Sopas, caldos e papinhas…
Desde que o homem descobriu o fogo, os alimentos — antes colhido e comidos crus — passaram a ser grelhados e cozidos, e, assim, incorporados à alimentação. A cozinha, porém, só começou quando o homem — ou melhor, a mulher! — teve a ideia de colocar sobre o fogo, em um caldeirão dependurado, alguns tipos de legumes, verduras, carnes e água: o cozido!
A sopa pertence à mitologia da cozinha, é um prato comunitário em todo o mundo, comida de alma: que conforta, aquece e que nos traz a sensação de segurança. Quando era adolescente aprendi com minha mãe a fazer alguns tipos de sopas: canja de galinha, creme de legumes, sopa de macarrão… Desde pequena, curtia muito o ritual: descascar os legumes, fatiar, refogar, cozinhar e depois bater no liquidificador para virar um creme! E, depois voltar ao fogo, acertar o sal, sentir os aromas… Sopa sempre acompanhada de fatias de pão — delicia ver a família molhar o pão na sopa quente… Memórias de aromas e gestos…
Algumas sopas, principalmente a canja de galinha, são associadas à recuperação de uma doença. O que deu origem à frase: canja e cama! Para os bebês, as papinhas; sopas delicadas para a introdução de outros tipos de alimentos. Cada família tem suas versões de sopas, e muitos povos têm suas receitas típicas. No Equador, por exemplo, são mais de 365 tipos de sopas, sempre como prato de entrada no almoço e no jantar. Algumas sopas no México são chamadas de “levantar defuntos” de tão nutritivas e fortes — para tratar o doente, bastam poucas colheradas! —, como a Posole, com carne de porco ou frango, caldo e canjica.
As sopas evoluíram de simples sobra de legumes e verduras, feitas com caldo de carnes, para as mais sofisticadas: os consomes, veloutés e as sopas cremosas. Elas são parte da cultura gastronômica: no Brasil, a Bamba de Couve (farinha de milho e couve), o Caldo de Mocotó e de Feijão. Em Portugal, a Canja (que, segundo alguns especialistas, veio da Índia) e o Caldo Verde; na Espanha, o Gazpacho (com tomate, pepino, alho, pão e azeite, servida fria); na França, a Soupe à l’Oignon (à base de cebola), a Bouillabaisse (à base de legumes com frutos do mar frescos), e a Bisque (cremosa, à base de frutos do mar). Na Itália a sopa mais famosa é a Minestrone (com feijão, massas e legumes, comumente feita com linguiça); na China, a Won Ton ou Sopa de Ninhos de Andorinha (caldo com bolinhos recheados de hortaliças e carne); no Japão, o Missoshiro (caldo de peixe com missô), na Tailândia, o Tom Kha Gai (de leite de coco com frango, muito coentro e outros aromas); na Rússia, o Bortsch (de beterraba, servida quente ou fria) com creme azedo; em Cuba, a Sopa de Frijoles com Calabaza, (de feijões com abóbora)…
É no inverno que as sopas fazem mais sucesso; dependendo da composição, podem até substituir uma refeição. Adoro esta sopa de berinjelas – inusitada! -, pois traz o sabor picante da berinjela e do curry, numa combinação diversa.
Sopa de berinjela com curry e tomilho fresco
INGREDIENTES:
10 Berinjelas descascadas e fatiadas em cubos; 4 batatas descascadas e fatiadas em cubos; 1 cebola cortada em cubos, ½ xícara de azeite, ½ xícara de manteiga, 2 litros de caldo de legumes, 1 litro de água quente, 3 colheres de sopa de curry, 1 maço de tomilhos fresco, desfolhado, 2 xícaras de creme de leite fresco.
PREPARO:
Refogar em uma panela grande: azeite; manteiga, cebolas, berinjelas e batatas. Colocar o caldo de legumes e a água quente. Cozinhar, em fogo brando, até que os legumes estejam cozidos. Deixar esfriar e bater no liquidificador para virar um creme. Colocar o curry, o tomilho e sal a gosto. Por último o creme de leite. Servir com fatias de pão italiano
Maria Helena Serrano é chefe de confeitaria. Frequentou a École Lenôtre em Paris e é sócia proprietária da Quinto Pecado Doces, fábrica e loja de doces e salgados.
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