pesquisas ou mais pela intuição e experiência de trabalho?
A.L.: A experiência e intuição ajudam, mas o que mais conta é o critério dos internautas, telespectadores ou “Allnautas”, como queira chamar. Quando não gostam de um programa, eles não participam. Aí você saca que deve tirar do ar. Diante dessa experiência de sete anos da AllTV, posso dizer que a grade de programas tem de tudo. Desde carga forte de jornalismo até muitos programas de entretenimento e música. A gente trabalha muito com nichos, que envolve aí a questão da sensibilidade e experiência.

P.da Vila: Qual o horário nobre da TV pela internet?
A.L.: É curioso. Começa a partir das 4h da tarde até 8h da noite. Esse é o horário carro-chefe. Das 17h às 18h, temos o programa “Fala Sério”, que é a melhor entrevista do dia e vai completar sete anos, assim como o “Jornal Interativo”, das 18h às 20h. Ou seja, são programas que nunca tiramos do ar.

P.daVila: Fale um pouco da estrutura da AllTV?
A.L.: São 120 apresentadores, 64 programas por semana, todos criados e produzidos na AllTV. A gente não terceiriza nem aluga horário. Porque nesse esquema de aluguel de horário, você perde o controle editorial da televisão, a autonomia dela ter sempre uma cara, uma linha a seguir. Quando montamos e colocamos a AllTV no ar, muita gente falava para eu fazer programas eróticos de madrugada. E como a gente estava testando e aberto a tudo, em função de ser uma mídia muito nova, nós fizemos um programa chamado de “streap tease on line”. Contratamos uma “senhora” da boate Bahamas, do grande filósofo Oscar Maroni, e resolvemos fazer um streap tease virtual, às 2h da madrugada. Eu pedi para a moça vir com uma blusa sem sutiã, calça, calcinha e tamanco. Aí, fizemos algumas perguntas aos internautas e, na medida em que as respostas eram certas, ela tirava uma peça de roupa. Então, a primeira pergunta para tirar a blusa, era qual o apelido do maior jogador de futebol brasileiro, Edson Arantes do Nascimento. No que responderam Pelé, ela já ficou no estúdio com os seios de fora. Aquilo foi um sucesso de público, o chat bombou. A segunda pergunta para ela tirar a calça e ficar só de tamanco e calcinha era o nome do tricampeão mundial de F1 morto em Ímola: Aryton Senna. Ela ficou de calcinha, e a audiência aumentando. Para tirar o tamanco, qual o nome da filha da Xuxa: Sasha. E para despir a calcinha, evidentemente eu não queria isso, perguntamos o nome e endereço de todos os mortos americanos na Guerra do Vietnã. Um internauta entrou no site das Forças Armadas Americanas e começou a mandar o nome de todo mundo. Mas como tinha prazo e a gente evidentemente não queria que ela tirasse, isso não aconteceu. Mas a atração foi um sucesso e talvez o dia de maior audiência de madrugada. Provava que aquela coisa da apelação e do erotismo era um dos caminhos a seguir. Feliz com a repercussão, montei todo o programa e fui assistir na minha casa. No dia seguinte, vim trabalhar e o meu e-mail estava repleto de mensagens do Japão, dizendo que lá eram 3h da tarde e eu tinha colocado mulher pelada no ar e havia crianças assistindo. Depois disso, nunca mais fizemos nada de apelativo na AllTV. Relatei esse exemplo para mostrar a participação dos internautas e a linha que queremos seguir. Se fossemos em busca de audiência, com certeza todos os dias, na madrugada, manteríamos o streap tease. Mas perderíamos os internautas de outros países que nos acompanham desde o início. Hoje, 32% de nossa audiência são de brasileiros que moram no exterior.
 
P.daVila:
Como é o formato de comercialização?
A.L.: É normal. Acredito que poderia ser comparado até ao de uma televisão convencional, com comercial de 30 segundos, break normal, sem precisar fazer cinco a seis minutos de intervalo. Vamos soltando os breaks ao longo da programação. E com relação à publicidade de internet, a gente faz igual a todo mundo: banner, pop up… A flexibilidade da publicidade na AllTV atinge também tudo como é o conceito de televisão. Pode ser um impresso, um som, um vídeo ou uma ação interativa. Ainda temos resistência grande da publicidade na internet, apesar dela crescer muito nos últimos anos. Hoje, temos 33 milhões de page views por mês. A publicidade na internet hoje está na casa dos 5%, já superando o rádio, este estagnado há anos. Só que o rádio tem mais de 100 anos de vida, enquanto a internet no Brasil completou só 13 anos. A resistência existe pela falta de conhecimento.

P.daVila: Cada programa tem um patrocinador?
A.L.: Não. Ainda temos resistência grande da publicidade na internet, apesar dela crescer muito nos últimos anos. Hoje, temos 33 milhões de page views por mês. A publicidade na internet hoje está na casa dos 5%, já superando o rádio, este estagnado há anos. Só que o rádio tem mais de 100 anos de vida, enquanto a internet no Brasil completou só 13 anos. A resistência existe pela falta de conhecimento desse novo meio de comunicação. 

 
P.daVila:
Com a TV digital, a AllTV vai virar um canal de TV?
A.L.: A TV digital vai proporcionar a criação de conteúdos, porque você poderá ter quatro emissoras de televisão com apenas um sinal. A All TV é hoje o maior produtor de vídeo na internet brasileira. Além de fazer as 24h daqui por dia, e dessas praças produzirem conteúdo diário para internet, eu faço a TV Câmara e a TV Assembléia na internet.

P.daVila: Como será então o futuro da AllTV com a era da TV digital?
A.L.: O futuro da AllTV é um e a desgraça da TV convencional é outra. Como ocorreu na década de 50, a grande coqueluche de comunicação no mundo era o rádio. Aí, chegou a TV, que transformou tudo o que se ouvia em imagem. Os grandes programas de auditório, humor, musicais e novelas do rádio migraram para a TV. Todo mundo sentenciava: “o rádio vai morrer”. Hoje está na míngua, mas não morreu. A TV soube com competência suprir as necessidades do rádio, relegado em segundo plano. E agora está acontecendo com a televisão o mesmo que ela fez com o rádio. A internet está para a televisão, como a televisão esteve para o rádio na década de 50. Não que a tevê acabará, mas perdeu o posto de coqueluche para a internet, o grande veículo de comunicação do mundo moderno. Se o rádio perdeu para a imagem, a TV está sucumbindo para as necessidades que as pessoas têm de usar a internet, uma mídia mais completa. A hora que o vídeo na internet se tornar digital, e já está em vias de, não precisaremos mais de tevê. Assim, o futuro da AllTV independe da televisão e já está garantido. O problema é a agonia que a TV vai viver daqui pra frente. Mas tem a TV digital? Ela é igual ao rádio FM. A TV digital, com som e imagem melhor, veio para dar sobrevida à TV, como veio o FM de som melhor ao rádio.

P.daVila: Qual a diferença de linguagem da internet em relação aos outros meios de comunicação?
A.L.: No caso específico da AllTV, essa linguagem tem de ser mais desprendida da de uma TV convencional, por causa da constante interatividade. Precisa ser uma linguagem fácil e desprovida de qualquer preconceito em termos de TV, que prega seriedade e uma fala coloquial que a internet não permite. Nenhum apresentador vem aqui de paletó e gravata, todos se vestem à vontade, de forma jovial, aberta, próxima a um bate-papo. A linguagem tem de ser ágil e imediatista como o rádio. Eu até digo que nossos apresentadores estão mais para o rádio do que para a TV. O comunicador ou jornalista de rádio tem mais cérebro do que o de TV.  Um exemplo: o Cid Moreira nunca trabalharia numa TV como a AllTV porque ele lê notícia, é só locutor. E para ser apresentador na AllTV ou em outra emissora interativa é preciso ter cérebro para discutir com o internauta qualquer assunto. Pelas minhas contas, que vou colocar num livro sobre a AllTV a ser lançado mês que vem, 92 profissionais saíram daqui para grandes veículos. Nenhuma universidade colocou no mercado tantos profissionais como a AllTV em tão pouco tempo. Os apresentadores aqui ficam preparados para ancorar programas em qualquer lugar, porque nunca na vida ele viu jornal com telepronter [aparelho de leitura do texto]. Nossa linguagem desprovida de formatação dá a esse profissional capacidade para fazer qualquer tipo de atividade jornalística.

P.daVila: Fale sobre os prêmios que a AllTV já ganhou nestes sete anos.
A.L.: Os prêmios são motivo de muito orgulho. A gente fez um anúncio dizendo que a AllTV é um Ovo de Colombo. Colocamos uma caixa com 12 ovos, porque em seis anos conquistamos 12 prêmios. Todos foram importantes. O primeiro prêmio foi o da Aberje [Associação Brasileira de Comunicação Empresarial], como mídia do ano em 2002, quando só tínhamos cinco meses de vida. Mas de todos, jornalisticamente, o Esso foi o melhor, em 2005, como maior contribuição ao jornalismo brasileiro. Eu até brinco dizendo que sou o único jornalista que ganhou o prêmio Esso e é frustrado. Pois, para provocar as emissoras abertas, questiono se eu ganhei porque mereço ou porque eles são incompetentes. A gente não poderia ter ganho um prêmio desses num ano em que o Silvio Santos volta com o jornalismo, contratando a Ana Paula Padrão. A Band contrata o Carlos Nascimento e provoca revolução em seu jornalismo. A Record traz o Celso Freitas e monta o jornalístico Domingo Espetacular. Ou seja, houve uma agitação grande no mercado televisivo, e a AllTV foi quem ganhou esse prêmio. Outro prêmio que gostaria de mencionar, mas que não está num diploma nem estampado na parede, é os mais de 100 TCCs (Trabalho de Conclusão de Curso) de faculdades feitos sobre a AllTV. São teses feitas por alunos do Brasil inteiro. Isso me enche muito de orgulho: a juventude saber que existimos.
 
P.daVila: Existe legislação para o controle da programação na internet?
A.L.: Não existe. E nem aqui na AllTV. A gente não proíbe absolutamente nada. O que acontece, e é fácil de perceber, é que os próprios internautas, quando algum participante faz baixaria ou provoca os apresentadores, pedem para bloquear e excluem a pessoa.
 
P.daVila: Você conquistou a interatividade desejada ou acredita que haja muito mais para desenvolver?
A.L.: Eu acho que tudo que é ferramenta nova de interatividade, a gente coloca no ar assim que aparece. Estamos preparados para qualquer novidade de interatividade. Temos chat, MSN, Orkut, Webcan, portal super voz. Estamos abertos para interagir.
 
P.daVila: Você já sente o retorno que idealizou para a AllTV?
A.L.: Ele é muito maior do que eu idealizei. Eu não tinha noção disso. Eu era, em termos de internauta, um dinossauro de 48 anos quando montei a AllTV. Só usava e-mail de vez em quando e aprendi muito com essa molecada. Prova disso, foram as duas iniciativas de fazer novela interativa. Uma em 2005, que se chamava “Umas e Outras” e foi um sucesso. E depois, repetimos a dose com a novela “Alô, Alô, Mulheres”. Nós juntamos jovens escritores e diretores talentosos, todos universitários de 20 e poucos anos, com profissionais consagrados. Chamei o Roberto Linharte, diretor de teatro e cinema que já fez séries e novelas na Globo e em outras emissoras, para dirigir o núcleo de novela na AllTV. Fizemos um CD com as músicas da novela, reunimos atores por meio de concurso na internet e mesclamos eles com monstros sagrados da extinta TV Tupi, quando a novela era feita ao vivo. Essa mescla, entre juventude e experiência, resultou numa novela super interessante. Ela se passava num escritório de advocacia, cujo dono morreu no primeiro capítulo e o casal de filhos brigava pela herança. Mas me perguntava: como fazer interatividade com isso? Decidimos então, como num escritório de advocacia que tem casos para resolver, que o internauta escrevia uma história, e a gente adaptava o texto para a dramartugia e apresentava com os atores, diretores e internautas. Cada capítulo era escrito e sugerido pelo público.

P.daVila: E como foi filmar uma novela para a internet?
A.L.: No começo, encontramos dificuldades para a gravação, pois tínhamos uma estrutura pequena e não podíamos investir em filmagens externas. Aí, na segunda novela, decidimos fazer bastidores de uma emissora de televisão e tudo era gravado aqui dentro mesmo. O curioso é que no meio de uma gravação à noite, houve um incêndio no estúdio e registramos isso na novela como sendo verdadeiro. O set de gravações ficou destruído, mas filmamos até a chegada dos bombeiros. Depois disso, paramos com a novela, porque o gasto é alto, envolve muita gente, mas poderemos retomar futuramente.
 
P.da Vila: A AllTV tem programação voltada às crianças?
A.L.: Temos uma programação infantil, mas há um dado curioso de que ela não é mais infantil, porque as duas apresentadoras começaram aqui junto com a AllTV. Uma tinha 12, e a outra 14 anos. Hoje, uma tem 20 e a outra, 18. Então, elas fazem atualmente programa teen, mas por muito tempo tivemos programa infantil.

P.daVila: Como é o projeto da Rede AllTV e quais são os lugares de expansão?
A.L.: A característica dessa rede é mundial. Tudo que fazemos aqui é na contramão da TV convencional. A idéia da Rede AllTV é trabalhar ao contrário da TV aberta, que trabalha com uma cabeça de rede como responsável por quase 100% da programação. Pouco ou quase nada se dá para as redes locais. A proposta da Rede AllTV é fazer uma TV regionalizada e pouco nacionalizada. Queremos mostrar o Brasil como ele é. Começamos a abrir a rede em novembro último. A primeira afiliada que entrou no ar foi a AllTV Amazônia, com o objetivo de retratar os noves estados que compõem a Amazônia legal. De cara, já conseguimos informações interessantíssimas. Um belo dia, a uns 200 km de Porto Velho, houve o rompimento de um dique, que provocou ondas de até 10m de altura. O governo local foi obrigado a desalojar quase 100 mil pessoas de cidades próximas ao dique. O governador do estado foi visitar o lugar e só uma emissora acompanhou todo esse trabalho, a AllTV. Conclusão: nós cedemos imagens para várias emissoras de tevê. Dei esse exemplo, porque queremos mostrar as características de cada região, o sotaque de cada local, o folclore e cultura de cada região. Nosso segundo passo foi montar unidades no Pantanal, Rio de Janeiro, Ceará e Santa Catarina.

P.daVila: As afiliadas entram como programa na grade?
A.L.: A idéia é colocar todas as nove emissoras do projeto de rede simultaneamente no ar, cada uma com sua programação própria. Mas claro que, hoje, elas têm uma carga de produção pequena em relação à AllTV São Paulo, que funciona 24h. Então, uma produz de 3 a 4 horas, outras de 2 a 1 hora. O resto da grade é daqui da sede principal. O objetivo é que cada uma das emissoras regionais tenha 10 horas de produção local para mostrar cada região do país. A proposta de abrir uma em Brasília visa a gerar alguns programas feitos de lá para a rede toda. Ou seja, programas comuns, como um talk show na capital federal, colocando políticos de todas as regiões, por exemplo. A formatação dessa grade e seu conteúdo pioneiro, vamos aprendendo, fazendo. 
 

P.daVila: O que é e como surgiu a AbraVeb?
A.L.: No começo erramos muito, fórmulas que não deram certo até chegar ao modelo atual. Não tinha referência para seguir, a ponto de eu me comparar a certo momento com o Alfredo Mathias, um dos maiores engenheiros desse país, responsável por grandes obras nos anos 70. Num belo dia, ele acordou com a idéia de montar o maior shopping da América Latina e fez. Só que não conseguia vender as lojas, passou dificuldades e acabou quebrando. Hoje, não é o maior shopping da América, mas talvez o mais caro, o Iguatemi. Eu achei que iria me transformar num Alfredo Mathias da internet, porque a coisa não girava. Ganhava prêmios, era uma grande sacada, mas ela não vingava em termos financeiros e eu comecei a passar dificuldades também. No final de 2004, a situação estava muito feia e fui consultar algumas pessoas no intuito de fechar a AllTV. E uma dessas pessoas, que foi o Toninho Rosa Neto, hoje surperintendente de marketing da RedeTV!, falou para eu agüentar mais um pouco. Pois estava chegando um tsunami chamado IPTV, que significa Protocolo de Televisão na Internet. Nos últimos três anos, não me recordo um dia que não teve notícia sobre isso. E como eu era pioneiro no ramo, resolvi montar, em 2005, a Associação Brasileira das Emissoras de IPTV e AbraWebTV. Acabei colocando no nome as duas siglas, porque IPTV e WebTV são duas coisas distintas. A AllTV faz webtv, ou seja, TV na internet. E IPTV, o Protocolo de Televisão, permite a pessoa receber em casa todos os canais televisivos, inclusive os de TV a cabo e webTV, pela internet. Por exemplo: se a pessoa mora em São Miguel Paulista, e o cabeamento de fibra óptica pára na Penha, ele só vai receber os canais se for pela internet, por meio do IPTV. Mas as grandes empresas e famílias midiáticas estão impedindo ao máximo a ascensão do IPTV. Foi mais ou menos o que a Globo tentou fazer com o controle remoto. Mas não vai adiar isso por muito tempo. O futuro não é digital, é na internet. E eu montei a AbraWebTV porque o governo infelizmente não tem nenhum tipo de política para a internet. E qual o meu temor? Que ao fazer, possa nos prejudicar. Então criei a associação para nos garantir e não permitir abusos.