Oficina de Emoções
Quem não tem em seu círculo de relação alguém que vive reclamando. Aquele que fala mal do governo, da família, reclama do trânsito, inflama-se facilmente por qualquer motivo e se faz de ofendido quando recebe alguma crítica? É muito comum conviver com gente de mal com a vida, mas para a psicóloga Maria Salette de Assis, 48 anos, isso é um vício e tem cura. Fundadora da Oficina de Emoções, grupo de encontros destinado às pessoas depressivas, dependentes de álcool ou drogas, viciadas em jogos e com distúrbios emocionais, Sallete receita, como único remédio para os desequilíbrios emocionais, uma dose de fé: “Descobri que meus pacientes vinham a procura de paz”, conta. Maria Salette criou um inédito método de tratamento após passar por uma transformação total em sua vida. Nascida em Recife, veio para a cidade de São Paulo para acompanhar o marido, transferido a trabalho. Deixou família, amigos e sua clínica.
Na época, enfrentava uma grave crise matrimonial e, já em São Paulo, decidiu-se pela separação. O primeiro passo, foi procurar emprego mas, em vez disso, o que encontrou foi uma mensagem de Nossa Senhora Rainha da Paz: “Até então não era religiosa, mas me chamou a atenção a data recente da aparição”, conta. Imediatamente telefonou para o número anunciado e adquiriu o livro de autoria de um padre que contava as experiências científicas realizadas durante a aparição de Nossa Senhora a seis jovens. O texto comprovava a veracidade do fenômeno ocorrido na década de 80, na cidade de Medjugorge (Bósnia-Herzegóvina): “Comecei a ler o livro às 10 da noite e às 4 da manhã era outra pessoa”, confessa Salete. “Me convenci, pelo lado científico, que o céu falava com a Terra”.
A partir daí, segundo a psicóloga, sua vida começou a mudar. Esqueceu o divórcio, seguindo o conselho de Nossa Senhora que dizia “Eu Sou a Rainha da Paz, vim para dizer ao mundo que Deus existe e Nele está a verdadeira felicidade. Reconciliai-vos uns aos outros”. Com um outro olhar, paz e entusiasmo, “sentimentos que três faculdades não conseguiram me dar” começou a clinicar em São Paulo, numa pequena sala alugada: “Conclui que não podia mais separar a psicologia da espiritualidade”. Desenvolveu, então, um programa de auto-conhecimento e percebeu que seus pacientes começaram a se recuperar cada vez mais rápido. Não demorou muito para tornar-se conhecida: pacientes ricos e pobres – que ela atendia de graça – cresciam na medida em que a sala alugada ficava pequena demais. Montou a primeira clínica, alugada na rua Topázio, no bairro da Aclimação: “Tinha pouco dinheiro e pedi para amigos procurarem algo que eu pudesse pagar”, lembra. Mas, como diz Salette, “Nossa Senhora abre caminhos”, e foi a proprietária que bateu em sua porta e ofereceu sua casa. Para atender o grande número de pessoas que apareciam, Salette destacou grupos de monitores, pessoas que beneficiadas com o método se tornaram voluntárias.
Em 1984, Maria Salette oficializou a “Comunidade Terapêutica Casa de Maria”, com o propósito de ajudar as pessoas a se conhecerem e equilibrar as emoções, conquistando auto-estima, paciência e segurança: “Todos nós nascemos com uma semente. Precisamos descobrir o tipo de semente que somos para encontrar a terra ideal para plantá-la . Se eu descobrir que sou uma alface, tenho que procurar uma horta. Imagine se uma alface for plantado num pomar, com aquelas árvores frutíferas fazendo sombra… A semente pode até crescer, mas não irá se desenvolver em sua plenitude”, indica. Para Salette o primeiro passo para o equilíbrio emocional é registrar sua identidade através de três perguntas: Quem sou? De onde vim? Para onde quero ir? Outro conselho, é quando temos de encarar um contratempo: “Indagar por que se está passando pelo problema, não leva a nenhuma saída. A perguntar é para que a vida está lhe fazendo passar por isso. Só assim, é possível escutar o recado que a vida está mandando”, explica a psicóloga. Ela afirma que só com esta mudança de comportamento já é possível enxergar a situação de maneira diferente.
Atualmente, a sede da ONG Oficina de Emoções recebe mensalmente 1200 pessoas. Elas participam gratuitamente de encontros nos quais histórias curtas e simples, escritas por Salette ou tiradas da cultura popular, são contadas com o intuito de fazer com que as pessoas reflitam: “Elas têm uma moral comportamental e faz parte da Metodologia, que alia Psicologia Analítica à espiritualidade Cristã”, revela. Nas oficinas, também, são realizados relaxamentos, discussões em grupo, dicas de como enfrentar os problemas e, no final de cada encontro, chá com bolacha são servidos, num momento de confraternização. “As oficinas estão sendo solicitadas pelo SUS e hospitais de São Paulo”, informa. Cerca de 50 monitores espalhados por todo Brasil reciclam conhecimentos uma vez por mês, recebendo apostilas e material de apoio.
Maria Salette de Assis viaja por todo Brasil ministrando palestras realizadas,também semanalmente, em nove pontos de São Paulo – todas as sextas-feiras, às 19h, Salette está na Igreja Nossa Senhora da Saúde, na Domingos de Moraes, 2387. Além disso, faz três programas de rádio, transmitidos em Rede Nacional e um de TV, além de ter seis livros publicados – o sétimo está previsto para ser lançado em agosto – assinado, também, pela publicitária Wilma Ruggeri, membro da Comunidade Terapêutica Casa de Maria. ”A casa sobrevive dos Direitos Autorais dos livros e de um Banco de Amigos”, esclarece a psicóloga. Dificuldades estão aí para serem enfrentadas; encará-las com equilíbrio é a questão. A reclamação, tão natural em nosso meio, pode se tornar um vício e até uma patologia se não for tratada a tempo: “As pessoas, às vezes, nem se dão conta que reclamam o tempo todo”, alerta Salette. “Elas fazem da própria vida uma reclamação e não conseguem usufruir nada de bom”.
No livro Para que minha vida se transforme, da editora Versus, uma pequena história reflete essa situação: “Era uma vez um rei e seu servo, que era muito temente e agradecido a Deus. Um dia eles foram caçar e, de repente, um leão atacou o rei e arrancou um de seus dedos. O servo saiu em defesa do soberano e, depois de espantar o animal feroz, ajoelhou-se, agradecendo a Nosso Senhor por nada de ruim ter acontecido. O rei , furioso, repreendeu o servo: “Como você diz graças a Deus se o animal comeu meu dedo?” E, sem hesitar, mandou prender o servo que, mesmo diante daquela situação, não deixou de agradecer a Deus. Meses depois, o rei novamente foi caçar. Ao entardecer, deparou-se com uma tribo que o capturou, pois tinham encontrado uma real oferenda para seu deus.
Mas, quando o rei estava sendo preparado para o sacrifício, o chefe da tribo descobriu que, nele, faltava um dedo. “Essa oferenda é impura! Já foi oferecida a outro deus!”, bradou. E o rei foi libertado. De volta ao seu reino, correu até a cela onde estava preso o fiel servo: “Agora compreendi por que você agradeceu pela falta de meu dedo! Só não entendo o motivo de você agradecer a Deus quando mandei lhe prender…” E o servo, mostrando seus dez dedos, explicou: “Se não estivesse preso, estaria com meu rei em mais uma caçada e adivinhe quem seria o sacrificado?” Oficina de Emoções: tel. 5083.5321 ou www.oficinadeemocoes.org.br