Falso Brilhante

A sensação começa no aeroporto, na hora do embarque. O traje das comissárias de bordo, arrematado por um chapéu coco vermelho, de onde pende um meio lenço, tentando esconder metade do rosto, procura fazer uma ponte fashion entre o que o senso comum define como Oriente e Ocidente. Também a mistura étnica já se faz presente durante o voo, com mulheres asiáticas, africanas e europeizadas servindo as várias refeições da viagem interminável. A chegada não deixa dúvidas. Adentramos um mundo de ficção, espécie de parque temático ou ilha da fantasia onde o dinheiro compra tudo. No saguão principal do aeroporto, colunas de arenito emitem faíscas cintilantes. Brilho nouveau riche, aliás, será parte do cardápio desta cidade-estado que faz parte dos Emirados Árabes Unidos. A limpeza asséptica estende-se do teto ao assoalho. Na fila do passaporte, confirma-se a impressão da artificialidade, marca registrada desta invenção que se quer pós-moderna. Os jovens que manejam os carimbos vestem impecáveis túnicas brancas, como se tivessem acabado de sair da lavanderia, num cenário perfeito para um comercial de sabão em pó. Tão engomados são as cafias na cabeça, em contraste com a barba negra cerrada, que o cérebro custa a aceitar como verídico o que se enxerga.
Lá fora, esqueça a muvuca acolhedora de um país árabe. Enfileirados, os táxis zero quilômetro são dirigidos por homens ou mulheres em corretíssimos uniformes igualmente recém-passados a ferro. Nem uma prega fora de linha no automóvel de ar condicionado nas últimas. Cadê os carros usados de um ano atrás? Decerto exportados para os irmãos menos afluentes, pois aqui não cabe a pátina do tempo. No trajeto para o hotel, os famosos arranha-céus “mais altos do planeta” capturam a vista e causam estranheza. Eles crescem como cogumelos no horizonte inóspito. A motorista filipina, no seu inglês ininteligível, tenta obter informações sobre o caminho com o gerente de origem hindu. Nada se compreende e eles tampouco se entendem. Eu ainda não sabia, mas aquilo era uma amostra da falta de identidade, produto fora do mercado em Dubai. Ao invés de um caldeirão cultural, em que as diversas raízes se interpenetram e se transformam, formando um atraente mosaico, nota-se um emaranhado de nacionalidades desconectadas entre si, que não conversam e não se comunicam. Pela proximidade geográfica, migrantes das áreas pobres da terra afluem para este trecho do Golfo Pérsico, que não passava de uma pequena aldeia com 20 mil habitantes vivendo do comércio até meados dos anos 1960, quando o petróleo jorrou. Trata-se, evidentemente, de um superlativo nunca citado, o das massas mais miseráveis da Índia, Paquistão e Filipinas que fogem da indigência para formar um exército de mão de obra não qualificada nesta máquina financeira. Eles habitam guetos – ou pelo menos assim suponho, pois tal qual uma Brasília do século XXI, ali os empregados existem apenas para servir, refluindo para a invisibilidade de cidades-satélites após o expediente. Dizem que moram em containers, ardendo no calor de quarenta e cinco graus, mas isso é um assunto que escapa da pauta. Porém, nem com o maior dos esforços se consegue pensar numa passeata, greve ou paralisação de trabalhadores. Porque eles não formam uma nação, não possuem um idioma nem laços em comum. São meros braços hiper explorados a desempenhar funções subalternas neste aglomerado que se impõe como uma cópia futurista e desfocada de Las Vegas.
Fruto do voluntarismo dos xeiques da dinastia Al Maktoum, no poder desde o século XIX, Dubai esbanja torres envidraçadas, praias e ilhas artificiais, resorts e shoppings gigantescos, com badaladas marcas internacionais. Tudo induz ao consumo de luxo, passando a ideia de que os desejos mais extremos serão saciados, num turbilhão hedonista levado às últimas consequências. Mas se engana quem confunde tal frenesi com modernidade. Ali impera uma monarquia ditatorial, fincada numa leitura estreita do islamismo, que desrespeita os direitos humanos, ignora a liberdade de expressão, oprime a mulher, proíbe relações sexuais fora do casamento e mantém a população sob rígido controle. Nesse contexto, não é difícil imaginar os bastidores de lavagem de dólares, prostituição, contrabando de armas, pedras e outros males a sustentar a voracidade do consumismo emergente.
No alto de um edifício, a efígie de dimensões exageradas de Mohammed bin Rashid Maktoum, que acumula as funções de primeiro-ministro e vice-presidente, vigia como o Grande Irmão de George Orwell. Culto á personalidade? Ninguém parece se importar com tais detalhes em meio a tantas lojas, restaurantes e locais de diversão. Quer um zoológico com pinguins em carne e osso? Vá o Dubai Mall. Sonha com uma pista de patinação no gelo ou até rampas de esqui com neve? No Emirates Mall elas emulam a experiência de um passeio nos Alpes suíços que se erguem até o infinito do… teto de plástico, à la Truman show.
Do ônibus vermelho, cópia dos congêneres londrinos, turistas deslumbrados admiram a paisagem urbana que se espalha entre viadutos, pontes e auto-estradas. Não há ruas, esquinas ou calçadas em que a gente caminha e se encontra. As altas temperaturas e a areia que cisma em aflorar nos terrenos ainda desocupados expõe a face real desta shopping-city que nega a natureza e a sabedoria ancestral dos povos do deserto, em vez de fazer delas sua aliada. Com exceção de uma ou outra ousadia arquitetônica digna de nota, o que se vê é um enfiado de construções sem estilo, de aparência enganosa, que não esconde o aspecto fake nem a falta de bom gosto e charme, num vácuo de qualquer coisa semelhante ao que chamamos de “espírito”. Indivíduos deslocados, expatriados, perdidos e sozinhos nesse caos aparentemente ordenado de um sistema que pulou direto da vila comunitária de beduínos para o capitalismo do terceiro milênio – ou o que há de pior nele.
Não por acaso, no avião regressando de Amã, capital da Jordânia, cuja balbúrdia aparece como um bálsamo refrescante, pergunto a um passageiro de origem inglesa como ele consegue viver em Dubai. A resposta, dada após uma breve hesitação, vem afiada o bastante para compor o retrato que tão bem define este simulacro de sociedade: “O dinheiro”, diz ele, com um brilho falso nos olhos claros.
* Marcia Camargos é jornalista e escritora com pós-doutorado em história pela USP. Tem 22 livros publicados, entre eles, O Irã sob o chador e Villa Kyrial.
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