Sinais dos Tempos na Patagônia

Sempre gostei de viajar para lugares exóticos, mas nunca tinha ido à Patagônia. E como estou me formando em Bacharel em Design Gráfico e o tema de minha Monografia de Conclusão de Curso era Turismo, tive a idéia de conhecer uma das mais belas regiões do planeta. Para ajudar, ganhei um livro chamado Além do Fim do Mundo, de Laurence Bergreen, que fala da circunavegação do espanhol Fernão Magalhães, que em 1520, a serviço da Espanha, descobre a passagem austral entre o Atlântico e o Pacífico. Não pensei duas vezes!

A rota para o Chile é uma das mais longas e interessantes. Saí dia 21 de dezembro e percorri 3.883 quilômetros em aproximadamente 55 horas, do Terminal Rodoviário Tietê a Santiago, capital chilena. Passei pelas cidades de Curitiba, Florianópolis, chegando à fronteira com a Argentina, em Uruguaiana, no Rio Grande do Sul. Daí pra frente, passando pelos Pampas argentinos até chegar à bela cidade de Mendoza aos pés da Cordilheira dos Andes, a paisagem é impressionante! Atravessando o Túnel Cristo Redentor, cruza-se a fronteira Argentina – Chile, chegando à primeira cidade chilena, Los Andes, pela Serra Caracol – uma estrada fantástica e perigosa.

Rumo à Patagônia, segui descendo pelo litoral, de Valparaíso à Concepción, da foz do rio Bio-Bio até a região dos Lagos e Puerto Montt, cerca de 600 quilômetros. Cruzando praticamente todo o território chileno cheguei a Puerto Yungay pela carretera Austral, que são 1.100 quilômetros desde Puerto Montt . Tive a oportunidade de conhecer lugares como a Laguna San Rafael, Parque Nacional Torres del Paine e cruzar o Estreito de Magalhães, finalizando minha viagem na companhia de pescadores e povo local.

O sul da Patagônia é um lugar tão fascinante quanto excêntrico: geleiras, fiordes e montanhas. Isolada do resto da América do Sul, é um santuário de animais e plantas de uma beleza incomum. Essa porção extrema do território chileno é uma espécie de ilha em termos geológicos, biológicos e culturais, encravada entre os campos de gelo impenetráveis da Cordilheira dos Andes e o gelado Mar de Drake – que separa a América do Sul da Antártica.

Para se ter idéia do isolamento da região, basta dizer que é impossível chegar de carro vindo de outros pontos do Chile. A não ser que se faça um longo desvio por território argentino, tendo de enfrentar trechos não pavimentados. Isto porque entre esse pedaço de terra e o resto do país há  um intervalo intransponível da Cordilheira dos Andes: o Campo de Gelo Sul.Trata-se do terceiro maior agregado de gelo de todo o planeta, depois da Antártica e da Groelândia. São nada menos que 350 quilômetros de extensão por mais de 40 quilômetros de largura, recobrindo os vales entre as montanhas andinas.Se por um lado o Campo de Gelo Sul isolou do mundo a província chilena de Magalhães e a região argentina da Terra do Fogo, por outro. é essa colossal geleira que gera algumas das paisagens mais lindas dos dois países. Ali, marcando o limite sul dessa barreira, está o Parque Nacional Torres del Paine – declarado Reserva da Biosfera pela Unesco em
1978 e considerado o “lugar mais bonito do mundo” em uma pesquisa internacional de turismo ecológico realizada nos anos 90.
O Campo de Gelo Sul e a Cordilheira Darwin garantem à Patagônia chilena uma profusão inigualável de glaciares. A tecnologia, por sinal permitiu descobrir que a poucos quilômetros de Puerto Natales fica um dos mais interessantes sítios arqueológicos da Patagônia. A gruta Milodon: bem no meio de uma planície, uma gigantesca caverna se abre para um bosque. Com 200 metros de profundidade por 80 metros de largura e 30 metros de altura, ela serviu de morada aos paleo-índios no final do período paleolítico. A tecnologia de radiação por isótopos atômicos revelou que os fósseis ali encontrados chegam a ter 12 mil anos e que o homem já habitava a Patagônia há mais de 10.000 anos. Desde essa época o clima mudou muito e ajudou seus descendentes a desbravar o território. Vestígios arqueológicos datados de 7.000 a.C. provam que o homem na Patagônia já era capaz de caçar e pescar.

Fiz uma trilha em meio às geleiras de Glaciar Perito Moreno, lado Argentino, de quase três horas. Foi como se tivesse andando em cima de um vidro! Você
caminha sob as veias da geleira, com a água correndo embaixo. No final da trilha, um baú de madeira nos aguardava. Os monitores, então,abriram o baú,
tiraram uma mesa, copos, chocolates e uísque. Pegarm uma travessa de alumínio, um bloco de gelo tirado das geleiras que, depois de quebrado, encheu nossos copos para brindarmos a inesquecível experiência! Os hotéis dentro das áreas turísticas são muito caros e a culinária local é basicamente de frutos do mar, como a centolla – um tipo de lagosta. As cazuelas, caldos quentes de carne, são essenciais para esquentar. Venta muito na região da Patagônia, o normal é 60 km por hora – o que aumenta e muito a sensação de frio.

A Patagônia tem mais de 800 mil quilômetros quadrados, área dividida entre Chile e Argentina e que representa 1/3 dos seus territórios, mas menos de
5% dos habitantes desses países vivem na região. Durante a aventura, notei algo estarrecedor: também a Patagônia esta sofrendo sérios problemas devido ao
aquecimento global: a cadeia de montanhas de gelo que tempera o clima da Terra está descongelando!!! No Glacial Balmaceda, um imenso lago surgiu do
derretimento das geleiras, é possível ver imensos blocos de gelo boiando ao sabor do vento. Fiquei muito impressionado e quero aqui sensibilizar e despertar a consciência ecológica de cada um. Tirei inúmeras fotos com o propósito de criar um documento a fim de levar às pessoas relevantes informações sobre a importância das geleiras para a humanidade.

Precisamos – urgente! – de uma nova visão de mundo.

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