Mesa de Natal

Quando chega o mês de dezembro, minha memória afetiva traz um misto de ansiedade e lembranças saborosas dos natais de minha infância e adolescência, em Taiúva.

Todo ano, passávamos as festas de Natal na casa do meu tio mais velho, casado com minha madrinha, que me alfabetizou. Sua casa imensa, de fazenda, é perfeita para receber toda a família, com pé direito alto, janelas imensas, uma grande varanda e um quintal imenso repleto de árvores frutíferas: jabuticabeiras, mangueiras, jambeiros, videiras, abacateiros, nêsperas, tangerinas, fruta do conde, caquis… Recordo-me desses natais em detalhes, do perfume das noites quentes, do cheiro da dama da noite que tomava conta das ruas da pequena cidade.

A minha família caipira, de origens italiana, portuguesa e espanhola, servia de tudo na mesa de Natal: peru recheado, cabrito, frango, pernil e lombo de porco com abacaxi e a famosa leitoa à pururuca. Os pratos de acompanhamentos eram arroz branco, bacalhau com batatas ao forno, maioneses, torta de frango, farofas, salada de lentilha, macarronadas entre muitos outros pratos que não dávamos conta de comer. As carnes eram assadas no forno de barro no quintal, feito pelo meu tio para ocasiões especiais. Tudo mais era feito no fogão à lenha que ficava no centro da grande cozinha. 

Às crianças era reservada uma mesa imensa na cozinha, longe dos pais, “pois lugar de criança é com criança, e deixem os adultos se divertirem”! E lá esperávamos o fim do jantar para atacar as sobremesas, o melhor da noite!

A mesa de doces era encantada: além das frutas secas e castanhas, reinavam as frutas frescas — uvas deliciosas e frutas nativas da época. Era uma mesa tão colorida, tão perfumada, que até me emociono ao lembrar: Pudim de leite caramelizado, manjar de coco com calda de ameixas pretas, pavê de nozes, roscas doces recheadas com frutas cristalizadas, cocadas, doces de frutas em calda: goiaba, abóbora, cidra, mamão, figo, pêssego, e ainda o melhor doce de leite cremoso! Tudo feito pelas mãos encantadas de minha mãe, tias e avós.

Quando chegava a hora dos presentes do Papai Noel, que sempre era um dos meus tios, o mais gordo e engraçado… Eu, desde cedo, sabia que estavam me enganando, deixei de acreditar cedo na existência de Papai Noel… Sabia que era meu pai que ia comprar as bonecas na única loja de brinquedos da cidade. Mas para não decepcioná-los fazia de conta que acreditava.

Era a época mais esperada do ano, e depois vinham as férias escolares com a chegada dos amigos! Tudo inesquecível, como a receita de minha mãe que não podia faltar nesta mesa de gostosuras!

Manjar de coco com calda de ameixas pretas

INGREDIENTES

Manjar: 200 g de coco fresco ralado, 1 litro de leite, 8 colheres de açúcar, 6 colheres de sopa de amido de milho.

Calda: 500 g de ameixas pretas sem caroço/200 g de açúcar/200 ml de água

Em uma panela, colocar todos os ingredientes, levar ao fogo baixo, até que fique uma mistura grossa e as ameixas cozidas. Reservar

MODO DE FAZER:

Ralar o coco, dissolver com o leite e misturar com o açúcar e levar ao fogo, até ferver.

Colocar o amido de milho, mexendo com uma colher de pau, não parar de mexer para não empelotar, e quando começar a engrossar, desligar o fogo, despejar essa mistura dentro de uma forma em formato de peixe com cauda (esta forma minha mãe usa até hoje!).

Levar à geladeira e depois de 2 horas desenformar e decorar com a calda de ameixas pretas.

Maria Helena Serrano é chefe de confeitaria desde 1994, 

frequentou a École Lenôtre em Paris e sócia proprietária 

da Quinto Pecado Doces, fábrica e loja de doces e salgados. 

Rua Cel. Artur de Godoi, 12. www.quintopecadodoces.com.br

mariahelena@qpecado.com