Atenas: um museu a céu aberto

O guia de viagens Lonely Planet fala que Atenas é “um museu a céu aberto”. A comparação pode até parecer clichê, mas não deixa de descrever a mais pura verdade. É só caminhar um pouco pelas ruas centrais da cidade e ter um pequeno vislumbre da onipresente Acrópole, ou cidade alta, que já se chega a essa conclusão.

Atualmente, a Acrópole é patrimônio da Unesco. Seu edifício mais conhecido é o Partenon, que ainda está sendo restaurado. Partenon quer dizer apartamento da virgem e foi dedicado à deusa Athena Parthenos. Tinha um duplo propósito: servir para guardar a grande estátua de Athena e como Casa do Tesouro. A estátua de Athena Polias era considerada uma das maravilhas do mundo antigo. Criada por Fídias, o escultor grego mais famoso da Antiguidade, foi levada para Constantinopla séculos depois, onde desapareceu. 

Há uma cópia romana da estátua exposta no Museu Arqueológico Nacional, que fica um pouco mais distante do centro, mas que vale muito a pena visitar. Lá estão expostas, entre outras obras conhecidíssimas, a máscara atribuída a Agamemnon, filho do rei Atreu de Micenas e irmão de Menelau (aquele da Guerra de Troia), e as esculturas cicládicas, que inspiraram artistas modernos, como Picasso, e que me remeteram ao livro Eram os deuses astronautas? 

Mas voltando ao Partenon, chamam a atenção no edifício os ornamentos existentes em seus frontões, métopas e frisos. Em um dos frontões triangulares, foi feita a representação do concurso entre Athena e Poseidon para ganhar a proteção da cidade. Segundo a mitologia, aquele deus que desse o presente mais útil para a cidade, venceria a competição. Poseidon deu uma fonte de água salgada, enquanto Athena deu uma oliveira. Ganhou a deusa da sabedoria. No outro frontão, está representado o nascimento de Athena a partir da cabeça de Zeus.

Por sua vez, nas métopas encontram-se cenas de batalhas, incluindo a luta entre os deuses olímpicos e os gigantes, a batalha de Teseu e os jovens atenienses contra as amazonas, o saque de Troia e a luta entre os lápitas e os centauros. Já nos frisos jônicos, foi feita a representação da Procissão Panatenaica, clímax do Festival Panatenaico que venerava a deusa Athena. Do que sobrou, grande parte foi levada por Lorde Elgin, embaixador britânico, para o Império Otomano, e se encontra, hoje em dia, em exposição no British Museum. A Grécia tenta há anos a devolução dessas peças, sem sucesso, na polêmica coconhecida como Parthenon Marbles.

Do lado oposto do Partenon está o Erecteu, construído no local mais sagrado da Acrópole, onde teria ocorrido o concurso entre Poseidon e Athena. O edifício é ladeado pelas esculturas das Carátidas e pelo Templo de Poseidon e, na frente dele, encontra-se o presente de Athena: uma oliveira. As estátuas originais, com exceção de uma que foi levada pelo Lorde Elgin, estão em exposição no Museu da Acrópole, que fica próximo da entrada do sítio arqueológico e que também merece ser visitado.

Ainda dentro do complexo da Acrópole, na subida para a cidade alta, encontra-se o Odeon de Herodes Atticus. Na Antiguidade, odeon era um espaço menor que os teatros, próprio para apresentações musicais. Vale muito a pena checar a programação e assistir a um espetáculo no local, principalmente entre julho e agosto, quando acontece o Festival Helênico. 

Também na parte baixa do complexo, encontram-se as ruínas do Teatro de Dionísio, o primeiro do mundo. Nele era realizado o Festival da Grande Dionisíaca. Impossível não imaginar as comédias de Aristófanes e as tragédias de Ésquilo, Sófocles e Eurípedes sendo apresentadas no local. 

Perto da Acrópole está a Ágora, o centro administrativo da antiga Atenas. Ela pode ser acessada pelo Areópago, um enorme monólito de mármore medindo 115m de altura, ou dando-se uma volta (assim mesmo!) pelo novo calçadão que circunda a Acrópole, construído onde antes era uma movimentada avenida.

Dentro da Ágora está o Templo de Hefesto, o templo dórico mais bem preservado de Atenas e que é, para mim, o mais bonito da cidade. Hefesto, na mitologia grega, era o deus da tecnologia, dos ferreiros, dos artesãos, dos escultores, dos metais, da metalurgia, do fogo e dos vulcões. Também é bem imponente a Estoa de Attalos. Estoa é um caminho coberto ou um pórtico. A de Attalos é considerada o primeiro shopping. No local, há outra estoa, a de Zeus Eleutherios, um dos lugares onde Sócrates expunha sua filosofia, a Igreja dos Apóstolos Sagrados, construída no século X para comemorar os ensinamentos de São Paulo na Ágora, o Tholos, onde as cabeças do governo se reuniam. E o Novo Bouleuterion (Casa do Conselho), onde se reunia o Senado.

Outras ruínas ficam lá por perto, como a Ágora romana, financiada por Júlio César, e a Torre dos Ventos, construída no século I d.C. pelo astrônomo sírio Andrônico. O Templo do Zeus Olímpico, que também não fica longe, trata-se do maior templo de Atenas e só foi terminado pelo imperador romano Adriano em 131 d.C. Era formado por 104 colunas coríntias de 17m de altura e diâmetro na base de 1,7m, sendo que apenas 15 delas ainda remanescem. E por falar em Adriano, é ele quem dá nome ao arco que fica perto do Templo do Zeus Olímpico e a uma biblioteca, também próxima. 

Por sua vez, o Estádio Panatenaico, construído durante o século IV a.C. para as competições com corredores nus, foi restaurado para a Olimpíada de 1896, a primeira da era moderna. Foi nele, aliás, que o brasileiro Vanderlei Cordeiro entrou fazendo seu aviãozinho na maratona da Olimpíada de 2004. 

Além dessas ruínas principais, há várias outras espalhadas pela cidade, sempre acompanhadas de placas explicativas. 

Mas nem só de história antiga vive Atenas. Apesar da crise econômica que assola a Grécia, os gregos em geral e os atenienses em particular não se deixam abater. É só sair por um de seus bairros e ver a animação das pessoas que já se percebe isso. Atenas continua sendo uma cidade fascinante!

1 comentário em “Atenas: um museu a céu aberto

Deixe comentário

Seu endereço de e-mail não será publicado. Os campos necessários são marcados com *.