Memórias recentes
No mês em que o Pedaço da Vila comemora 19 anos de existência, recordamos de fatos e fotos que passaram
por nossas páginas. Histórias, personalidades e paisagens que marcaram nossa história
Manequinho Lopes
Dona Francisca Lopes de Oliveira Martines foi entrevistada em 2003, na época com 94 anos de idade. Linda, lúcida e muito atenciosa, ela nos contou sobre o pai, Manuel Carlos de Oliveira — mais conhecido como Manequinho Lopes (1872-1938).
Morador da Rua Morgado de Mateus, Manequinho Lopes era jornalista científico, entomologista — trabalhou no Instituto Biológico no combate da broca do café. Era um defensor das áreas verdes da cidade e, em 1927, foi nomeado pelo prefeito José Pires do Rio para chefiar o Departamento de Matas, Parques e Jardins.
Com os dois viveiros da cidade desativados, Manequinho Lopes, conhecedor da imensa área verde de seu bairro — que havia sido pela primeira vez cogitado a se transformar em um parque municipal pela prefeitura, — decidiu implantar um modesto viveiro no local.
Foi um trabalho árduo. Primeiro cuidou do saneamento, plantando nos terrenos tortuosos e pantanosos eucaliptos australianos para eliminar o excesso de umidade. Lá cultivou diversas espécies ornamentais de árvores destinadas à arborização da cidade. “Ele fornecia as árvores gratuitamente”, contou Dona Francisca.
Mais tarde esses terrenos já secos formaram o Parque Ibirapuera e o antigo viveiro foi batizado com o nome de Manequinho Lopes em sua homenagem.
Dona Francisca (1910-2008) não está mais entre nós, mas suas lembranças estão mais vivas do que nunca!
Resquícios da Villa Kyrial
Na edição no 37, de 2005, mostramos aos nossos leitores que nem tudo foi perdido da Villa Kyrial, uma chácara do senador José de Freitas Valle, na Rua Domingos de Moraes, 300, que ia até a Rua Cubatão. O local era um dos mais importantes centros culturais da época.
Freitas Valle foi um dos maiores mecenas da República Velha e recebia em sua casa notáveis e promissores artistas e intelectuais da época, como Lasar Segall, Oswald de Andrade, Anita Malfatti, Guilherme de Almeida, entre muitos outros. Foi na Villa Kyrial que a Semana de Arte Moderna de 1922 foi idealizada.
Freitas Valle faleceu em 1958 e a propriedade foi vendida em 1961. No entanto, duas belas casas, de tijolos à vista e telhado normando, construídas por Freitas Valle para as duas filhas, em 1935, ainda permanecem de pé. Localizadas na Rua Dr. Eduardo Martinelii (nos 60 e 74), nome do médico de Freitas Valle, elas guardam os resquícios da Belle Époque.
A Vila dos Escravos
No mês da Consciência Negra, resgatamos uma triste história sobre os escravos em nossa região. Em 1700, a Vila Mariana era conhecida como “Meio Caminho do Carro”, que começava no Largo da Pólvora, na Liberdade, e ia até o Bosque da Saúde.
Era a região onde os escravos fugidos se abrigavam e formavam seus quilombos chamados de Caaguaçu (mato grosso), nome do córrego que dividia as terras e que hoje passa por baixo da Rua Maestro Callia.
A atual Praça Oswaldo Cruz era conhecida como Chácara do Quebra Nádegas, onde os escravos recebiam chicotadas. Era um local tão isolado que os senhores de escravos o consideravam ideal, pois ali ninguém escutaria os gritos dos castigados. Há ainda documentos que mostram que uma parte da Rua José Antônio Coelho serviu de cemitério para os escravos.
Com a Abolição da Escravatura, muitos negros foram trabalhar no Matadouro Municipal “para fazer o serviço pesado”, contava Seu Chiquinho Villano que dizia que negros e italianos viviam num ambiente colaborativo e que muitos eram considerados da família. “Meu avô recordava que aprenderam a falar italiano para se comunicar com os imigrantes recém-chegados!”.
Mural apagado
Um desconhecido paulistano, Eduardo Kobra, começou a grafitar em 1987, e, em 1995 criou o projeto “Muro das Memórias” em que reproduzia fotos antigas de São Paulo em tons de sépia ou em preto e branco, apresentando um estilo de grafite diverso daquele que se espalhava pela cidade.
Em 2009 (edição no 80), ele pintou um muro de 1.000 m² na Av. 23 de Maio, ao lado do viaduto da Tutoia, para comemorar o aniversário da cidade.
Na época, ele informou ao Pedaço da Vila que realizar um mural em uma das avenidas mais importantes de São Paulo não foi nada fácil. O contato só aconteceu graças a simpatia do então secretário das subprefeituras Andrea Matarazzo. “Ele analisou todos os detalhes da obra e só então aprovou o grafite”, contou Kobra, que bancou a pintura do próprio bolso.
O mural, que mostrava a cidade de São Paulo em 1920, enfeitou a avenida até 2017, quando o prefeito Dória decidiu trocar os grafites da avenida pelo jardim vertical. Por ‘engano’ os funcionários da prefeitura pintaram o muro de cinza e a Vila Mariana deixou de abrigar a obra de um dos mais importantes muralistas da atualidade.
Edição 199/2019
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