Pelas cordilheiras do Peru

Sou peruano, nascido em Lima, capital do país. Sou um aventureiro, gosto muito de viajar e estou no Brasil há 3 meses, em São Paulo: dois meses na Vila Madalena e há um mês na Vila Mariana.

Decidi mostrar para os leitores do Pedaço da Vila alguns lugares do Peru pouco conhecidos pelos turistas, e que eu considero ainda mais belos e interessantes do que os tão conhecidos Macchu Picchu e Cusco.

Começo falando sobre a região de Huaraz, no estado de Ancash (Vale Callejón de Huaylas), a 8 horas de ônibus (408 KM), ao Norte da capital Lima. Também conhecida como a “Capital da Amizade Internacional”, está localizada nas margens do Rio Santa, entre a Cordilheira Branca ea Cordilheira Negra. 

Ali no alto das montanhas, a 3052 metros de altitude, é possível sentir o que aquecimento global está fazendo com os picos nevados do meu país. Eles estão derretendo e formando inúmeras lagoas azuis turquesa. 

Huaraz não era uma cidade turística, mas os novos lagos despertaram a curiosidade dos viajantes. Hoje o vilarejo dispõe de uma certa infraestrutura para recebê-los. 

No Centro da cidade, que tem uma população de cerca de 130 mil habitantes, fica a Praça de Armas de Huaraz, onde está uma igreja muito antiga e bons restaurantes que servem deliciosas trutas fritas ou ao forno. 

A cidade é conhecida pelo artesanato e pelo doce de leite — o melhor do país. Mais na periferia da cidade, há produtores de uma bebida feita de milho chamada chicha de jora, fermentada por 4 dias debaixo da terra, que é usada para beber e também para fazer várias comidas típicas.

O clima de Huaraz é quente e seco. A estação chuvosa é de outubro a abril com temperaturas que variam entre  5° a 18° C;  de maio a setem-bro é mais seco e é considerado  o “verão Andino”, com temperatura media entre 6° a 26° C.

Seguindo a serra de carro, em 25 minutos chegamos a outra região muito linda: Yungay, onde, em 1970, um grande terremoto, de magnitude 7.9, provocou uma avalanche do pico do cerro Huascarán (o mais alto do Peru)  destruindo toda a cidade e matando muita gente. 

O único local que não foi destruído foi o cemitério da cidade que fica em uma colina e que é reconhecido de longe por um Cristo Redentor. Ele foi construído onde antes era um cemitério pré-inca. 

Depois do terremoto, toda a região foi considerada sagrada, e as escavações foram proibidas no local. Toda a história daquela cidade, assim como os corpos das pessoas, os carros, as casas e até mesmo as barras de ouro do cofre do banco local estão guardados sob 5 metros de terra e pedras.

Também sobraram na cidade quatro palmeiras das muitas que existiam antes da tragédia, e foi ali, a poucos quilômetros, que um centro turístico foi montado para receber as pessoas que queiram conhecer as imensas lagoas que surgiram depois do terremoto. 

Hoje, a Nova Yungay está localizada a 1km ao norte da antiga Yungay. É um pequeno povoado formado com os poucos habitantes que sobreviveram e seus descendentes. Há um passeio noturno no Campo Santo Yungay, um parque criado sobre o lugar em que ficava a antiga cidade, e onde se faz uma trilha guiada. Quando eu fiz essa trilha, encontrei ossos no meio do caminho. Bem sinistro… Mas a região é belíssima e o céu, à noite, muito estrelado!

Outro lugar pouco conhecido pelos turistas e que considero maravilhoso é a província de Huari e o distrito Chavin de Huantar. Lá existem várias ruínas e sítios arqueológicos onde os povos da cultura Chavin de Huantar viviam, uma civilização pré-inca muito bem preservada pela população atual. A cultura Chavín, que teria surgido por volta de 1500 a.C, tendo sua hegemonia durado até 500 a.C., dominou uma imensa área do território e se estendeu além das atuais fronteiras com o Equador e a Bolívia. 

O domínio que o Chavín exercia sobre outros povos era religioso pela habilidade de seus xamãs em conversar com os deuses e prever o futuro. Os sábios de Chavín tinham um vasto conhecimento em astronomia e, através da observação das estrelas, planetas e da posição do sol, previam com precisão as estações de seca, de chuva, se o ano seria bom ou não para colheita e outros sinais essenciais para a sobrevivência na época.

Dentro do Centro Histórico, onde suas ruínas  foram declaradas Património Mundial da Unesco em 1985, há um museu com muitas cerâmicas que simbolizam o jaguar e a serpente, símbolos pré–incas. 

No sítio arqueológico há uma cidade subterrânea onde aconteciam sacrifícios de crianças e animais. Já naquela época, eles tinham um sistema de ventilação que tornava agradável a vida embaixo da terra. Há também as ruínas de um castelo, que antigamente era todo coberto de ouro, e que durante a coloni-zação foi saqueado pelos espanhóis.

A cultura de Ancash é preservada pelas novas gerações, que são educadas para que o conhecimento não desapareça. Esse povo tem a honra de pertencer a uma cultura que respeita a natureza, especialmente a terra, chamada em quéchua (segunda língua do Peru), de “pachamama”, mãe terra.

Embora meu país ainda tenha muita desigualdade social, sua natureza é exuberante e sua cutura é preservada. Existem inúmeros lugares que poucos, ou quase nenhum turista, conhecem! Então, antes de viajar para o Peru, pesquise e descubra paisagens deslumbrantes.

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