Os Donos da História

Quanta gente vive em São Paulo! Milhões de habitantes que podem transformar, ou não, o metro quadrado que ocupam. Somos nós, nossa família, vizinhança, comunidade, que seguimos a linha do futuro, mesma linha que traça o mapa em que somos representados pelas ruas, bairros e regiões formadas nestes 450 anos. O parabéns a São Paulo deve-se às pessoas comuns como Neovaldo, o gari poeta, que varre a rua e faz poesia e, inspirado, leva arte e bom astral à vizinhança; à natureza de Moacir que, de uma barraquinha de doces, presenteou a cidade com um lindo jardim cheio de pássaros e borboletas em pleno acostamento da av. 23 de Maio.

E como nosso vizinho Edson, que exerce seu poder de cidadania e, ao conquistar seus direitos, ensina que todos nós podemos fazer de São Paulo uma cidade melhor! Neosvaldo Juvenal Santos, 41 anos, pai de dois filhos, é um gari de bem com a vida e emana este estado de espírito aos moradores do bairro: “No fundo, gosto de trabalhar como gari”, confessa. É nas ruas, durante o expediente, que Neovaldo consegue realizar-se como poeta, levando alegria aos vizinhos com a seguinte abordagem: “Oi, tudo bem? Gosta de poesias? Quer ouvir uma?”. O alagoano, que vive há 24 anos em São Paulo, já publicou 4 pequenos livros: “Tinha loucura para fazer um livrinho de poesias”. Foi em busca de alguém que digitasse seu sonho e conseguiu realizá-lo.

A divulgação, ele faz durante o expediente: “Saio falando: quer comprar meu livro, as poesias do gari? Tive o privilégio de vender a muitas senhoras e de conseguir um ponto de venda na revistaria da rua Abílio Soares, nº 504”. Suas fontes de inspiração são as mulheres ”que eu admiro muito, no bom sentido”, as flores e a música. O próximo desafio de Neovaldo é encontrar uma pessoa que compile seus 4 livros: “Para fazer um só e vendê-lo em muitas lojas”. E calcula: ”Na revistaria da Abílio Soares foram vendidos oito livros. Então, fiz uma base: se muitas lojas vendessem oito, dez, então daria muitos mil livros vendidos!”. Neovaldo pode passar desapercebido, mas como poeta fez de sua vassoura uma espada que rima com jornada: “Eu estou pegando no cabo Dessa minha espada Muito estou lutando Muito estou guerreando Vou cumprindo minha jornada” Neovaldo Juvenal Santos.

O paulistano Edson Martins, 43 anos, é um vizinho que sabe exercer sua cidadania e, consciente deste poder, já conquistou inúmeras melhorias para o pedaço: “Através dos sites da Prefeitura ou de empresas particulares, já consegui troca de lâmpadas de iluminação pública e de placas de sinalização de trânsito, remoção de faixas e grades sob viadutos, remoção de entulhos, recapeamento etc ”, conta. Jornalista e Geógrafo, desde 1987 Edson trabalha como comissário de bordo:” Deslocando-me com freqüência por várias cidades, pude constatar ‘in loco’ não só a atuação do poder público nas intervenções urbanas, mas também a importância da comunidade nesse processo”. Ele ensina que todos têm o poder de fazer valer sua cidadania, melhorar o seu bairro e, conseqüentemente, melhorar o mundo e apresenta uma relação enorme do que já conseguiu em prol do bairro. Sua última reivindicação foi junto à empresa Ajinomoto, solicitando que eles pintassem o muro da rua Joaquim Távora, quase esquina com a Domingos de Moraes, que estava todo pichado.

Através de uma carta, que enviou por e-mail e deixou na portaria da empresa, ele reclamou sobre o estado do muro: “Tudo bem que eu usei um pouco de psicologia e sentimentalismo para conseguir meus objetivos. Terminei a carta dizendo que a pintura seria um presente aos vizinhos de bairro, um presente a São Paulo em seu aniversário e, também, uma inequívoca demonstração de civilidade do povo japonês, fundadores da empresa”, revela. A resposta veio rápida, por e-mail: a empresa mostrava-se muito feliz em saber que consumidores como ele se preocupam com a empresa e que o pedido havia sido encaminhado para o departamento responsável. Não importa ser chamado de “consumista” sendo um cidadão, ou confundirem o amor pelo bairro com “preocupação com a empresa” quando se consegue alcançar o objetivo.

Na mesma semana, Edson passou em frente da empresa e viu o muro pintado. “Acredito que todos os cidadãos tenham não só o direito, como também o dever, de tentar melhorar o lugar onde moram. Pode ser a troca de lâmpadas da iluminação de sua rua, a remoção de entulhos, a fixação irregular de faixas e cartazes, buracos no asfalto… E acho que todo morador sempre tem alguma idéia inovadora sobre melhorias nos serviços públicos e privados. Só que, ao invés de tentar levar sua idéia adiante, guarda-a para si ou, quando muito, reclama no salão do cabeleireiro, na fila do banco ou na mesa do bar. Hoje, com a internet, qualquer pessoa pode em questão de minutos acessar o “site” das empresas e jornais locais, por exemplo, a coluna São Paulo Reclama sprec@estado.com.br *-, ou da prefeitura http://sac.prefeitura.sp.gov.br – e apresentar sua sugestão. Posso garantir: funciona!”, ensina nosso exemplar vizinho!