Vila do Futuro

Quem passa pelo trecho que compreende a estação de metrô Vila Mariana, Rua Capitão Cavalcanti, Rua Major Maragliano e Rua Dr. Álvaro Alvim depara-se com uma paisagem que se repete por toda a cidade: calçadas sem acessibilidade, ruas esburacadas e impermeáveis, fiação elétrica despencando pelo passeio, lixo acumulado nas esquinas, falta de iluminação…

Esse retrato é herança de décadas de urbanização pautada sem a participação popular e que, de maneira cada mais intensa, transforma o espaço público apenas em local de passagem, distanciando os moradores do convívio nas ruas. Nos últimos anos, porém, não foram poucos os estudos criados para mudar essa realidade e trazer de volta os moradores para o convívio nos espaços abertos.

Um deles foi apresentado à comunidade no dia 10 de abril durante uma audiência pública promovida pela prefeitura regional no Círculo Militar. Trata-se do projeto de revitalização urbana @3, que transformará o trecho metrô VM – Capitão Cavalcanti — Major Maragliano- Álvaro Alvim num modelo de cidade inteligente.

A escolha do local para receber a revitalização se deu em função das recorrentes reclamações de moradores e comerciantes do entorno. Nos últimos meses, muitos pedestres foram roubados nesse trajeto. 

O projeto @3  foi solicitado pelo prefeito regional da Vila Mariana Benedito Mascarenhas e foi desenvolvido pelo escritório Atelier O’Rilly Architecture & Partners sob a batuta da arquiteta e urbanista Patricia O’Reilly.

“A Patricia me procurou para que eu fizesse a ponte com o prefeito regional da Sé para ela apresentar um projeto de revitalização. Eu fiquei impressionado com o projeto e pedi a ela que desenvolvesse algo também para a Vila Mariana”, conta o prefeito regional.

A partir daí, uma série de reuniões com a Belas Artes e  a ESPM foram realizadas para apre-sentar as ideias e debater sua viabilidade tanto para integrar os estudantes como para propiciar à comunidade um espaço de cultura e lazer. 

Patrícia explica que o objetivo do @3 é criar um novo modelo de cidade por meio da revitalização sustentável de células urbanas aplicando tecnologia de informação e de comunicação. “A ideia é revitalizar 25 células que enconram-se inseridas na área de influência das prefeituras regionais Sé, Pinheiros e Vila Mariana”.

Numa área histórica do bairro — que abriga exemplares de casarios construídos no começo do século passado e ruas de paralelepípedos— o trajeto que será revitalizado recebe hoje diariamente mais de 10 mil pedestres; em sua maioria, estudantes das três instituições acadêmicas do entorno, Fapcom, Belas Artes e ESPM.

De acordo com o projeto, esse trecho terá calçada e viário nivelados e permeáveis, piso tátil e direcional, fiação subterrânea, parking de coleta seletiva, arborização com irrigação automática, internet gratuita. “É um conceito de cidade que desperta nos moradores a sensação de pertencimento, o respeito pela área de uso comum e resgata a convivência”, diz a arquiteta.

Em diferentes pontos desse novo espaço serão implantadas placas backlight que irão exibir conteúdo virtual sobre temas como meio ambiente, cultura, atividades locais, cidadania. Ao fotografar com o celular uma placa com o nome da rua, por exemplo, a pessoa terá acesso de imediato em seu dispositivo à história por trás desse nome e outras informações do entorno.

O principal núcleo do projeto ocupará a Rua Dr. Álvaro Alvim, que receberá uma praça pública-boulevard integrando a Belas Artes e ESPM. O local contará com um palco para abrigar apresentações artísticas, celebrações comunitárias, saraus, feiras, exposições e mobiliários interativos.

Segundo Patrícia, o uso de tecnologia de informação e comunicação permite que os usuários fiquem conectados ao mundo virtual e real ao mesmo tempo. “Não podemos ter um espaço público hostil. Ele precisa ser acolhedor para resgatar o convívio nas ruas, despertar a sensação de cidadania e recuperar a atenção de todos para os espaços comunitários”.

No estudo de revitalização @3 também está incluso um novo projeto de sustentabilidade  da Eletropaulo. Ela irá instalar contêineres para descarte de resíduos. Por meio de um aplicativo do @3, os moradores que usarem os contêineres irão ganhar pontos e terão desconto na conta de luz.

Esse novo conceito de espaço público prioriza  esconomia criativa, práticas sustentáveis e educação cidadã. Por meio dos dispotivos interativos, os usuários são estimulados às práticas saudáveis. Nas árvores Solarpalm, projetadas como as de verdade, o frequentador poderá recarregar aparelhos eletrônicos por meio de energia limpa.

A arquiteta explica que a gestão do espaço @3 nos primeiros 36 meses ficará sob sua responsabilidade. “Como é um espaço novo, é importante estar presente nesse período de adaptação dos moradores”. Ao término desse prazo, a gestão poderá ser ou não renovada”.

Ela ressalta que ainda não há previsão para a implantação do projeto no pedaço. “Ainda temos algumas etapas até que isso aconteça. Esse primeiro projeto foi desenvolvido a partir de estudos preliminares e bancado por nós mesmos com o objetivo de apresentar à prefeitura regional da Vila Mariana e à comunidade”.

Patrpicia afirma que o projeto já recebeu sinal positivo do poder público. “Tanto a prefeitura reginalcomo as secretaruas municipais, CET e orgãos de preservação do patrimônio, Compresp e Condephaat, adoraram o projeto”. 

O próximo passo será elaborar a versão final do estudo, o chamado projeto executivo. “Essa é a prioridade agora, pois é esse projeto executivo quem nos dará todos os detalhes da revitalização e o custo da sua implantação. Depois disso, começaremos a busca por patrocinadores para a concretização”.

Moradora da Granja Viana, na Zona Oeste, Patrícia diz ter uma forte ligação com a Vila Mariana. “Eu me formei na Belas Artes. Nesse período também morei na Rua Dr. Álvaro Alvim. Aqui é um local que me desperta muitas lembranças. Para mim, trabalhar nesse projeto tem sido, além de tudo, uma grande satisfação pessoal”.

Patrícia adianta que o projeto executivo foi apresentado ao Centro Universitário Belas Artes e à Faculdade ESPM. “Ambos se mostraram dispostos a colaborar. A participação das ins-tituições do bairro é fundamental, pois é um projeto que irá beneficiar a todos”, observa.

Durante a consulta pública, os moradores — cerca de 40 participantes — ficaram impressionados com o nível do projeto. Houve algumas dúvidas sobre o trânsito que ele poderá trazer, já que será preciso mudar a linha de ônibus que passa em frente às faculdades, na Dr. Álvaro Álvim. No entanto, foi explicado que ruas como a Pedro Morganti seria uma via alternativa e que não traria impacto nem grandes mudanças à linha de ônibus.