O gosto da Tunísia
E lá estava eu no aeroporto esperando, esperando, esperando… Até que cinco horas depois recebi o passaporte com meu visto de última hora! Confesso que fiquei bastante apreensivo ao chegar à Tunísia de repente, na aventura de um trabalho inesperado. Mas, logo que saí, um simpático sorriso me acomodou num carro Mercedes e passei a relaxar observando Tunis. Uma cidade cosmopolita e caótica com suas construções acinzentadas, onde se vê cafés – do tipo parisiense – com mesas na calçada, pessoas conversando, agitação, mas com um burburinho diferente.
Nas ruas, uma população de pele morena com traços marcantes e vestuário ocidental -confesso que de mau gosto. Homens quase sempre acompanhados de homens, bebericando seus cafés frios – literalmente – e acompanhados do tradicional narguilé – cachimbo gigante cuja fumaça passa por um líquido perfumado que aromatiza o tchitcha, tradicional tabaco misturado com mel. As mulheres também fazem sua roda, bem mais recatadas e silenciosas. A Tunísia é o país mais liberal dentre todos os do mundo árabe-mulçumano. Há 50 anos o então líder Habib Bourguiba aboliu a poligamia e instituiu o divórcio. A mulher ganhou o direito ao voto e pôde se desfazer do hijab – vestuário tradicional muçulmano. Além disso, Bourguiba fixou a idade mínima para o casamento e passou a exigir o consentimento de ambos os cônjuges. Mas a lei não muda costumes de séculos, pois mesmo proibido, atualmente, metade delas voltou a usar o hijab.
Cartago, o atual bairro presidencial de Tunis, era a capital do mundo antigo, fundada pelos Fenícios. Um passeio imperdível. A cidade, que disputava com Roma o controle do Mar Mediterrâneo, foi arrasada em 146 a.C. e reerguida no ano I a.C. pelos romanos. Hoje é um bairro chique com seus palacetes que convivem harmoniosamente com os sítios arqueológicos e turístico. O bairro é considerado patrimônio mundial pela Unesco. Ali se encontra a Catedral de São Luís, na base do Monte Byrsa, de onde, de cima, é possível contemplar uma bela vista da cidade.
A 10 km de Tunis, está Sidi Bou Said, um pequeno paraíso à beira do mediterrâneo, nas cores do mar e do céu. Suas construções são imaculadamente brancas com portas de um azul radiante. É fácil perder-se neste labirinto. É a aldeia dos poetas, músicos e artistas, abençoada por São Luís e Santo Bou Said que contagia pela placidez e serenidade.
Kelíbia, pequena e acolhedora vila de pescadores, onde por um ano trabalhei, tem areias brancas finíssimas e um mar com matizes verdes e azuis. No verão, a brisa nos contempla com o aroma dos jasmins e na primavera com uma mistura de especiarias e lavandas.
Os habitantes de Kelíbia são simpáticos e amáveis e me receberam com cordialidade e certa desconfiança dissipada em pouco tempo. Quando me dei conta, já tinha grandes amigos que me acolheram com o coração quente e aberto. Só não fale mal de Ben Ali, no poder desde 1987. Conheço histórias de que até uma observação bem-humorada pode trazer dor de cabeça e cana!
Os museus guardam preciosidades. O Museu Nacional abriga uma coleção de objetos recolhidos de sítio arqueológico em algumas áreas de escavações. No Museu do Bardo, estão uma das maiores coleções do mundo de mosaicos romanos, bizantinos e cartagineses.
Agora, para quem gosta de compras, os Souks, típicos mercados de compra e venda de especiarias a mobiliário, estão por todo país. Aprendi num deles uma tradição árabe que faz muita diferença na hora das compras: pechinchar! Trouxe um narguilé que de 150 dinares, saiu por 25 – o dinar é a moeda corrente da Tunísia, 1,2 dinar equivale a 1 dólar.
A Tunísia tem o tamanho da metade do estado de São Paulo e concentra todas as paisagens possíveis: solos lunáticos feitos de pedras que servem como moradia para resistir ao sol de 45º de dia, e ao frio de gelo, à noite a desertos com seus oásis cheios de palmeiras e laguinhos. Há também as famosas crateras salinas – uma crosta de sal cristalizada branca e brilhante – que nos causam alucinações e miragens, além das imensas plantações de olivas e especiarias.
De tudo na Tunísia experimentei um pouco. Língua, música, costumes, danças, paladares, cheiros, sensações difíceis de descrever e de esquecer.
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