Bairro forte, Planeta saudável

Diversificar a economia, as relações sociais e os ecossistemas da Vila Mariana são receitas de sustentabilidade

Quando eu ainda estava no colégio, lembro-me de ter aprendido nas aulas de geografia que cada cidade ou região tem uma atividade que é considerada a base da economia local. Por exemplo: em Criciúma, Santa Catarina, a base da economia é a mineração do carvão, enquanto que no interior de São Paulo temos várias cidades que giram em torno dos canaviais.

Se pegarmos o mapa do Brasil, veremos que cada região tem um perfil econômico pouco diversificado, formado por monoculturas agrícolas, indústrias de extração de matérias-primas ou centros de negócios, caso do eixo Rio-São Paulo. Essa especialização, ao contrário do que se imagina, traz uma série de problemas ambientais (e mesmo econômicos) para o país. Para citar alguns deles, basta lembrar da infra-estrutura necessária para transportar madeira da Amazônia para o sudeste brasileiro, principal centro consumidor do recurso. Ou da logística criada para suprir as grandes cidades com alimentos vindos dos quatro cantos do país – isso sem falar nas inúmeras represas construídas no cinturão das metrópoles para abastecê-las com água retirada de pequenas cidades. Enfim, são todos exemplos de como fica complicado e custoso esse leva-e-traz de produtos e serviços cruzando todo o país.

Uma rápida observação da natureza nos leva a perceber que o equilíbrio está na diversidade local de espécies animais e vegetais. Quanto maior a diversidade local, mais saudável será aquele ecossistema. Da mesma forma, essa lógica natural funciona também para as relações humanas que dizem respeito à economia, ao meio ambiente e à sociedade.

E o que isso tudo tem a ver com a Vila Mariana? Vejamos. Imagine se pudéssemos produzir e administrar no nosso bairro tudo aquilo de que precisamos no nosso dia-a-dia: alimentos, água, estações de energia e tratamento de esgoto, trabalho, amigos, lazer, cultura, promoção da saúde, gestão do lixo, espaços educacionais…

O caminho para a sustentabilidade, condição tida como fundamental para a sobrevivência da nossa espécie no planeta passa necessariamente por essa reestruturação do espaço urbano, que deve buscar condições para suprir suas necessidades localmente, mantendo e fortalecendo sua rede socioambiental – seu verdadeiro ecossistema – e evitando, assim, danos ambientais e sociais para além de suas próprias fronteiras. Nesse sentido, cada um de nós pode fazer um pouquinho pelo bairro. Como consumidores que somos, podemos dar preferência ao comércio do bairro, aos serviços do bairro, aos teatros, cinemas e museus da Vila, aos professores, dentistas e médicos. Como cidadãos, podemos valorizar nossos vizinhos, nossos parques e praças, nosso governo local, nossas ruas e avenidas, espaços e serviços públicos.

Um pouco de atenção nos faz refletir durante os pequenos e importantes atos do cotidiano. Como quando escolhemos um brinquedo para nossos filhos e pensamos: o que pode ser mais sustentável, comprar aquela boneca feita na China por trabalhadores precários e trazida de navio para o Brasil, ou aquela feita a mão pela cooperativa de artesãos da Vila, aquela que fica a poucos quarteirões da sua casa? Se você conseguir imaginar que tipo de produto tem mais a ver com o mundo que você quer deixar para os seus filhos, a resposta virá fácil, fácil…