Os feirantes e fregueses da feira de orgânicos que acontece desde o final de 2012 no Modelódromo do Parque  Ibirapuera receberam do próprio prefeito a notícia de que, sim, a feira fica!  Após longas semanas de incertezas e apreensão, foi no sábado da Virada Sustentável, dia 30 de agosto, que Fernando Haddad (PT) colocou um ponto final no assunto. “A feira permanece aqui, no Modelódromo”, assegurou ao Pedaço da Vila, e aproveitou para adiantar que pretende expandir a atividade por toda a cidade.

A decisão de remover a feira foi da Secretaria Municipal de Esportes, que determinou a data: dia 16 de agosto. A partir daí, iniciou-se um movimento para que a feira ficasse no local. Produtores, feirantes e vizinhos, adeptos à alimentação mais saudável, realizaram uma série de protestos. Montaram as barracas do lado de fora do Modelódromo — com os portões fechados para inibir a feira —, realizaram um abaixo-assinado on-line, que chegou a quase 5 mil assinaturas, e promoveram, no dia 16 de agosto, um passeio ciclístico pela cidade.

Haddad chegou à feira acompanhado pelo secretário Municipal de Esportes, Lazer e Recreação, Celso do Carmo Jatene, para explicar que o entrave era devido à burocracia de uma legislação antiga: “A lei determinava que as áreas municipais, destinadas às atividades esportivas não cedessem o espaço para a realização dessa prática. A resolução do impasse foi possível graças à modificação da lei, pelo decreto 55. 432, que permite agora sua realização. O problema foi resolvido”, garantiu.

Ele adiantou que outras feiras deverão ser implantadas na cidade graças à nova resolução. “Hoje temos centenas de equipamentos esportivos no município que podem abrigar uma feira como esta, pois alimentação saudável e atividades esportivas são hábitos que convivem muito bem juntos. Além de ampliar essa proposta, queremos também incentivar o cultivo de alimentos orgânicos e a agricultura familiar em regiões como no bairro de Parelheiros, no extremo Sul da capital”, revelou. O Plano de Desenvolvimento Rural Solidário e Sustentável, inclusive, é uma das diretrizes do novo Plano Diretor Estratégico.

“Estamos aliviados e muito felizes com a permanência da feira. Somos gratos a todos que nos apoiaram durante a nossa mobilização”, festejou Mauro Fernandes, agricultor da Serra da Mantiqueira que vende em sua barraca alimentos produzidos em seu próprio sítio. Ele fez questão de frisar que os alimentos cultivados sem agrotóxicos preservam o meio ambiente, pois não contaminam o solo, a água e os lençóis freáticos, além de trazer muitos benefícios à saúde.

A maior e mais importante feira da cidade dedicada aos alimentos orgânicos, com 30 barracas, comercializando produtos cultivados por 600 famílias, rapidamente conquistou os moradores da região e se tornou um espaço de convivência e de trocas de conhecimentos sobre alimentação saudável. 

Além encontrar uma ampla variedade de produtos, entre legumes, verduras, grãos, pães, mudas de plantas e até mesmo saborear um cafezinho ou um sorvete orgânico, os frequentadores podem também degustar pratos feitos na hora por um chefe especializado, assistir a palestras de profissionais ligados à área da alimentação, participar de oficina, rodas de conversas, entre outros eventos. 

Os alimentos comercializados na feira respeitam o sistema orgânico de produção, possuem certificado e também integram o Programa Agricultura Limpa da Prefeitura de São Paulo, sem a utilização de agrotóxicos e adubos químicos. Segundo dados do Ministério da Saúde, os agrotóxicos ocupam hoje o segundo lugar entre os maiores causadores de intoxicação e problemas relacionados à saúde da população brasileira.

Para quem costuma frequentar o Parque do Ibirapuera, a feirinha já passou a fazer parte do roteiro, como conta a vizinha Isis Duarte. “Aproveitar o Parque para malhar, passear com a família e depois fazer a feira é um programa não somente para mim, mas para toda a minha família”.

Preocupado com a falta de água na cidade, o sócio de uma das barracas de hortaliças da feira, Yotero, da Roça Urbana, conta que toda a água que utiliza vem de uma nascente em seu próprio sítio, na Serra da Cantareira. “A agricultura é uma atividade que demanda muita água, e se esse bem valioso faltar, ficaremos sem comida”, alerta o agricultor, que faz questão de participar de todo o processo de produção ao lado do pai. “Nós irrigamos, plantamos, colhemos, embalamos e trazemos tudo muito fresquinho para o consumidor da feira”, apresenta.

Também feirante — e moradora da região—, Marina Torquato, que comercializa em sua barraca os alimentos produzidos em Morungaba, no interior de São Paulo, conta que as mercadorias possuem certificado da Associação da Agricultura Natural de Campinas (ANC), que representa 72 produtores. “Todo o lucro é repartido entre todos os envolvidos”. Ela está feliz de ver a freguesia aumentar a cada sábado. “Além de comprar alimentos saudáveis, que não causam danos ao meio ambiente, as pessoas percebem que os preços são iguais”, — ou até mesmo mais baixos, se comparados aos dos tradicionais supermercados e hortifrutis da região.

Para o prefeito, manter os preços cada vez mais atraentes aos consumidores só será possível quando a produção de alimentos aumentar.“Quanto maior a produção, mais justo será o preço e mais pessoas terão acesso aos produtos orgânicos. Por isso, a prefeitura promoverá ações de incentivo à agricultura familiar e à preservação ambiental, que não pode ficar de fora dos projetos de uma grande cidade como a nossa”, observou.

Dono de uma barraca que vende verduras, sorvetes, polpas, entre outros alimentos, o outro vizinho, Ivan Messiano, conta que a presença da feira no local tem ajudado as pessoas a mudar seus hábitos e suas relações com a alimentação. “Depois que começaram a frequentar a feira, muitos clientes revelam que passaram a se preocupar com a qualidade de vida, dedicando-se à alimentação e descobrindo o prazer de cozinhar”, revela.

A cidade de São Paulo abriga em torno de 750 feiras livres, enquanto a quantidade das orgânicas chega apenas a 6. “Precisamos ampliar esse número! Essa feira está numa região privilegiada, é um local muito agradável e conta com estacionamento para os clientes. Além de vender, também cumpre uma função muito importante, que é a parte educacional sobre a alimentação. Agora que ela vai permanecer no local, temos muitas ideias para realizar atividades culturais ligadas à alimentação, paralelamente a feira”, conclui Ivan.

Feira de Orgânicos: Rua Curitiba, 292 (Modelódromo do Parque Ibirapuera). Horário: Sábado, das 7h às 13h